sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Com açúcar, com afeto

2008 foi muita informação


Baita preguiça de escrever sobre certas coisas, misturada a uma grande vontade de escrever qualquer coisa.

Dez festas em sete dias, trinta horas sem comer, DJs, enfermeiras e tequileiras por todos os lados, amigos indo e vindo, patrões enlouquecendo e um dos melhores climas de trabalho que já tive.

Meu mundo virando sépia toda manhã e me lembrando a cada dia que as coisas que escolhi pra 2008 se concretizaram antes do ano acabar.

Construiu uma vida e no 360º ela descansou.

Fica um vazio de quereres para o ano que está pra vir.

Que siga o embalo deste que termina abrindo os caminhos dos Filhos-do-Vento.


. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .



Família vai bem. O reizinho nunca esteve tão maduro em seus pensamentos e começa a descobrir as delícias das palavras lidas antes de dormir.

Encontros casuais (ou não) deixam os dias mais agitados, mas o que eu quero mesmo é a tal tranquilidade.

Falta coragem de pegar no telefone e fazer aquele convite. Quem sabe até a folga acabar. Enquanto isso, o principezinho vai me ensinando que flores não foram feitas para serem compreendidas.

Hoje não tem música.



"Não devia tê-las escutado", confessou-me um dia, "não se deve nunca escutar as flores. Basta admirá-las, sentir seu aroma. A minha perfumava todo o meu planeta, mas eu não sabia como desfrutá-la". (...)
Confessou-me ainda:
Não soube compreender coisa alguma! Deveria tê-la julgado pelos seus atos, não pelas palavras. Ela exalava perfume e me alegrava... (...) Deveria ter percebido sua ternura por trás daquelas tolas mentiras. As flores são tão contraditórias! Mas eu era jovem demais para saber amá-la."
(O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry)

domingo, 7 de dezembro de 2008

Let's Rock

Com sabor de travessura de criança


Saudades de babacas que sabem de amor, quase igual a mim. Que andei um tempo por aí, achando que sabia tudo. Achando que o acaso não existia, acreditando em sensações como se fossem sentimentos.

Aos poucos, a gente aprende a hora de parar.

Tá certo que algumas vezes é bom tomar um porre, mas passa a ser voluntário. Passa a ser uma escolha dentre tantas outras. Parar por aqui ou seguir adiante.


E reaprender, a cada dia, que pra tudo tem um tempo. E pra muita coisa, paciência.


Meus afetos se acumulam como os papéis na cabeceira. Depois de uma boa ressaca, é hora de recomeçar. Mas têm questões que dão uma mega preguiça de resolver.


"E o que você vai fazer quando tiver 50 anos e uma lista de afetos acumulados?"


Faltam vinte e seis anos pra isso. Quando chegar mais perto eu penso melhor.


Por hora, aquietar o coração é importante, companhia na cama de casal também. Se divertir é fundamental, mas tem riscos que eu prefiro não correr.


Eu digo que sou egoísta e as pessaos teimam em não acreditar.




"Vão as minhas meninas
Levando destinos
Tão iluminados de sim
Passam por mim
E embaraçam as linhas
Da minha mão"
(Chico Buarque)

sábado, 29 de novembro de 2008

This is not a Love Song

Um elogio ao caos


Talvez seja uma impressão antiga, dessas que vão se clareando conforme os anos passam e a tal "maturidade" começa a aflorar, mas sempre tive a sensação de viver em meio a uma grande desordem.

Desordem de pensamentos, de atitudes, de morais que se chocam e códigos de ética divergentes. Desordem dos acontecimentos em tempo integral. E essa estranha mania de procurar motivos para tudo.

Se algo dá certo:"Graças a Deus". Se os objetivos não são alcançados: "Deus tem outros planos para você". Se sai tudo errado: "É provação divina".

E nessa história de responsabilizar Deus por tudo, a síndrome de Polyana vai se alastrando, a venda de livros de auto-ajuda se multiplicando e os discursos feministas perdendo completamente seu sentido.

E eu ainda tenho que ouvir por aí que tive sorte. Sorte por não deixar que meus problemas se sobreponham às minhas alegrias, sorte por ainda conseguir sorrir mesmo estando no olho do furacão, sorte por ter tesão no que eu faço.

Talvez o caminho seja exatamente o inverso. Tenho tesão em tudo que faço, porque não consigo fazer nada sem tesão. Não rende, não me empenho e tenho um tanto de perfeccionismo suficiente pra pensar em pular fora de qualquer coisa antes de queimar meu filme.

A sorte de cada um não é dosada na hora que você nasce, é construída pelo caminho. "O caminho se faz caminhando". Livre-arbítrio é poder escolher as companhias e os percursos.

Sorte é perceber, o quanto antes, que tudo que te acontece é resultado das suas próprias escolhas. Não escolher pode ser a mais drástica delas.

A vida é um emaranhado de acasos que insistimos em dizer que não existem, por pura covardia de legitimar o caos.




"Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado"
(Chico Buarque)

domingo, 23 de novembro de 2008

O Pôr-do-sol é de quem vê

Woody Allen é melhor em Barcelona do que em NY


É quase uma unanimidade, pelo menos entre meus amigos mais próximos.

Ah o verão...ainda escrevo uma tese sobre as energias que circulam nas partes do planeta que ficam mais inclinadas ao sol, durante certa época do ano. Alguma coisa deixa os corpos e mentes um pouco mais libertos nessas noites amenas. E quando ele acaba... Já diria meu amigo Chico - "tantos passarão...eu passo".

E Allen conseguiu passar isso muito bem. Bem até demais. No meio das escolhas, dos impulsos, das atitudes racionais e das paixões explosivas. Me senti um tanto Cristina. "Não sei bem o que eu quero, mas quase sempre sei o que não quero". Um tanto Maria Helena. Porque tem relações que não se resolvem, mesmo tendo tudo pra dar certo. Um tanto Vicky, com essa mania louca de achar que pode escolher os próximos passos das próximas relações. Só não me senti nada Juan Antonio, até porque, sendo disputado por tantas beldades, onde é que aquele homem tava com a cabeça???

Ando precisando de fins de semana em Oviedo. Apesar do último ter sido quase perfeito.

Dias intermináveis, tardes longas, shows excelentes, tempo para todos os tipos de amigos, para curtir casa, praia, lapa, botafogo, música, circo, teatro, cinema e terminar com almoço em família e longas conversas ao telefone.

Se essa tal perfeição existisse, era bem capaz de ser algo próximo ao fim de semana prolongado. Tirando tintas erradas e choros ao telefone.

JF só ia me ver no Natal, mas não consigo resistir a um apelo do pequeno. Ainda mais sendo o primeiro, em tantos meses.

Pode fazer bem. Para a cabeça e para o espírito. Já disseram por aí que é melhor ser a pessoa errada na hora certa. Confesso nunca ter tido muito inclinação a ser certinha.

"Você sabe o mal que se esconde no coração dos homens? O Sombra sabe!"

Essas conversas de família rendem várias piadinhas.

"Qual foi a última vez que você viu o seu pai?"

Cineastas por todo o mundo andam bem inspirados.

Ainda tem uns cinco filmes em cartaz que eu quero ver.



"
A maioria das pessoas passa de oito a doze horas por dia
fazendo coisas que não fazem sentido na vida delas
PERMITA-SE! PERMITA-SE!"
(O Teatro Mágico)

sábado, 8 de novembro de 2008

A primeira vez a gente nunca esquece

Tardou, mas não falhou


Tem coisas que são praticamente inevitáveis na vida, mesmo não sendo muito agradáveis. Quando se trata de relações afetivas então, é tudo muito clichê.

Você vai se apaixonar, você vai achar que não vai conseguir viver sem alguém, um belo dia esse alguém vai embora (por um motivo qualquer) e você vai ter que aprender, na marra, que relações não são eternas. E como já disse Arnaldo Jabour, não é porque acabou, que não deu certo. Relações, como tudo na vida, têm um prazo de validade. A diferença é que o do leite vem na caixa, mas ninguém desfila por aí com números na testa.


No meio de tantas coisas comuns a tanta gente diferente, "tomar um pé na bunda" é só mais uma dessas situações clichês. Normal, acontece com todo mundo. Aos quinze, vinte ou quarenta anos. Se você nunca tomou um, aguarde: ele pode tardar, mas não falha. Só que as pessoas têm o péssimo costume de acreditar que certas coisas não vão lhe acontecer, principalmente se você passa por tantas fases da vida imune a elas.

No auge dos meus vinte e quatro aninhos, acho que, ingenuamente, não acreditava que fosse passar por tal situação. Confesso que já aprontei um bocado, já me apaixonei loucamente, já traí e já fui traída, já namorei por um mês, por um ano, por quase dois (porque além disso ainda tá muito longe da minha realidade). Já tive rolos, casos, acasos, aventuras, encontros e inúmeros desencontros. Já me magoaram e já magoei quem não queria. E mesmo com tantos acontecimentos nessa vida louca, eu passei anos imune ao tal "pé na bunda". De tanto que ele demorou, eu não me preocupei em me preparar psicologicamente para quando viesse. E ele tardou, mas não falhou.

Dói. Dói o cotovelo, a cabeça. Dói a queda por terra das reles expectativas de bons dias ao lado de alguém. Dói pensar que não se pode ter tudo nunca. Que essa coisa de querer construir uma relação não existe, porque uma relação são sempre duas. Não adianta achar que está tudo muito bom se na tal outra relação, que corre paralela, nem tudo são flores.

E é uma dor estranha, que, a princípio, não se sabe muito bem de onde vem. Não sei se dói por mim, por você ou por tudo o mais que poderia ter sido e não foi. Mas nada que uma boa cachaça no balcão não ajude a curar. Colo de amigos são sempre bem-vindos nesses momentos também. No meu caso, como nada pode acontecer numa "normalidade", mesmo quando apareço no meio da noite com a cara mais triste dos últimos tempos, a história vira piada.
"Tomei um pé na bunda."
"Ah normal, acontece."

"Eu sei, mas fico triste mesmo assim, né?"
"Peraí, isso aconteceu hoje?!"
"É...agora. Coisa de quinze minutos"
(Risadas generalizadas)

Ao menos não se perde o bom-humor.

Dor curada, o que sobra é lamento e brigadeiros com granulado verde.

Crianças continuam sendo uma excelente terapia. Dá um baita orgulho saber que influencio no desenvolvimento de um serzinho que se torna cada vez mais um belo rapaz.

"O que você quer de presente, Arthur?"

"Ah, pode ser um livro... ou um jogo..."



"Minha cara, minha Carolina
A saudade ainda vai bater no teto
Até um canalha precisa de afeto
Dor não cura com penicilina"
(Zeca Baleiro)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Notícias da Capital Imperial

"Aqui desembarcou a Família Real"


Paineiras, Largo da Batalha, Garganta, Santa Rosa, Centro, Barcas - "O transporte mais rápido e seguro para chegar ao outro lado da ponte" - Praça XV, Rua da Assembléia, Centro, Flamengo, Botafogo, Copacabana, Ipanema, Leblon, Lagoa, Gávea, Rocinha, São Conrado, Barra da Tijuca. (E voltar isso tudo depois) R$16,00 no seu RioCard.

Passar na orla as dez da manhã e ver a praia cheia, enquanto você está de casaco pra aguentar o frio que faz dentro do ônibus com o ar condicionado mais potente do planeta, não tem preço.

Duas horas e meia de ida e duas horas e meia de volta. É o tempo que eu gasto todos os dias pra ir até o trabalho. Sem trânsito ruim ou acidentes. Ler, comer, dormir, trabalhar, ouvir música, assistir TV. Dá pra fazer de tudo no caminho.

Como diz a Srta. Peron, eu ando reclamando muito do trânsito. Não que eu seja alguém que anda por aí reclamando de tudo, e até escolho o lado do ônibus que dá para a praia, pra ir aproveitando a vista. Mas viver nesse caminho um mês seguido deve matar. Se não de sono, de cansaço. Conto as horas de descanso diários somando os minutos que tiro aquele ronco com a cabeça encostada na janela ou caída pra trás no encosto do banco.

Mas, mais uma vez, o povo andou com tudo no tempo certo. A vida virou 180° em duas semanas e os planos, que já estavam sendo arquivados pro próximo ano, deixaram de ser meras expectativas.

Vou aprendendo cada vez mais a arte da paciência e os segredos do Tempo. Essa sensação de meta alcançada, de encontros "casuais" em momentos cruciais, tem um quê de plenitude, de se sentir parte de uma mega energia que nos rodeia. E isso não tem preço.

Confiança, gratidão, paciênca, calma. Exercícios constates de racionalidade para uma pessoa tão impulsiva, ansiosa e agitada quanto eu. Mas um dia eu chego lá.

Dia nove tem parabéns. O reizinho está crescendo.

Tenho me sentido tão velha pra tão pouca idade. Affe.



"Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo"
(Caetano Veloso)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

É só o começo do fim da nossa vida

Prepara uma avenida que a gente vai passar


Hoje, eu chorei de felicidade. Assim, dentro da van, vendo o mar de São Conrado e agradecendo aos deuses por tudo que tem acontecido.

Há quatro anos atrás, quando frequentei um psicólogo pela primeira vez, discutimos sobre a diferença de alegria e felicidade. A conversa rendeu por três encontros e dali sairam quase todos os meus parâmetros do que é ser feliz.

Descobri que milhões de alegrias não fazem uma felicidade completa, mas que uma felicidade completa te faz ter milhões de alegrias. Alegria é sensação, felicidade é sentimento.

Comecei a enumerar tudo que faz parte da minha felicidade, em tópicos, um a um, cada aspecto da minha vida e da vida de quem me cerca.

Ter saúde, ver meu filho crescer saudável e tendo acesso à uma boa educação, saúde dos meus pais, ver que eles têm vida social, saem com amigos, bebem, se divertem. Estar próxima da minha família, ser amiga dos meus irmãos, vê-los estudando, empregados e acompanhados de boas pessoas. Dividir meus momentos com amigos, ter oportunidade de continuar estudando, ter um bom emprego com uma remuneração justa. Ver que meus queridos estão se desenvolvendo, se formando, conseguindo bons empregos, evoluindo sempre. Viver em um lugar que me dê o prazer de me sentir feliz sem precisar fazer nada, só admirar o que existe.

E de repente, não mais que de repente, eu me dei conta que, hoje, eu tenho tudo isso. Exatamente hoje, quando saí do lugar onde começarei a trabalhar na próxima semana, percebi o quanto as coisas caminharam de tal forma que tudo, nesse exato momento, se encaixa de uma maneira que faz minha felicidade completa.

Ainda tenho contas a pagar, ainda devo o cartão de crédito, prestação de computador, ainda preciso arrumar um lugar pra morar onde pague pouco e viva bem, mas isso são coisas que se resolvem com a calma e a paciência necessárias.
Do mais, está tudo ótimo e caminhando para melhorar cada vez mais.

Hoje, eu não estou cheia de alegrias, estou inundada de felicidade e cada vez mais apaixonada pela vida que escolhi viver.

Às pessoas que influenciam diretamente nesse sentimento, meus mais sinceros agradecimentos. Amo vocês!


"Ergo as mãos pro alto, nos meus dedos os anéis
Flores crescem no asfalto, debaixo dos meus pés"
(Zeca Baleiro)

domingo, 19 de outubro de 2008

Da Varanda

Impressões do melhor mês do ano


"Outubro é sempre um mês bom nessa cidade". Festival de Teatro, Festival de Cinema, programas culturais pipocando, festas ótimas em vários lugares. Parece que os produtores de JF se guardam pro mês dos escorpianos e aproveitam o trânsito astral para movimentar os ânimos da comunidade.

Saída do teatro depois de uma peça um tanto equivocada para ser infantil, cédula do voto popular na mão: "Mãe, o que é regular?". "Ah, filho, quando não é bom nem ruim."

(X)Regular.

Cédula na urna.

Arthur talvez tenha aprendido que nem tudo que é programa cultural é bom, mas que não vale a pena desanimar com os tropeços. Depois de uma peça "regular", um espetáculo excelente, aplaudido de pé por todos que estavam no Teatro da Academia de Comércio naquela manhã. Que venha o Primeiro Plano!

Fim de semana para comemorar. Menos uma desempregada no mundo! Pessoas que viajam justo quando estou por aqui fazem falta, mas ultimamente, tenho estado por aqui quase sempre.

Noite de sexta não faltou nada pra ser ótima. Cachaça no balcão faz um bem muito maior quando se está comemorando, do que quando se está chorando mágoas. Fazer o cobertor de travesseiro e cobrir as pernas com o casaco e ainda acordar as dez da manhã pra levar criança pro teatro. Amo muito tudo isso!

Como diz o Rogério: "Nada melhor que essa vida na BR-040".

Semana está só começando e trazendo vários presentes antecipados. Que todos os infernos astrais sejam como esse!




"No canto e na dança
No pecado ou na fé, vou seguir no arrasta-pé
Deixa o povo aplaudir
Ao som da sanfona
Vou descendo a ladeira
Com o trio da mangueira
doce Cartola, sua alma está aqui"
(Lequinho e Amendoim - Mangueira 2002)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Oh Minas Gerais!

Um post bêbada em mais uma madrugada.


Talvez assim a insônia dê uma trégua.

Que o álcool nos deixa mais leves e dispostos a falar mais do que o normal, todo mundo já sabe. Agora, imagina pra alguém que já fala mais do que o normal?

Vontade de ligar um microfone e sair despejando nos ouvidos alheios tudo que, em grande parte do tempo, mantenho guardado. (Costumo guardar muita coisa. Dizem que pessoas regidas pelo signo de escorpião tendem a ser rancorosas. Não posso negar. Desculpar, eu desculpo, mas perdoar já é uma coisa mais complicada. E esquecer...é bem mais difícil. Enfim, muito assunto para futuras sessões de análise).

Sonhei, essa noite, que roubava um microfone de uma apresentação gospel e fazia um belo discurso após ter sido atacada por fanáticos evangélicos. Não me lembro muito bem tudo que disse, mas lembro que terminava assim: "Meu nome é Camila Damasceno Silva, eu tenho 24 anos, sou brasileira e no meu país é garantida pela Constituição a liberdade religiosa". Isso tudo acontecendo enquanto os evangélicos entoavam hinos tentando abafar a minha voz. Acordei tão orgulhosa!

Meu maior temor, nesses tempos loucos em que vivemos, é ver o fim do Estado laico, talvez a maior conquista da humanidade nos últimos séculos. Semana que vem tem segundo turno.



Boas notícias merecem ser comemoradas. Menos uma desempregada no mundo. O que era pra ser inferno astral está cada vez mais parecido com o paraíso. Gentileza gera gentileza, meus filhos. Isso ainda há de nos levar a algum lugar.

Um pouco embriagada demais para seguir a diante. Os dias têm me feito respirar cada vez mais fundo. Viver na BR-040 tem sido a melhor opção.



PS:. No som do Camelo falta um trompete, aquela voz bonitinha do Amarante fazendo os backings e a bateria do Barba arrumando (ou bagunçando ainda mais) tudo. Mas se fosse assim, seria mais uma vez os Hermanos de sempre.


"Quero perder de vez tua cabeça,
minha cabeça perder teu juízo.
Quero cheirar fumaça de óleo diesel,
me embriagar até que alguém me esqueça"
(Chico Buarque)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Uma carta

Niterói, 10 de outubro de 2008.

Oi minha Flor,
hoje, tive muita vontade de escrever (isso me acontece de tempos em tempos) e resolvi fazer essa carta. Já faz muito tempo que não tenho notícias suas e sinto falta de sua presença que costumava ser tão constante.

Não consigo imaginar tudo que possa ter te acontecido nesses anos, apesar de saber dos fatos mais relevantes, nem tão pouco imaginar o quanto do que você era que ainda sobra no que você é hoje. Essa nossa mania de nos manter abertos a tudo costuma transformar nossas verdades com uma certa frequência. Mas ainda acredito nessas coisas de alma, sabe? Características de cada um que, por mais que o tempo passe, não vão mudar nunca.

Tento me lembrar de você sempre da mesma forma que te vi pela última vez. Das nossas horas sentados em um meio fio no alto do nosso morro, vendo a cidade lá embaixo, discutindo filosofia, religião ou qualquer coisa banal. Me lembro ainda das tantas vezes em que não discutíamos nada, só admirávamos o incessante fluxo das pessoas no mundo.

Minha vida continua estranha, Flor. Às vezes, os dias passam depressa demais, outras custam a terminar. Tem semanas que fico atolada de trabalhos a fazer e em muitas outras, me dedico a ler tudo que me parece interessante, para ocupar o tempo vago. Tenho lido muita coisa, Flor. Muita coisa que você ia gostar de ler. Muito romance de escritor latino. Descobrindo essa coisa de latino que a gente tem, mas que vive querendo negar, sabe? Essa coisa de achar que não nos parecemos com argentinos ou chilenos ou colombianos. Gosto de me sentir parecida com eles. Resolvi aprender espanhol.

Resolvi um monte de outras coisas também, mas ainda não sei quantas delas vou conseguir pôr em prática. Fiz um projeto, Flor. Ficou bonito e diz respeito a uma coisa que eu gosto muito. Espero que ele dê certo, porque se der eu vou viajar e conhecer o sertão. Vou conhecer o Nordeste por dentro, a terra da minha mãe e dos meus avós. Vou conhecer o nosso país de outro jeito, sem aquela máscara que a gente veste quando vê turista.


Essa coisa de querer conhecer as pessoas, os lugares, não consigo arrancar de mim. Talvez fosse mais fácil se eu me sentisse bem ficando quieta em um único lugar. Não passaria tanto tempo longe dos meus queridos. Mas é incontrolável.
Aconteceu uma coisa hoje. Passei pela Rocinha à noite, Flor. Nunca havia passado por lá à noite assim, devagar, observando as coisas, vendo como o comércio, as pessoas, tudo continua funcionando até tarde. Você tem que ver o mundo que é aquilo lá. Fiquei feliz de ver as crianças brincando nas praças, nas quadras, nas rampas de skate. Estão construindo uma passarela. Agora as pessoas não vão mais precisar se arriscar atravessando a avenida no meio dos carros. Estão fazendo muitas obras por lá. Aquelas pessoas merecem, sabe, Flor. Merecem ser tratadas como pessoas. Principalmente as crianças. Tenho pensado muito em crianças ultimamente.

Tem muito mais coisas que eu quero te contar. Quem sabe numa próxima carta. Agora estou um pouco cansada. Sabe, Flor, pensar demais na vida às vezes cansa e às vezes eu fico triste, meio sem saber porquê. Deve ser o cansaço.


Cuide-se sempre. Aguardo notícias.

Pantufa de joaninha

Quem disse que antibiótico não dá onda?


Sabe esses dias que você acorda com uma alegria inexplicável, sem saber muito bem de onde vem?

Tive uma baita insônia essa noite, dando sequência à das duas noites anteriores. Acordei ouvindo um despertador no meu sonho, quando ainda faltavam sete minutos para o real tocar e me avisar que era hora de mais um comprimido. Não dormi mais. Isso foi às três e vinte e três da manhã.

Às seis, não aguentei mais rodar na cama, a claridade já se infiltrava no quarto através das frestras da persiana e resolvi levantar pra vida.

Até o meio dia já tinha feito todos os meus afazeres domésticos do dia. (Lavei, passei e cozinhei - já posso casar) e já tinha sorrido um bocado. Primeiro das frases excelentes do Gabeira no debate de ontem, transcrito hoje n'O Globo, depois da minha própria cara ao ver meu reflexo na porta da sala. Sem comentários. Me lembrei de um dos poemas mais bonitos que eu já li e resolvi procurá-lo para ler mais uma vez.

Esse post não vai ter trecho de música. Vai ter um poema inteiro. Enjoy.

Desejo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo, pois, que não seja assim
Mas se for, saiba ser sem se desesperar
Desejo também que tenha amigos
Que mesmo maus e inconseqüentes
Sejam corajosos e fiéis
E que pelo menos em um deles
Você possa confiar sem duvidar

E porque a vida é assim
Desejo ainda que você tenha inimigos
Nem muitos, nem poucos
Mas na medida exata para que
Algumas vezes você se interpele
A respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles
Haja pelo menos um que seja justo

Desejo depois, que você seja útil
Mas não insubstituível
E que nos maus momentos
Quando não restar mais nada
Essa utilidade seja suficiente
Para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante
Não com os que erram pouco
Porque isso é fácil
Mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância
Você sirva de exemplo aos outros

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais
E que sendo maduro
Não insista em rejuvenescer
E que sendo velho
Não se dedique ao desespero
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor

Desejo, por sinal, que você seja triste
Não o ano todo, mas apenas um dia
Mas que nesse dia
Descubra que o riso diário é bom
O riso habitual é insosso
E o riso constante é insano.

Desejo que você descubra
Com o máximo de urgência
Acima e a respeito de tudo
Que existem oprimidos, injustiçados e infelizes
E que estão bem à sua volta
Desejo ainda
Que você afague um gato, alimente um cuco
E ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque assim, você se sentirá bem por nada

Desejo também
Que você plante uma semente, por menor que seja
E acompanhe o seu crescimento
Para que você saiba
De quantas muitas vidas é feita uma árvore

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro
Porque é preciso ser prático
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele na sua frente e diga:
"Isso é meu"
Só para que fique bem claro
Quem é o dono de quem

Desejo também
Que nenhum de seus afetos morra
Por eles e por você
Mas que se morrer
Você possa chorar sem se lamentar
E sofrer sem se culpar

Desejo por fim
Que você sendo homem, tenha uma boa mulher
E que sendo mulher, tenha um bom homem
Que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes
E quando estiverem exaustos e sorridentes
Ainda haja amor pra recomeçar

E se tudo isso acontecer
Não tenho mais nada a lhe desejar

Victor Hugo

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Instantes Literários

Reflexões de mentes pessimistas, mas incrivelmente sãs



"Chamo-me Fernando Vidal Olmos, nasci em 24 de junho de 1911 em Capitáin Olmos, vilarejo da província de Buenos Aires que leva o nome de meu tataravô. Meço um metro e setenta e oito , peso cerca de setenta quilos, olhos cinza-esverdeados, cabelo liso e encanecido. sinais particulares: nenhum."

(...)

" - Com gente como o senhor o mundo jamais teria ido adiante!
- E de onde a senhora deduz que foi adiante?
Sorriu com menosprezo.
- Claro. Chegar a Nova York em vinte horas (!!!) não é um progresso.
- Não vejo nehuma vantagem em chegar rapidamente a Nova York. Quanto mais tempo se leva, melhor. Além disso, pensei que se referisse ao progresso espiritual.
- A tudo, senhor. O avião não é um acaso; é o símbolo do avanço geral. Inclusive os valores éticos. Não vai me dizer que a humanidade hoje não tem uma moral superior à da sociedade escravista.
- Ah, a senhora prefere os escravos com salário.
- É fácil ser cínico. Mas qualquer pessoa com boa fé sabe que o mundo conhece hoje valores morais que eram desconhecidos na Antiguidade.
- Sim, compreendo. Landru viajando de trem é superior a Diógenes viajando em trirreme.
- O senhor escolhe de propósito exemplos grotescos. Mas é evidente.
- Um chefe de Buchenwald é superior a um chefe de galeras. É melhor matar os bichos humanos com bombas de napalm que com arcos e flechas. A bomba de Hiroxima é mais benéfica que a batalha de Poitiers. É mais progessista torturar com aguilhada elétrica que com ratos, na China.
- Tudo isso são sofismas, porque são fatos isolados. A humanidade superará também essas barbaries. E a ignorância terá de ceder em toda a linha, ao final, à ciência e ao conhecimento.

(...)

- Se dependesse do senhor, não haveriam escolas. Se não me engano, o senhor deve ser partidário do analfabetismo.
- Em 1933, a Alemanha era um dos povos mais alfabetizados do mundo. Se as pessoas não soubessem ler, ao menos não poderiam ser estupidificadas dia a dia pelos jornais e revistas. Infelizmente, embora fossem analfabetos, ainda sobrariam outras maravilhas do progresso: o rádio, a televisão. Seria necessário extirpar os tímpanos das crianças e também os olhos. Mas esse seria um programa mais complicado.
- Apesar dos sofismas, a luz sempre prevalecerá sobre a escuridão e sobre o mal. O mal é a ignorância.
- Até agora, senhorita, o mal sempre prevaleceu sobre o bem.
- Outro sofisma. De onde o senhor tira tais barbaridades?
- Eu não tiro nada, senhorita: é a tranquila comprovação da história. Abra a história de Oncken em qualquer página e não encontrará senão guerras, degolas, conspirações, torturas, golpes de Estado e inquisições. Além disso, se prevelecesse sempre o bem, por que seria necessário pregá-lo? Se por sua natureza o homem não estivesse inclinado a fazer o mal, por que ele é proscrito, por que ele é estigmatizado?"


Trecho copiado da obra Sobre Heróis e Tumbas de Ernesto Sábato.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Mulherzinhas que nunca sonharam em ser um mulherão

Eu quero o livro da Fernanda Takai


Esses passeios por sites, blogs e links indicados por amigos muitas vezes não trazem nada de especial ou de muito relevante, mas hoje, quando já me preparava para desligar o computador, me deparei com um link que me atraiu.

Era o blog da Fernanda Takai, vocalista do Pato Fu. Por um instante, deixei minha curiosidade sobre a vida alheia transbordar e quis saber um pouco mais dessa mulherzinha que tanta gente diz que eu me pareço.

Tá bem que essa história de me chamar de Fernanda Takai começou com um corte de cabelo que eu não escolhi e provavelmente por nossa baixa estatura, mas navegando em seu blog, descobri algumas outras pequenas cositas em comum entre a minha pessoa e essa pessoa que nunca vi ao vivo na vida.

Fernanda Takai curte coisas relacionadas a audiovisual e chegou a escrever um roteiro de curta-metragem, do qual também assinou a direção, para um programa do Multishow (sonho da Camilinha). Fernanda Takai é cantora e compositora e um dos raros cidadãos brasileiros que ganha a vida de música (sonho nunca revelado anteriormente por Camilinha, mas que necessita de um talento com o qual não nasci). Fernada Takai escreveu um livro de contos publicados em dois jornais de grande circulação no país (talvez o sonho mais palpável de Camilinha).

E para parar por aqui com as revelações pessoais e não começar a sentir que a dita cuja leva a vida que eu pedi aos céus, chego a grande revelação que o tal link do blog me trouxe: EU QUERO O LIVRO DA FERNANDA TAKAI!

Detalhe: o prefácio do livro foi escrito por Zélia Duncan.

Nunca subestime uma mulherzinha é da editora PandaBooks e pode ser encontrado nas melhores livrarias da sua cidade.



"Lá vai se embora meu mundo sem mim...
O que há de errado em ser tão errado assim?
Já vou saindo, não precisa empurrar...
Pois meu maior defeito é insistir
Que ele é perfeito,
Que é pura crueldade pedir pra ele mudar"
(Pato Fu)

Debaixo do cobertor

Febre gritando e garganta que não passa nem vento.


O fim de semana merece muitos comentários. Outubro chega cheio de momentos bacanas. Mas acordar com uma febre de 40° não estava nos meus planos.

Que os próximos dias sejam suficientes para o corpo se restabelecer, já que o próximo fim de semana também promete bons momentos.

Em quatro dias deu para conversar com mamãe, passar bons momentos com o pequeno, beber com a família, encontrar bons amigos, comemorar os anos de outro, dançar até de manhã, conhecer uma pessoa legal, conversar com os santos, rir, rir e rir um pouco mais.

Existem pessoas que me fazem bem pela simples presença. Não precisam falar nada, afinal a gente vê e ouve tudo.

E pouco me importa se alguém se incomoda com isso.

E o que deveria ser o mês do meu inferno astral, tem se tornado cada vez mais meu paraíso, com direito a presentes antecipados e tudo.

Que mestre Osho nos ilumine!

Axé!


"Mas pois o menino voltou
Voltou homem, voltou doutor
Menino que é bom não cai
Pois já nasceu com a estrela
E sempre a mente sã
Menino que é bom não cai
Pois é protegido de Iansã"
(Jorge Ben Jor)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Eu vi um Saci

Cenas de surrealismo à beira da estrada


Não sei o que é mais surreal: a visão que tive ou o fato de alguém andar vestido desta forma, na beira de uma estrada às cinco e meia da tarde de uma quinta-feira; mas eu não estava sob o efeito de nenhuma droga e afirmo: eu vi um Saci!

Negro, sem camisa, short curto vermelho, gorro vermelho na cabeça, agachado, mexendo em alguma coisa em um canto da mata. Era um Saci, ou um homem vestido como tal.

Tive vontade de acordar o senhor que viajava ao meu lado, gritar, chamar alguém que estivesse em um banco mais ao fundo do ônibus e ainda conseguisse ver a cena que presenciei.

Continuei a viagem sabendo que ninguém iria acreditar quando eu contasse e até agora, nem meu filho de seis anos acreditou.

Para completar as cenas incríveis que as curvas desta serra podem proporcionar, hoje eu vi o pôr-do-sol mais lindo dos últimos tempos. Vermelho, iluminando como fogo os vales que ficavam para baixo.

A rota Rio-Juiz de Fora já se tornou corriqueira, mas são nos momentos mais corriqueiros que se escondem as maiores belezas. Um Saci ou um pôr-do-sol. Pena pensar que quase ninguém naquele ônibus conseguiu reparar em ao menos um dos dois.


"Essa vida inteira é uma brincadeira
Eu fico feliz com qualquer besteira
Você chupou a manga até o fim
E só deixou o caroço para mim
E melhor que isso só carnaval"
(Raul Seixas)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Galinha que acompanha pato morre afogada

A proximidade do mar tem me dado uma destreza.....

Não me pergunta muita coisa, porque boa parte das coisas que eu faço não tem mesmo explicação.

(Parafraseando Thalita Peron: acho q certas coisas ficam mais bonitas sem explicação).


Se tudo estivesse acontecendo em outros tempos, a cabeça tava dando um nó, mas com a calma que me acomete nesses dias chuvosos e a paz que eu sinto quando o sol resolve amanhecer entrando pela minha janela, tá tudo fluindo lentamente.


E assim até parece ser mais gostoso. Dá tempo para aproveitar cada detalhe.


Família vai bem, cada vez mais moderna. Encontros com as amigas de vovó também têm sido proveitosos.


Festival de Cinema tá começando e promete tornar o decorrer das próximas semanas mais suave. Já estou até me planejando para acordar de frente pro Pão de Açúcar mais uma vez. (Estende a rede que eu tô chegando).


Eleições se aproximando, vou aproveitar pra ver o filhote e os amigos, além de exercer minha cidadania na esperança que meus candidatos possam fazer um pouco mais por nós. Mas uma cidade que elege Bejani, Tarcísio e Custódio Matos sucessivamente não me deixa criar muitas expectativas.


Quem sabe essa ida à Jotaéfe não me trás boas novidades?


Existem tantas coisas lindas por fora e deliciosas por dentro....


Enquanto isso, o Raul vai tocando insessantemente no meu mp3.




"Nunca se vence uma guerra lutando sozinho
Cê sabe que a gente precisa entrar em contato
Com toda essa força contida e que vive guardada
O eco de suas palavras não repercutem em nada"(Raul Seixas)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Quando acabar o maluco sou eu

"Tente me ensinar das tuas coisas que a vida é séria e a guerra é dura, mas se não puder, cale essa boca, Pedro e deixa eu viver minha loucura" (R.Seixas)


"Nada tinha mudado na cidade; a única mudança era que as menininhas tinham crescido. Mas elas viviam em um mundo tão complicado de pequenas alianças já definidas e pequenos desentendimentos que Krebs não sentia disposição nem coragem para entrar nesse mundo. Mas gostava de olhar as moças. Havia tantas criaturinhas bonitas. (...) Krebs gostava de olhá-las da varanda da frente quando passavam na rua. Gostava de olhá-las caminhando à sombra das árvores. Gostava dos colarinhos largos e pontudos por cima do suéter. Gostava das meias de seda e dos sapatos de salto baixo. Gostava dos cabelos amarrados atrás e da maneira de andar delas.
Quando ele saía de casa, não se sentia muito atraído pelas moças. Não gostava delas quando as via na sorveteria. Não queria mesmo nenhuma delas. Eram muito complicadas. E tinha mais. Ele queria vagamente uma moça, mas não queria se esforçar para conquistá-la. gostaria de ter namorada, mas não queria gastar tempo para consegui-la. Não queria entrar no mundo dos cochichos e dos mexericos. Não queria cortejar. (...)
Não queria conseqüências, nunca mais. Queria levar a vida sem conseqüências. Aliás, não queria mesmo uma namorada. Aprendera isso no exército. Pode-se fazer de conta que se tem namorada. Quase todo mundo faz de conta. Mas não é verdade. Ninguém precisa de namorada. É engraçado. Primeiro o camarada diz com ar altivo que as mulheres nada significam para ele, que nunca pensa nelas, que elas não conseguem pegá-lo. Depois, outro camarada diz que não pode viver sem mulheres, que precisa delas o tempo todo, que não pode dormir sem elas.
É tudo mentira. É mentira nos dois sentidos. Quem não precisa de mulheres não pensa nelas. Krebs aprendera isso no exército. Mas um dia se arranja uma. Quando se está amadurecido para mulher, sempre se consegue uma. Não é preciso ficar pensando nela. mais cedo ou mais tarde ela aparece. Aprendera isso no exército.
Agora ele até que aceitaria uma garota se ela viesse a ele e não quisesse conversar. Mas naquelas circunstâncias era complicado. sentia que não podia passar por tudo de novo. Não valia a pena."

(E. Hemingway, A Volta do Soldado)


"Se você acha o que eu digo fascista
Mista, simplista ou anti-socialista
Eu admito, você tá na pista
Eu sou ego, eu sou ista
Eu sou ego, eu sou ista
Eu sou egoista, eu sou egoista
Por que não?Por que não?"(Raul Seixas)

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Diálogos em tempos de forçada paz

Enquanto o mundo entra em crise a gente sorri


- Calma, pensa que essa pode ser a melhor fase das nossas vidas. Pensa que quando tudo isso passar, quando as coisas entrarem no lugar, quando as rotinas se reestabelecerem, vamos passar anos cultivando a lembrança nostalgica do tempo em que tínhamos liberdade. Essa mesma liberdade que temos agora, e só agora, de ir para onde o vento soprar. Sem raízes, com bons amigos em muitos lugares, com a tranquilidade de que faremos novos, caso a gente caia em um canto desconhecido. Às vezes tenho medo de perder a chance de aproveitar esse momento, porque sei que ele nunca vai voltar.

- Eu fico ansioso. Tenho medo das coisas demorarem muito para dar certo. E ainda tem essa sensação de que tantos anos de estudo não serviram para quase nada.

- Ansiedade é complicado de lidar, realmente. Ainda estou exercitando a relação com a minha. Tem épocas que ela me corrói o estômago, que me causa alergias e crises de humor. Mas tenho aprendido a me manter mais calma, a sentir o movimento e a velocidade das coisas.

- É importante conseguir aproveitar esse momento mesmo. Vou tentar relaxar mais.

- Mas eu tenho tido essa mesma sensação que você, de que tantos anos não serviram para quase nada. Acho que o governo precisa criar ações de inserção de recém-formados no mercado de trabalho.

- Mas como fazer isso sem perder a qualidade dos profissionais que já estão atuando? Que tipo de incentivos?

- Não sei, algo como a cota para deficientes físicos. O Estado gasta milhões para a nossa formação. Não é possível que eu fique cinco anos estudando por conta do governo e tenha que continuar sendo garçonete.

- A nossa geração é uma das primeiras a sentir esse problema, porque não faz tanto tempo que se tem tanta gente com ensino superior no país.

- Quem sabe quando eu for Secretária de Educação ou trabalhar no Ministério....vou fazer essa proposta, desenvolver um programa, como esses de primeiro emprego para jovens de baixa renda.

- Um dia a gente chega lá. Viver de escrever e elaborar projetos.

- Não perco essa esperança jamais. Meu laptop no colo, minha rede na sombra, meu mate gelado, a brisa vindo me visitar, meus filhos correndo na praia e todos os meus afetos acumulados vindo inundar meu coração.




"Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada,
Ou quase nada
Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada,
não deu em nada"
(Tom Jobim)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O melhor purê do mundo

Quem disse que não se aprende sozinho?


Existem coisas que se tornam cotidianas para muita gente e que acabam por serem feitas como obrigações, perdendo-se gradativamente o prazer de realizá-las.

Tenho três irmãos e por toda a minha vida, minha casa tinha no mínimo seis pessoas sentadas à mesa em cada refeição. Eramos quatro filhos, pai e mãe (fora amigos e agregados que apareciam de vez em quando) e quando o casamento acabou, eu logo fiz o favor de recompôr a família com mais um membro.

Nascido Arthur, voltamos a ser seis em torno da mesa. Agora, mãe, filhos e o netinho único, que aproveitava para provar os tantos sabores desconhecidos de seu paladar.

Nesses quase trinta anos de matriarca da família, minha mãe passou por vários períodos em que se queixava do sabor de sua própria comida. E aí, era hora de mudar os temperos, descobrir novas ervas, pozinhos, cubinhos e molhos, tudo para deixar os alimentos com novos sabores e mais uma vez agradar a todos ao redor da mesa.

Quando nosso querido bebê pôde compartilhar da mesma refeição de todos, os gostos tiveram que mudar outra vez. Uma cardiopatia fez com que Arthur tivesse que se acostumar com pouco sal desde as primeiras papinhas de legumes e, assim, toda a família se adaptou ao novo sabor dos alimentos.

Foram surgindo alternativas, mais cores, mais saladas, menos gordura e menos sal. A a Mãe, mais uma vez se reinventava a frente das panelas. Algumas vezes nos aventurávamos em ajudá-la com um frango ou um molho diferente para a salada, mas nem sempre as ajudas foram muito benéficas.

Nesses meus últimos meses em Niterói, na casa de uma vovó que não gosta de chegar perto das panelas, aprendi a me aventurar mais na culinária, até porque, tenho que fazer minhas prórpias refeições quase todos os dias.

E esse momento de pensar no que se quer comer, preparar a comida e finalmente saboreá-la, nem sempre acontece com o glamour todo do programa da Ana Maria Braga.

Dá preguiça, dá muita preguiça descascar tudo, socar o alho, acertar no sal, nos temperos, pôr água pra ferver....é tudo um longo processo pra algo tão corriqueiro. Porém, comer é talvez o movimento cultural mais enraizado em nós. E para mim é um dos maiores prazeres da vida.

E foi em um desses dias que eu acordei com menos preguiça, que resolvi fazer um purê de abóbora. Como disse minha avó, eu já estava "tarada pela abóbora" há alguns dias. Paquerava ela na geladeira, esperando o momento em que resolveria comê-la.

Não tive muitos problemas com ela, já que minha querida vovó que não gosta de cozinhar, faz o favor de comprar legumes descascados, cortados, lavados e embalados à vácuo (molezinha). Lavei os pedaços de abóbora, pus na água para cozinhar e fui pensar nos temperos. Amassei o alho e escolhi a dedo os ingrediantes e a quantidade de cada um para temperar o purê.

Mistério nenhum: amassa a abóbora cozida e joga na panela com aquele refogado de temperos e azeite. Pronto!

Mesa posta, comida na mesa, fui finalmente provar o tão cheiroso purê. (Aposto que todos os vizinhos sentiram o cheiro daquele alho frito) E me senti tão orgulhosa quanto quando defendi um pênalti no handbol na escola, numa disputa entre a quinta b e a quinta c, quando eu tinha 13 anos. O purê era O Melhor purê de abóbora que eu já comi na vida!

Mesmo uma matriarca de família numerosa não acerta sempre a mão no tempero da comida, mas naquela terça-feira eu acertei.

E foi assim que só eu tive a oportunidade de provar o melhor purê de abóbora do mundo.


"É na clareza da mente
Que explode a procura do novo processo
E o que é meu direito eu exijo e não peço
Com a intensidade de quem quer viver
E optar: ir ou não por ali
A nossa primeira antena é a palavra
Que amplia a verdade que assusta
E a gente repete que quer mais não busca
E de um modo abstrato se ilude que fez"
(Oswaldo Montenegro)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

City Tour

Diário de uma guia turística por um dia


A noite de terça terminou bem. Cervejinha na varanda, Chico no DVD e um bom papo pra rever velhas histórias. Roa Bastos acabou no meio da madrugada e fui sonhar com as próximas páginas de Eva Luna.

Dormi incumbida de programar um passeio: levar um aluna da minha avó, que nunca havia saído de Três Corações, para conhecer o Rio em oito horas.

Pensei no caminho, em como otimizar o tempo, na linearidade do passeio, para que não se desse voltas desnecessárias, mesclar programa cultural com beleza natural, levar a lugares por onde eu ando bem, para me assegurar de dar informações precisas.

Saímos de Pendotiba às dez e meia da manhã. Decidi pela barca, mesmo sendo um caminho mais longo, mas para aproveitar a vista. A assim fomos, Simone e eu. Ela descobrindo cenários que nunca havia visto ao vivo e eu redescobrindo as belezas que, depois de um tempo, passam quase despercebidas.

Da barca ela já ia fazendo perguntas sobre todos os prédios e morros que avistava. Aeroporto, bases militares, escola naval, Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Ponte Rio - Niterói, Ilha Fiscal.

Da Praça XV em diante, fomos caminhando pelas ruas que um dia foram o centro político e econômico do país.

Paço Imperial, Centro Cultural dos Correios, Casa França-Brasil, CCBB, Candelária, Igrejas e ruas do centro da cidade. Caminhamos a passos largos pela Av. Rio Branco até chegar ao Teatro Municipal. E foi aí que as minhas redescobertas começaram. Entrei pela primeira vez no Museus de Belas Artes. Li cada legenda e acabei passando mais tempo do que ela pensando em tudo que se esconde nos prédios por onde passamos apressados quase diariamente, sem nos darmos o presente de olhar para eles com um pouco mais de suavidade, dispostos a admira-los por alguns segundos.

Biblioteca Nacional, Cine Odeon, uma breve parada no Mac. Donald's e fomos de metrô até o Catete. Às três da tarde, ela já tinha conhecido boa parte do centro do Rio e eu ia gradativamente me aproximando dos cenários da minha infância.

Entramos no Museu da República pelos jardins. Logo na entrada comecei a perceber que aquele passeio, em alguns momentos, mexia mais comigo do que com ela. O parquinho onde eu brincava, as grutas que morria de medo de entrar, o cinema em que assisti pela primeira vez um dos filmes que mais marcou minha infância (A Incrível Jornada), o caminho da peça de teatro que eu mais me recordo (Romeu e Julieta). Os cheiros da minha infância me trazem uma nostalgia gostosa muitas vezes.

Dentro do Museu não foi diferente. Agora, porque a idéia de que tantos momentos históricos se passaram dentro daquelas salas, me desperta um facínio absurdo. Saber que circulando naqueles corredores Getúlio Vargas resolveu dar fim a sua vida, que naquelas enormes mesas ocorriam reuniões que marcaram o futuro do país. Hoje, nosso presente. Tudo isso me traz emoções que não sei explicar.

Para completar o passeio histórico, uma exposição sobre 68 que me arrancou lágrimas em menos de cinco minutos.

Já íamos embora quando me lembrei do Museu do Folclore, logo ao lado e que, para minha descoberta, tem entrada pelos jardins do Palácio do Catete. E ali, onde eu não esperava ver mais nada que me comovesse tanto, em uma pequena sala, vi a exposição que marcou meu dia. Uma homenagem a Mestre Bimba, o mais importante mestre de Capoeira que já existiu. Instrumentos, vídeos, fotos e documentos que registram os caminhos da arte pelo Brasil e pelo mundo. Naquele momento, tive vontade de descalçar os sapatos, pôr as mãos espalmadas no chão e entrar na roda imaginária onde eram projetadas as imagens de grandes capoeristas.

Do Catete para a Lagoa, voltando pela orla até o Arpoador. Sentamos para ver o pôr-do-sol, que não veio. A única nuvem no céu tampava o exato lugar onde ele se esconde, atrás do Leblon.

As horas passavam depressa e já não havia mais tempo de mostrar nada. O trajeto do ônibus para a rodoviária fez o favor de passar pelos lugares que ela ainda não tinha visto: Campus da UFRJ na Praia Vermelha, Enseada de Botafogo, Pão de Açúcar bem de perto, Aterro do Flamengo, MAM, mais prédios históricos do centro do Rio, Central do Brasil.

No fim do dia, exaustas de tanto andar, mas com os corações cheios das emoções do caminho, fomos cada uma para seu destino. Simone, de volta para Três Corações, eu, de volta pro cantinho de Pendotiba, para dormir com o som do vento.



"
Eu andava meio estranho
Sem saber o que fazia, eu não sei
Andava assim eu não sei
Se era feliz
Eu achava que faria uma canção
E a melodia, eu não sei
Andava assim,eu não sei
Se era feliz"
(Oswaldo Montenegro)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Seis propostas para o próximo milênio

Porque certos livros devem ser lidos mais de uma vez e em momentos diferentes


Isso era para ser um post sobre a ansiedade que tenho vivido pela incerteza de meu futuro próximo. Falar sobre as inquietações do meu espírito sempre me deixa um pouco mais leve. Escrever, para mim, equivale a uma boa conversa com amigos numa mesa de bar.

Encontrar títulos para posts é um pouco mais fácil do que para contos, mas foi exatamente no título que escolhi para este post, que perdi o fio que me conduziria em seu andamento.

O que era para ser mais um desabafo tomou outros rumos na ordem das minhas idéias. Me lembrei de ter conversado com minha avó ontem à noite e comentado sobre ter lido o livro que carrega o título que plageei para esse post.

Li Calvino no primeiro período da faculdade - só mais uma das loucuras de uma professora que não dá aula pros alunos, mas para satisfazer seus desejos em divagações sobre suas próprias idéias.

Ler coisas que eu não entendia sempre me deixou preocupada e com uma sensação de burrice congênita, mas hoje sei que certos livros merecem ser lidos mais de uma vez na vida e em momentos diferentes, por pura questão de maturidade de certas idéias.

Quando li Calvino pela primeria vez, mal sabia do que ele estava falando e no meio do caminho, deixei de me empenhar em entender. Entendi o suficiente para fazer uma prova e conseguir a média que precisava para passar, mas sempre tive a sensação de que o que estava escrito ali, naquelas páginas, devia ser muito interessante.

Hoje, não me senti na liberdade de roubar um título ( ou tomá-lo emprestado) sem que antes voltasse a Calvino e suas idéias. Não reli o livro ainda, mas ele acaba de entrar na fila dos que pretendo ler nos próximos meses.

O significado que damos às coisas está diretamente relacionado aos momentos em que elas acontecem nas nossas vidas.

É lendo que a gente aprende a escrever e no meio de tantas incertezas e rumos diferentes para seguir, a única decisão já tomada é aprender a escrever. Porque se o Gabriel Garcia Marquez só passou a viver de seus livros aos quarenta e nove anos, eu ainda tenho uns vinte e cinco até lá. Quem sabe dá tempo?



"Bambeia
Cambaleia
É dura na queda
Custa a cair em si
Largou família
Bebeu veneno
E vai morrer de rir"
(Chico Buarque)

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Eu não sou eu

Sou alguém que você imaginou, uma visão do seu amor


"Eu ainda amo a Paula. É por isso que não me envolvo com mais ninguém."

Eu não amo mais ninguém.

E mesmo com as impressões que se criam, os carinhos que persistem, os afetos que não passam, os desejos que não curam e a insistente fuga de contatos pessoais, quando estes ocorrem vêm como rajadas de novas informações sobre velhos relacionamentos. As impressões já não são as mesmas, os carinhos são quase nulos (nada além do que o normal com pessoas de pouco convívio), os afetos se dissolveram no tempo e os desejos parecem esquecer-se em outros olhares mais distantes. Não é preciso mais fugir.

As pessoas são a representação que se faz delas.

O que pra mim já foi amor, paixão, desejo, desespero de estar perto, necessidade do cheiro, do gosto, do tom...vai se diluindo como sal em copo d'água e só deixa um gostinho de fundo, que ainda dá pra saborear quando se tem vontade, mas que torna o gosto um tanto mais desagradável.

No mais, pessoas nessa idade ou estão casadas ou têm algo de errado e ganhar na loteria não é pra todo dia. Têm prêmios que escapam por por um único algarismo.

O que fica são os sabores de intimidades que geram afetos muito mais duradouros. Amigos têm me curado das maiores carências e chego a pensar que se por algum deles eu tiver desejos sexuais, devo casar de imediato.

Feliz Ano Novo. Que tudo se realize no ano que nasce mais uma vez.

Carnaval é uma época bacana, mas as pessoas têm me dado uma preguiça...



"Eu sou sua miragem
Sombra fresca da sua realidade
Sou sua resposta
Sua ilusão de ótica palpável
Seu improvável
Seu conforto e seu pesadelo"
(Zelia Duncan)

sábado, 9 de agosto de 2008

Aí, só não me irrita, tá?

Eu já expliquei...


Ai Juiz de Fora...

Só aqui eu encontro amigos pela rua em noites de domingo, de segunda, de terça, tudo sem ter que fazer um telefonema, combinar horários...

Vejo gente passando dentro do ônibus e em cinco minutos estamos sentados ao redor de uma mesa, rindo das coisas da vida. Rir esses dias todos me fez um bem incomensurável.

Muita falta dessas pessoinhas com quem eu dividia todos os meus dias.

Bom se sentir em casa novamente.


Mas caaaansa...

E então, levemente, as coisas voltam a irritar esse pequeno ser de humor duvidoso, quase bipolar.

Nada que uma semana com vovó não cure.

Beijos na Kekê!

Aquele abraço!

(Sorte de hoje: Você será uma pessoa bem viajada, seja por lazer, seja por trabalho)



"
Eu tenho um violão para me aconpanhar
Tenho muitos amigos, eu sou popular
Eu tenho a madrugada como companheira
A saudade me dói no meu peito me rói
Eu estou na cidade eu estou na favela
Eu estou por aí sempre pensando nela"
(Zé Keti)

sábado, 2 de agosto de 2008

Ê Saudade!

samba, hip hop, axé, funk, eletro, trance, house, funk novamente, pagode, forró


Sobrevivi!!!!!

Tomar conta de 275 adolescentes num churrasco de duas às dez até que não foi difícil, mas doeu.....

Pulseirinha da visualband era a última coisa que eu pensava encontrar hoje, mas às vezes a vida se faz de pequenos detalhes ligeiros que geram sorrisinhos de canto de boca que ninguém mais pode entender.

Piadas internas são sempre mais gostosas.

Saudades e nostalgias tomam conta de muitos pensamentos em determinadas épocas do ano.

Já estou me preparando pra muitos apertões, mordidas, agarrões e conchinhas.

Criar laços distantes espacialmente pode ser perigoso, mas essa alma cigana não pára. (Quatro cidades em um mês). Fazer o que se meus afetos são cumulativos?

Dizem por aí que a Av. Paulista está com saudades de me ver passar e minha alma carioca orgulhosa abaixa a guarda pra confessar que também sente falta de conversar com hare krishnas na calçada, paquerar a vitrine da Hering, esperar na porta do Mac café, caminhar escondida no meio de tanta gente e por alguns momentos se sentir só mais um serzinho na multidão.

São Paulo me atrai mais do que eu poderia imaginar.

("os opostos se distraem, os dispostos se atraem")

Comentário de alguém que eu não me lembro nem o nome: "Você é meio cigana, né?"

Tive que concordar. Talvez mais do que você imagine.

Aprendendo a administrar sentimentos e sensações, curtindo certos movimentos, deixando que seja.

Por aqui vai tudo bem, obrigada.


"Será que a sorte virá num realejo?
Trazendo o pão da manhã
A faca e o queijo
Ou talvez... um beijo teu"
(O Teatro
Mágico)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Você acredita em Deus?

Deveria ser fácil, mas eu não soube responder


Difícil medir o quanto as pessoas fazem diferença nas nossas vidas.

Péssimo saber que a gente só pensa nisso quando já não dá mais tempo de dizer o quanto aquele ser, perdido na multidão, influencia na nossa forma de circular no mundo.

As coisas continuam acontecendo numa velocidade além do normal, mas eu tento controlar o medo do quê eu não tenho controle algum.

Parece que dessa vez eu não estou com preguiça, melhor aproveitar.

Acredito na energia que circula entre as pessoas, na energia que circula no Universo, na energia que circula entre as pessoas e o Universo, "na fé que você deposita em você".

Se isso se chama Deus, pode ser que eu acredite nele, se não...não sei que Deus tira alguém tão brilhante tão cedo do mundo.


"
É tão estranho, os bons morrem jovens
Assim parece ser quando me lembro de você
Que acabou indo embora, cedo demais"
(Renato Russo)

terça-feira, 15 de julho de 2008

Hora do intervalo

Porque eu também tenho outras paixões


No único dia de folga no meio do festival, fui ao Cine Odeon assistir uma sessão do Anima com o Thiago. Programinha perfeito pra uma segunda à noite. Na saída me deparei com uma pequena "lojinha" (um balcão com alguns produtos trancados numa vitrine). No meio de livros e camisetas, uma edição dos Malvados, as melhores tirinhas dos últimos tempos.

Resovi então passear pelo site e acabei conhecendo outras histórias e me apaixonando por uma em especial.

Então, só para sair do padrão dos posts que eu mantenho aqui, aí vai o link: http://www.malvados.com.br/ilha/index.html

Essa é a melhor série na minha opinião, mas vale a pena conferir as outras, especialmente a Cães de Guerra e Os Últimos dias de Helmut H. De chorar de rir.

Pra completar as dicas, vai um video que conheci essa semana:Como terminar com sua namorada (em 64 fáceis passos)

Os autores têm também um site com outros trabalhos na rede. Pra quem saca de inglês vale a pena conferir e dar umas boas risadas.

http://talesofmereexistence.com

sábado, 5 de julho de 2008

Super Ego imbatível

Com quem eu aprendi a ser babaca


Palavras ríspidas saídas entre sorrisos, olhares de desejo antagônicos às negativas de um beijo, satisfação de ver a cara de pateta que se apresenta na sua frente e satisfação maior ainda ao ver que o desejo do lado de cá aumenta a cada vez que as palavras somem e só sobram os olhares que não conseguem se desgrudar.

Meia-culpa daqui, meia-culpa de lá, tentativa de controlar cada movimento seu e meu. Muita babaquice junta. Descobri com quem eu aprendi a ser babaca.

No fim das contas, vai achando que consegue tudo na hora que quer, enquanto eu vou conseguindo tudo que quero antes do fim.

Não gosto de despedidas, mas elas podem ser um bom motivo pra uma bebedeira.

Discussões a parte, os santos das duas foram fortes o suficiente para armar um encontro tão sincronizado.

Acho que foi a primeira vez que ouvi Camila, Camila tocado ao vivo naquele bar.

No fim, acaba sendo uma bela batalha de egos e orgulhos um tanto feridos por determinadas situações passadas, mas duas pessoas que se gostam e ponto. Sem mais entender o que não existe. Sem que isso seja suficiente para tirar alguém do rumo.

Quem sou eu: A filha do tempo
filhos: sim - "moram comigo"
Etnia: Multiétnico
Religião: Candomblé
Humor: bi-polar
fumo: não
Bebo: regularmente
Moro: Niterói/ Juiz de Fora
Música: Camila, Camila
paixões: Não vivo sem
atividades: me apaixonar


Desisti de que alguém entenda, desisti de tentar explicar muito, mas é isso aí, eu me apaixono, coleciono sentimentos mistos de tesão e carinho, por várias pessoas, ao mesmo tempo.

Um dia ainda caso com um amigo.


"
Eles partiram por outros assuntos, muitos
Mas no meu canto estarão sempre juntos, muito
Qualquer maneira que eu cante esse canto
Qualquer maneira me vale cantar"
(Caetano Veloso)

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Sobre guerreiros e frouxos

O mundo se divide entre frouxos e guerreiros (um post engavetado entre uma batalha e outra)


É assim, passam os anos e a gente vai lentamente se disiludindo com as coisas utópicas da vida. As verdades vão caindo por terra, os assuntos na mesa de bar já não são os mesmos, a cerveja e os petiscos também mudam de gosto.

A vida muda de gosto pra quem tem consciência dela há um tempo bom.

Pelo menos é o que me parece quando passo uma parte do meu tempo conversando com pessoas de duas, três gerações acima da minha.

Natural, tudo muito natural, processos comuns de amadurecimento de mentes brilhantes.

Mentes guerreiras ou frouxas.

o mundo se divide entre quem briga por tudo e quem não briga por nada.

Guerreiros, tal como guerrilheiros, se encontram em grupos, pensam estratégias, elaboram ações e partem pra luta.


Guerreiros da educação, da saúde, da vida. Pessoas que mesmo com todas as desilusões, com todas as quedas de convicções, não deixam de pegar em armas para lutar pelo que acreditam.

Mas existem também os frouxos. Os frouxos parecem já saber de tudo isso. Já nasceram desiludidos. Não criam ilusões utópicas, não apoiam causas humanitárias, até porque é luta demais e resultados de menos.

Resultados são coisas para frouxos. Guerreiros de utopias não pensam em resultados, se concentram nos processos.


Não que ser frouxo seja melhor ou pior do que ser guerreiro. Frouxos constroem família, constroem casas, patrimônios. Preocupados com resultados, frouxos investem em coisas seguras, pensam na estabilidade e constantemente a alcançam.

Guerreiros morrem pobres, com idéias engavetadas e pensamentos guardados no fundo de copos de botequins. Alguns ainda viram mestres, doutores e conseguem uma boa aposentadoria no fim da vida, pra curtir um pouco desse mundo dos frouxos, das coisas boas que essa sociedade consumista ainda pode nos proporcionar.

Guerreiros tendem a morrer desiludidos, a carregar angústias para o caixão e quase nunca chegam a ver algum resultado das guerras que travam durante toda a vida.

Mas frouxos e guerreiros, por mais distantes que pareçam ser, caminham juntos. São padrões de comportamento que podem ser identificados quando ainda somos muito pequenos, na pré-escola.

Poderia passar o resto do dia aqui, escrevendo sobre padrões e sonhos que cada um carrega em si, mas tenho uma guerra me esperando lá fora.


"O teatro mágico é o teatro do nosso interior

A história que contamos todos os dias
E ainda não nos demos conta
As escolhas que fazemos em busca dos melhores atos,
Dos melhores sabores,
Das melhores melodias e dos melhores personagens
Que nos compõem,
As peças que encenamos e aquelas que nos encerram
Nosso roteiro imaginário é a maneira improvisada
De viver a vida
De sobreviver o dia, de ressaltar os tombos e relançar as idéias,O teatro nosso de cada dia"
(O Teatro Mágico)