sábado, 29 de setembro de 2012

Eu não sei dar títulos aos textos que escrevo


Ah, doutor, o que é isso?
Muito diagnostico e pouca eficácia.
A objetividade me cegou.
Não ouço mais vozes.
Não digo mais nada.
Não há o que dizer.
As palavras são

A dramaturga calou-se.

Acordei e era uma noite hip hop.
Gritavam comigo
“Qual é a dessa fala?”
E falavam de mim
“Qual é a dessa porra dessa fala?”
E em minha defesa, a ausência
É o jeito que eu falo?
São as minhas palavras
ou o meu ritmo?
“Qual é a dessa fala?”

Acordei e eram os dois, o casal
me olhando da parede
me encarando à distância de quem vive em países frios
me encarando à distância de quem vive durante  guerras
Qual é a dessa fala?

A dramaturga ficou sem palavras

Eu poderia sentar aqui e escrever sete páginas
sete páginas de coisas bonitas e profundas
sete páginas de sete blogs sobre sete formas de manifestações da potência
Eu poderia sentar aqui e escrever pra vocês sete vezes o que eu já escrevi na vida
Mas não.

A dramaturga ficou sem palavras

O quanto é potência um soco bem dado no auge da raiva
O quanto é potência um grito desesperado na hora do medo
O quanto potência um monte de palavras empilhadas
O quanto potência
O quanto eu
Mas não

A dramaturga ficou sem

Acabo de acordar e é a cara dele sem graça
A cara dele querendo um soco no auge da raiva
A cara dele fugindo do meu olhar
Acabo de acordar e talvez, mais uma vez
talvez eu me importe mais do que deveria

Eu poderia sentar agora e escrever sete páginas
Mas são duas

sábado, 15 de setembro de 2012

E, até que enfim, eu chorei

Talvez, escrever seja bem mais que isso, seja tudo isso e mais aquilo tudo que a gente aprende. Talvez, às vezes, escrever seja apenas jogar fora essa angústia. Esse ar comprimido no peito, esse engasgo.

Talvez.

Talvez, não conseguir dormir depois de ouvir um cometário racista ainda seja o que sobra de mim nessa cidade.

Nessa cidade que se diz tão desenvolvida, que se auto-rotula lugar de todo mundo.

Lugar onde todo mundo é sempre massa e indivíduo. Sempre mais um na fila do metrô, do cinema, do restaurante, da padaria, do supermercado, fila de carro no pedágio, de bicicleta na nova ciclofaixa. E sempre mais um mundinho fechado. Mais um umbigo.

Será que alguém se ama em SP?

Tenho esbarrado muita gente nesse último ano e meio. Tive boas conversas em botequins e deliciosos jantares em restaurantes japoneses, mas amor...

Vai ver, essa história de amor é coisa de mineiro mesmo.

E eu, carioca de nascença, me amineirei pelo caminho.

Faz parte do meu caminho passar por aqui. (E disso eu sempre soube. Como uma certeza daquela que não se sabe bem de onde vem.) Mas...

Mas é uma vida que me deixa sem palavras, justo no momento em que eu aprendo cada vez mais sobre elas.

É uma vida que me deixa em pausas, enormes, respirando fundo pra resistir ao último olhar de preconceito, ao último comentário racista, a última demonstração de desprezo. Desespero. Por ar.

O meu falta a cada cinco minutos.

Eu pulo as linhas.

Talvez

Talvez, eu me importe mesmo é com respirar fundo. E sentir cheiro de vida. E não de cano de descarga.

E aí, meus braços e colos, que andam agora espalhados pelo mundo, me deixam sempre assim. Com essa nostalgia precoce.

E aí, olhar pro lado e ver o desespero no lugar do sorriso que me encanta. Ver angústia no lugar em que havia calma e tranquilidade, me faça respirar mais uma vez.





Amor, hoje, sou eu que não dou conta.

Amor, hoje, sou eu que quero pedir: "me tira daqui".

Porque o tempo que eu consigo prender a respiração nunca supera dois anos.

E já passou da hora da gente ser feliz.