segunda-feira, 30 de março de 2009

"What is happening?"

Comigo? Nada.


Nada além do que o normal. Tenho tido algumas dores de cabeça, nos últimos dias, mas acho que é da TPM. O pé direito ainda dói em certas posições, mas já consigo descer do ônibus sem ter que me virar de lado. Cansei de tomar os antiiflamatórios (acabam com meu estômago e eu já estava na segunda caixa), mas preciso comprar uma pomada. Quem sabe melhora? Agora, com essa de desemprego novamente, tenho dado prioridade para outras coisas. Mas isso não tem me preocupado tanto assim.

Ah...sim...você diz das minhas calças? Do meu jeito de me vestir? Desse all star velho que eu carrego nos pés?

Comigo? Nada.

Minhas calças são velhas, mas confortáveis. E até aquelas duas que eu comprei semana passada, em mim, parecem ter mais de dez anos. Mas os bolsos são bons. Talvez isso explique a ausência da bolsa. Não saio de casa com nada além das chaves (que penduro no pescoço), cartões e o celular (e com cada vez menos dinheiro). Isso cabe nos bolsos. Não preciso de uma bolsa, obrigada. Meu tênis? Ah, sim, claro. Você já teve um all star? Acho que todo mundo que nasceu dos anos 80 pra cá, já teve um. Meu filho já teve três. Sim, eles ficam melhores com a idade.

Você diz dos meus cabelos? Por que andam presos o tempo todo?

Comigo? Nada.

Sabe, preferia que eles fossem curtos, mas são muito lisos e pesados e nem todo cabeleireiro consegue cortá-los bem. Ainda não conheço alguém que eu confie por aqui. Você conhece?

Como? Esse meu jeito?

Comigo? Nada.

Nasci assim. Não me lembro de algum momento em que eu quis ser diferente. Acho que você me conhece assim desde que nasci, não? É, já faz algum tempo...ainda se lembra?

Comigo? Nada.

Talvez com vocês, mas tem me dado uma baita preguiça de explicar.


"É da praia
Não é de ninguém
Não pode ser tua
Nem minha também
Tereza
É da praia"
(Tom Jobim)

quarta-feira, 25 de março de 2009

Papeando

"Agora senta-se sozinha e relembra"


Coisas que se ouve, se vê, se lê e se fala.

- Por que você me escolheu?
- Porque você parece carregar uma angústia, assim como eu.

- Quando aprendeu esses passos?
- Nunca.
- É a primeira vez que dança isso?
- É.

- O que a inquieta hoje, o que a atemoriza?
- Descobrir que não há paraíso possível, que não existe um lugar onde eu possa evitar a queda.

- É bom saber que você ainda é a pessoa que eu sempre achei que fosse.
- Como assim?
- Te amo, viu?

- E aí, vai voltar?
- Não sei. Talvez. Não sei muito das coisas que estão para me acontecer.

- Suas lembranças são sempre imagens.
- Por isso escrevo.

- E quanto a mim?
- À senhora caberá lembrar-se de tudo.

- Não me olhe assim.
- É assim que sinto.
- Está aqui por livre vontade.
- Sim, mas só por causa do que você disse. E você bem sabe.

- Eu quero morrer sentindo dor.
- Por quê?
- Pra que eu faça alguma diferença.

- Não se sentia sozinha?
- Muito, mas eu gostava da sensação. Ainda gosto.
- Por quê?
- Porque combina com a realidade. Odeio as sensações fictícias.

- A gente veio aqui levar você.
- Eu já estou morto. E posso afirmar-lhes que a morte não é tão má como se pensa.

- Que se há de fazer - murmurou - o tempo passa.
- É verdade - disse Úrsula - mas não tanto
.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Entre livros e cartas de amor

Os namoros da minha avó eram muito melhores que os meus

Pendotiba, calor com brisa, beija-flor na varanda, cachorro no quintal do vizinho, mil e trezentos livros num quarto e mais alguns que passeiam pela casa.

Curso de Quiromancia via internet banda larga.

- Vó, deixa eu ler sua mão.
- Acho que minha mão já tem linhas demais. A gente vai ficando velha e as marcas não param de aparecer.
- Vamos só ver se isso aqui funciona. Afinal, se já está na sua mão desde que você nasceu, dá pra confirmar coisas que já aconteceram.


Dedos, unhas, marcas, traços, linhas, cruzes, pontos, grades e quadrados.

- É, vó... você já namorou bastante.
- Graças a Deus!

E olha que namoro, na época da minha avó, não era nada disso com que estamos acostumados.

Não tinha essa de ir pra night de mini saia ou calça jeans grudada, em cima de um salto agulha, com chapinha no cabelo escolhendo de longe os pretendentes e saindo dali direto pro motel.

Tinha que ir pro baile com o irmão mais velho, os primos e os amigos da rua. Ia e voltava a pé, com sapatos baixos e bem confortáveis de preferência (imagina se equilibrar sobre paralelepípedos num salto agulha?).

O baile era um bom motivo pra arrumar um namorado, claro, mas a primeira idéia era dançar e se divertir com os amigos. Olhares daqui, olhares de lá, chegar perto pra conversar, segurar a mão, tirar pra dançar...usavam todo esse ritual que prolonga o processo por alguns bons dias.

Tinha que ver no baile, tirar pra dançar, ir buscar na escola na semana seguinte, pedir permissao pro irmao, levar no próximo baile.

Falando assim parece uma baita perda de tempo. Se a gente pode resolver tudo aqui e agora, não é?

Tá afim? Também tô? Vambora!

No fundo, o que há de melhor hoje em dia é que podemos ter sexo sem precisar casar. Do mais, não consigo pensar em outras vantagens.

Pode parecer careta, antiquado demais pra minha idade, coisa de mãe que começa a ver o filho crescer, mas ao menos entre meus amigos é unânime a idéia de que o melhor momento de uma relação é o princípio. Quando tudo ainda é motivo pra você se apaixonar, quando um olhar pode mudar o seu dia e o seu humor. Quando um beijo deixa nossas pernas tremendo, o coração disparado e não sabemos onde pôr as mãos.

Esse momento do flerte (não consigo encontrar uma palavra mais atual) ainda é o momento que mais nos agrada e o que cada vez mais pulamos, passamos correndo, aceleramos o passo. Começo a me perguntar: "Pra quê?"

- Mas tem quanto tempo que você tá solteira?
- Ah, vó, um ano e meio, por aí...
- Eu não ficava nem seis meses.


Não sei não, mas começo a desconfiar que os namoros da época da minha avó eram muito mais gostosos também.



"Quem de dentro de si
Não sai!
Vai morrer sem amar
Ninguém!
O dinheiro de quem
Não dá
É o trabalho de quem
Não tem!
Capoeira que é bom
Não cai!
E se um dia ele cai
Cai bem!..."
(Vinícius de Morais)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Relendo contos antigos

Têm coisas que a gente escreve, mas não sabe bem porquê


(...)

"- E não se importa?

- Me importa que nosso afeto não morra, mas eu não posso controlar os seus pensamentos.

- E o que pensou quando levou essa história à diante? Já faz dois meses que vocês se encontram.

- Não pensei, senti. Tem coisas que não têm solução. Eu e Luísa não vamos nos ver mais, sempre soubemos disso, desde o primeiro dia. E não sofremos por isso. Aproveitamos os momentos em que estamos juntas e só. A vida continua, meus afetos não morrem, são cumulativos.

- E como você vai fazer quando tiver cinqüenta anos e uma lista de afetos acumulados? Nunca pensou nisso? Não pensa no que as outras pessoas sentem? Não respeita que elas possam sofrer?

- Você acha que eu não sofro? Por que será tão difícil respeitar que eu faça as coisas dessa maneira?

- Porque isso é egoísmo. Sua maneira egoísta de ser, de só pensar nos seus sentimentos, nos seus prazeres, nas suas dores, sem se preocupar com as dores que possa fazer outra pessoa sentir.

- Todos nós somos responsáveis pelas nossas próprias dores. Tudo que a nossa mente cria é responsabilidade só nossa, de mais ninguém. Eu não posso ser responsável pelos anseios dos outros, pelas expectativas que criam sobre mim"

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Estranho a inversão de certos valores. E de certos personagens também.

Desencantos também são cumulativos e podem ser recíprocos.


"Leve então
O resto desta ilusão
E todos os cuidados meus
Brinquedos dos caprichos"
(Chico Buarque)

segunda-feira, 16 de março de 2009

Mas afinal, que diabos é o amor?

Essa coisa toda que a gente sente e não sabe dizer


- É que eu fico carente e fico sensível também, todo mês lá pro dia 10. É TPM, eu sei. Mas acabo aproveitando para pensar mais sobre certas coisas, dessas que faz bem pensar quando está carente. É como se o coração da gente se alimentasse de sentimentos nostálgicos e carinhosos.

- Eu me apaixono, você sabe. E até com uma certa facilidade. Ontem mesmo estive apaixonado. Uma mulher linda, quase cinquenta anos, inteligente, alegre, resolvida. Mas já passou. Durou o tempo que foi preciso para conseguir admirar tanta beleza.

- Mas o amor...sempre me pareceu não ter nada a ver com a paixão. E ao mesmo tempo, ser impossível de sustentar sem ela.

- É. O amor não é suficiente.

- Não foi. Nunca foi, nem nunca vai ser. Amor sem tesão é sentimento de amigo. Tesão sem amor é sensação para uma boa trepada. Amor com tesão devia durar para sempre. Mas nem sempre dura.

- As pessoas e essa teimosa mania de complicar o que é simples.

- A primeira vez que a gente se apaixona, acha que descobriu o amor. Que não vive mais sem aquele serzinho (que tantas vezes se torna insignificante em menos de um ano). Depois que essa paixão de adolescente passa, a gente descobre que não era nada daquilo. Às vezes, acho que posso me surpreender num próximo relacionamento e mais uma vez descobrir que todo esse amor que eu senti, não era nada daquilo.

- E, às vezes, você pode ficar procurando eternamente por esse sentimento em outro alguém e não conseguir encontrá-lo. O problema é isso se tornar um parâmetro.

- Impossível não comparar qualquer relação com a melhor que eu já tive. Ou ao menos a mais intensa.

- Não tem como não comparar as pessoas. Esse negócio de aguentar frustração, engolir em seco e dizer que está tudo bem é coisa pra quem tem sangue de barata, ou quem finge sentir o que não sente ou ainda, finge não sentir o que sente. Mas isso acontece com o tempo. Aos poucos certas coisas se sobrepõem. É porque você ainda não teve um relacionamento, desses com R maiúsculo, desde que terminou. Um dia ele chega e os parâmetros vão mudando.

- É que pra ter um relacionamento, desses com R maiúsculo, a gente precisa deixar que ele chegue e digamos que eu tenha passado um bom tempo sem deixar que essa oportunidade aparecesse e nas poucas vezes que deixei, me frustrei.

- Eu sei. Mais um processo natural. Você precisou viver esse luto. E confesso que te fez super bem. Algumas das suas melhores sacadas aconteceram de um ano pra cá. E das melhores histórias também, diga-se de passagem. Mas chega de luto. Se joga no mundo.

- Sabe... andei pensando nela... Alguns lugares, alguns cheiros, alguns risos... Tudo isso de bom que eu precisei negar diariamente, só pra ver se passava. É uma tática meio idiota. Passei meses remoendo tudo de desagradável que vivi, pra justificar o término. Nos últimos dias, andei por aí lembrando de muita coisa, assim, do nada... Fui feliz. Fui extremamente infantil, ciumenta e possessiva, mas fui feliz.

- Ambas. Ela me perguntou de você esses dias, mas achei melhor não entrar em muitos detalhes. Ainda acho que você deve investir em outras coisas, outras pessoas, outros cheiros, outros gostos. Nem que seja só pra mudar o parâmetro.

- É...nem que seja.



"Vamos ceder enfim à tentação
Das nossas bocas cruas
E mergulhar no poço escuro de nós duas
Vamos viver agonizando uma paixão vadia
Maravilhosa e transbordante, como uma hemorragia"
(Chico Buarque)

quarta-feira, 11 de março de 2009

Eu tô te confundindo pra te esclarecer

Essa teimosa mania de não disfarçar o que se sente


- Mãe, como que faz pra comer a luz de uma vela?
- Não faz meu filho. Não dá pra comer luz. (Se bem que tem gente por aí que diz viver assim, né?)
- Dá sim mãe, a vovó falou.
- Filho, se você tentar comer luz de vela, vai queimar a boca.
- Mas mãe, a vovó falou que ela ia "jantar à luz de velas".


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"A questão é que as pessoas não costumam guardar as gotinhas. Elas precisam de doses diárias de distrações. Não dá pra viver na realidade 24h por dia".


Ainda assim daria uma vida pela minha lucidez.

E jamais abriria mão de demonstrar o que sinto.



"Muitas perguntas
Que afundas de respostas
Não afastam minhas dúvidas
Me afogo longe de mim
Não me salvo
Porque não me acho
Não me acalmo
Porque não me vejo
Percebo até
Mas desaconselho..."
(Zelia Duncan)

quinta-feira, 5 de março de 2009

Nostalgia com cheirinho de Aloe Vera

Diálogos que merecem ser lembrados


Um dia me disseram que valia a pena guardar certos diálogos, porque se tem grandes chances de esquecê-los.


Mão dadas para atravessar a rua.

- Arthur, tem que olhar pros dois lados.
- Vó, sabia que Dom João fugiu pro Barsil?
- Ah, é? Por que?
- Porque as coisas não estavam boas lá em Portugal, não.
- Ah, é? Por que?
- Por causa do Napoleão. Ele era no mal, sabia?
- Sério?
- Sério. Aí o Dom João fugiu com a família dele pro Brasil.
- Hum...entendi....
- Sabia que Dom Miguel era inimigo de Dom João?
- Não, não sabia.
- Sabia que mesmo assim ele casou com a filha do Dom João?
- Nossa, não...não sabia.
- Que doidera, né?


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Domingo, nove da noite, cheiro de banho inundando o quarto, roupa de cama quentinha, ursinho de pelúcia no colo, livro sobre a vida de Salvador Dali nas mãos.

"...então, Dali conheceu Pablo Picasso e se interessou muito por sua pintura"

- Mãe. Se Dali era surrealista, Pablo Picasso era o quê?
- Hum...(pausa pra não falar besteira). Cubista, filho.
- Mãe, se os surrealistas pintavam o que eles sonhavam, os cubistas pintavam o quê?
- ???? Filho, vou ver no google e te falo depois, tá?


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Jogo Inglaterra X Espanha na TV. Criança, cachorro, macarrão quente no prato, amigos jogados no sofá.

- Arthur, tá torcendo pra quem?
- Pra Espanha.
- Isso aí Arthur! A Espanha é um país muito legal. É muito bonito. Eu vou morar lá um dia e aí você pode ir me visitar, tá?
- Ah...não vai não!
- Como assim, Arthur? Vou sim. Vou morar na Espanha e você vai lá me visitar.
- Mas não vai mesmo. Eles estão expulsando todos os brasileiros de lá.


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Tarde de domingo. Ano de alfabetização. Longo caminho a pé.

- Ba-bbo Gi-a-bba Pi-zza-ri-a. Hum, mãe...aqui vende pizza, né?
- Sim, filho.

Alguns metros a frente.

- Po-ten-za a-ca-de-mi-a. Hum, aqui é uma academia, né, mãe?
- Sim, filho.

Mais alguns metros.

- Cã-o bra-vo. (???) Mãe, aqui só vende cão bravo?



"Do que é feita a nuvem?
Do que é feita a neve?
Como é que se escreve
Re...vèi...llon"
(Paula Toller)

Se não tivesse o amor

Melhor era tudo se acabar


- Oi.
- Olá. Acabei de falar de você.
- Ah é? Com quem?
- Com uma amiga. Tava dizendo pra ela que vamos casar.
- Ah é?
- Ela comentou que não acredita em casamento e eu disse que só acredito em casamento com você.
- Mas eu falo isso sério, por mais que as pessoas achem que eu estou brincando.

(...)

- Toda vez que entro bêbado no msn fico falando besteira pra você, né?
- rsrsrsrsrs. Tá tranquilo. Toda vez que eu entro no msn estressada, fico falando horas na sua cabeça.
- Um dia eu ainda chego em você de verdade. Mas acho que a gente vai morrer de rir.
- Então, essa coisa toda de sexualidade e relacionamentos, sabe como é...e minha preguiça.
- Mas aí complica muito e nosso lema sempre foi descomplicar.
- Sabe, acho que isso de magoar as pessoas acaba fazendo com que eu prefira ter quem eu amo por perto sem me envolver. Como que pra polpar das besteiras que eu sei que vou fazer.
- Mas quem disse que eu quero casar agora?

Tem coisas que ficam muito mais bonitas sem ter explicação.



"E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã"
(Toquinho e Vinícius)

quarta-feira, 4 de março de 2009

Relendo scraps antigos

Coisas que não se pode esquecer


Um trovão acontece anunciando a chuva que começa logo em seguida. Arthur toma um baita susto.

- Viu, Arthur? É o Thor com o bastão.
- Mas o Thor não existe, mãe. É uma lenda.
- Saci também é lenda e agora eu sei que existe.
- Mãe, ninguém acreditou que vc viu um saci.
- É verdade, Arthur...
- Nem a Thalita acreditou?
- Não, nem a Thalita acreditou. Achou que eu tava ficando doida.
- É mãe, se nem a sua melhor amiga acreditou, deve ser só uma lenda mesmo...

segunda-feira, 2 de março de 2009

Eu, que não amo ninguém

E vivo a morrer de amores


Não tem explicação mesmo. Não precisa ter. Quem disse que essas coisas têm explicação?

Não me cobre questões claras, perguntas objetivas, respostas rápidas. Não as tenho, ou pior, não quero tê-las.

Nenhuma intimidade é suficiente pra se dizer certas coisas. Ninguém é amigo o bastante pra entender certos sentimentos. E isso não tem nada a ver com confiança.

Não quero uma vida repleta de grandes feitos, mas de pequenos detalhes cotidianos saboreados a cada instante.

Vou sentir falta de ver o mar do alto do viaduto.



"E eu não tenho nada a te dizer
Mas não me critique como eu sou
Cada um de nós é um universo, Pedro
Onde você vai eu também vou"
(Raul Seixas)