terça-feira, 28 de abril de 2009

Tempo de amor

"Ah, que não seja meu o mundo onde o amor morreu"


- Eu vou virar biscate, Camilinha. Fui bacana, honesto, sincero, íntegro e só me fodi. Foderei com a vida alheia, então. rsrsrsrsrsr

- Eu passei mais de um ano toda preocupada com uma. Preocupada em como levar essa historia, porque, no fim, não tinha muita história e eu só queria que ela continuasse minha amiga...E aí??? No que deu??? Tomei no c*! Tive a maior paciência com a outra. Passei três anos vendo, basicamente, só quando ela queria me ver. Dando colo, ombro, sexo, tudo que ela precisava quando me procurava. Pra quê??? Olha aí no que deu! Aí, eu começo a me lembrar, de que quando eu era mega filha da puta, quando eu vivia na pegação desenfreada, quando eu pegava três ao mesmo tempo, as três viviam apaixonadas por mim. Esse mundo não é nada coerente, amigo.



O que salva é pensar que a vida vai passando aos pouquinhos e que, também aos pouquinhos, a gente vai criando juízo, criando preguiça, criando calos enormes que nos fazem pensar que nada é nem oito, nem oitenta. Ainda gosto de me divertir, mas pago o que for pela minha tranqüilidade. E ando querendo casar.




"Se você não se distrai, o amor não chega
A sua música não toca
O acaso vira espera e sufoca
A alegria vira ansiedade
E quebra o encanto doce
De te surpreender de verdade"
(Zelia Duncan)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Odalisca Andróide

Descobrir o verdadeiro sentido das coisas é querer saber demais

Eu estou sempre aqui, olhando pela janela. Não vejo arranhões no céu nem discos voadores.

Os céus estão explorados mas vazios. Existe um biombo de ossos perto daqui. Eu acho que estou meio sangrando. Eu já sei, não precisa me dizer. Eu sou um fragmento gótico. Eu sou um castelo projetado. Eu sou um slide no meio do deserto. Eu sempre quis ser isso mesmo. Uma adolescente nua, que nunca viu discos voadores, e que acaba capturada por um trovador de fala cinematográfica. Eu sempre quis isso mesmo: armar hieróglifos com pedaços de tudo, restos de filmes, gestos de rua, gravações de rádio, fragmentos de tv.

Mas eu sei que os meus lábios são transmutação de alguma coisa planetária. Quando eu beijo eu improviso mundos molhados. Aciono gametas guardados. Eu sou a transmutação de alguma coisa eletrônica. Uma notícia de saturno esquecida, uma pulseira de temperaturas, um manequim mutilado, uma odalisca andróide que tinha uma grande dor, que improvisou com restos de cinema e com seu amor, um disco voador.

(Fragmento do Texto Disco Voador, de Fausto Fawcet)




"Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora
Cada um de nós compõe
A sua própria história
E cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
De ser feliz"
(Almir Sater e Renato Teixeira)

sábado, 25 de abril de 2009

Desencontros casuais

Tirando as dúvidas que ainda restavam


Os 21 dias já estavam acabando, e eu achando que o melhor (que eu tinha pedido) era conseguir esquecer sem precisar cruzar com ela.

"Você não tá sonhando não, Camilinha. Sou eu mesma. Passei no Gil, ele disse que você tinha acabado de sair de lá e vindo pra cá."

Escorpianas não são difíceis, difícil é lidar com a incoerência dos outros.

- Que loucura! Será que alguém falou alguma coisa pra ela?
- Que tipo de coisa?
- Não sei. Pelo que entendi, alguém deve ter dito alguma coisa que você não sabe.
- Não..nem...eu falo tudo pra ela. Ela sabe que eu gosto dela demais. Mas tem tudo isso de não se assumir, do perrengue que ela passa com a mãe...Mas ela deixou bem claro, hoje, que independente disso, não rola nada.
- Mas isso, por si só, não justifica o surto que ela teve.
- É porque ontem..a noite toda...foi foda.
- Ela não foi la pra te ver?
- Não sei. E a gente não ficou.
- Ela não ficou com vc?
- Não. Só me beijou na hora que eu pedi. Pedindo quase por favor. E mesmo assim me deu dois beijos de três segundos.
- Então. Se mudou a postura dela do nada é porque alguma coisa aconteceu.
- Porque ela é doida. Porque ela não se assume. Porque...sei lá porquê.
- Mas ela ta numa raiva que não tem explicação.
- Pois é. É como se ela tivesse raiva de eu gostar dela. Acho que isso que me fez mais mal.
- De boa... desencana, baixinha.
- A postura dela é: "eu estou cheia de problemas, não vou me envolver nem com você nem com ninguém...desista. E não me apurrinhe mais."
- Independentemente. Ela ta sendo agressiva. Não tem porquê. Eu acho que alguém deve ter buzinado alguma coisa no ouvido dela, ou qualquer coisa assim. Porque ela não te trataria mal. Pelo que entendi, ela gosta de você também. Tanto que foi atrás. E das duas uma: ou alguém falou alguma coisa ou ela ficou com medo de realmente começar a gostar de você. Faz sentido?
- Ela consegue pirar mais que eu com isso. Problema é que eu fico mal com isso, sabe?
- Ahhh. Desencana. De verdade. Não se preocupa com o que não tem solução.




"Essa é a última solidão da sua vida
Aproveite e cure a última ferida
E nunca mais solidão"
(Moska)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Salve Jorge!

Axé pra quem é de axé, saravá pra quem é de saravá


Eu sou descendente zulu
Sou um soldado de Ogum
Um devoto dessa imensa legião de Jorge
Eu, sincretizado na fé
Sou carregado de axé
E protegido por um cavaleiro nobre

Sim, vou na igreja festejar meu protetor
E agradecer por eu ser mais um vencedor
Nas lutas, nas batalhas
Sim, vou no terreiro pra bater o meu tambor
Bato cabeça, firmo ponto, sim senhor
Eu canto pra Ogum

Ogum

Ogum
Um guerreiro valente, que cuida da gente que sofre demais

Ogum
Ele vem de aruanda, ele vence demanda de gente que faz

Ogum
Cavaleiro do céu, escudeiro fiel, mensageiro da paz

Ogum
Ele nunca balança, ele pega na lança, ele mata o dragão

Ogum
É quem dá confiança pra uma criança virar um leão

Ogum
É um mar de esperança que traz abonança pro meu coração

Ogum

Deus adiante paz e guia
Encomendo-me a Deus e a virgem Maria, minha mãe ..
Os doze apóstolos meus irmãos
Andarei neste dia, nesta noite
Com meu corpo cercado, vigiado e protegido
Pelas as armas de São Jorge
São Jorge sentou praça na cavalaria
Eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem
Tendo mãos não me peguem, não me toquem
Tendo olhos não me enxerguem
E nem pensamento eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão
Facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é da Capadócia.

Salve Jorge!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Calma, tudo está em calma

Deixe que a alma tenha a mesma idade que a idade do céu


E em cada instante um esforço. Trabalho contínuo e duradouro. Reflexões em pedaços, bocas, lábios, sons, o barulho do silêncio do mar. A pedra, o sal, o sol. Poesia natural. A poesia existe antes do homem.

Cerveja gelada, cadeira de madeira, barquinhos de papel, um sanduíche na esquina pra prevenir a ressaca.

E mais um dia amanhece na Praia de Botafogo.

Pra deixar o tempo fluir. Pra confiar no que há de vir. Pra saborear os segundos de paz. Arroz, feijão e farofa. Pra acordar com um: "Bom dia, linda!"

Deixe que o tempo cure.

Maturidade não tem quem te ensine. E bate na porta quando menos se espera.




"Calma!
Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu
A mesma idade
Que a idade do céu"
(Paulinho Moska)

Mais trechos

Pedaços de coisas que fazem sentido além do sentido que deveriam fazer


"Quando por aí anda sobrando tanto filho da porcaria, por que há de morrer gente que faz falta?!"

(Quantas vezes eu quis dizer isso nos últimos dois anos...)


"Que não venha me dizer, a mim que sendo cego vi muita coisa com as orelhas."

(Miguel Ângel Asturias - Vento Forte)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Filho do homem

Trechos perfeitos


"Sempre a dualidade de cinismo e imaturidade, alternando-se nos mais insignificantes atos da minha vida! E este gosto pelas grandes palavras! A realidade era muito mais eloquente".

Augusto Roa Bastos

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Memórias, crônicas e declarações de amor

Entre os "talvez" de uma memória distante


Eu queria escrever. Mas não deu. Faltou inspiração, faltou tesão, faltou quase tudo. Tem faltado muita coisa.

Tem de sobra a falta das coisas. A falta do cheiro, do calor, do gosto. A falta de sentir falta.

Tem sobrado os quereres e estares sempre afim, faltando o que em mim já fez tanta parte.

Vinte e um dias pra que tudo se resolva. Que seja para ter ou para sobrar. Para sobrar essa falta de querer bem, de querer perto, de querer dentro. Ou para ter aquilo tudo (ou quase nada) que já pensei que quis dela, ou com ela.

Que acabou por se tornar só um querer no meio dessa confusão de vontades. Que se tornou meu último querer dos últimos tempos. Ela que nem deve se lembrar muito bem de mim, que mal sabe meu cheiro, que me disse um dia gostar do meu gosto. (Será?) Ela que é tanto e que tem tanto, que despreza o que lhe ofereço.

Ela que veio a ser minha maior incógnita e, por isso mesmo, tão desejada. Ela que é meu último apego ao querer bem sem saber muito bem porquê.

Ela que dentre tantos sentimentos vagos, me desperta um sei lá o quê, que me mantém assim. Me segurando à última gota de paixão que sai de mim.

Talvez nem a queira para toda vida. Talvez nem a queira para todo um dia. Talvez só deseje um momento de cumplicidade, um carinho depois de um bom sexo. Colos, cheiros, apegos, sussurros e segredos saindo como águas límpidas, sem rancores.

Talvez seu mistério perca toda a graça depois de desvendado. E talvez não seja nada disso.

Tem sobrado muita falta. E eu só queria me apaixonar novamente.



"Beijos,
Ainda quero mais beijos teus
Beijos,
Para satisfazer os meus
Beijos,
Nem que sejam de falsidade
Beijos,
Melhor que se fossem de verdade"
(Cartola)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O mundo é um moinho

Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos


- Chegou mais cedo hoje?
- Vim embora.
- Aconteceu alguma coisa?
- Coisas acontecem todos os dias.
- Quer conversar?
- Não.
- Boa noite.
- Boa noite.

- Na verdade quero.
- Pode falar.
- Até onde você iria por amor?
- Como assim?
- O que você faria por alguém?
- Difícil dizer assim, sem analisar uma situação.
- É que eu acho que não faria muito.
- Talvez porque não ame de verdade.
- Mesmo amando. Meu muito é pouco pra muita gente.
- Essas coisas são relativas. Você se sente mal com isso?
- Às vezes. Se vejo que sofrem por minha causa. É incômodo fazer alguém sofrer, mas não chega a me doer... Sabe, essas coisas que acontecem todos os dias, me deixam cada vez mais frio e distante. Emotivamente frio e distante.



"Sou inquieta, áspera
E desesperançada
Embora amor dentro de mim eu tenha

Só que eu não sei usar amor

Às vezes arranha

Feito farpa"

(Clarisse Lispector/ Cazuza)

terça-feira, 7 de abril de 2009

Haverá paraíso?

Detalhes propulsores da constante metamorfose


- Mãe, por que se chama mountain bike se não é de moto, é de bicicleta?

Quando uma prioridade se sobrepõe à outra, respirar fundo e contar até um milhão faz a gente ver tudo de outra forma.

A sobriedade me atrai mais do que imaginava.

- Camilinha, a verdade é que as pessoas são muito chatas. Dá uma preguiça...

Algumas coisas nunca mudam.

O que muda são as urgências. Têm coisas que ninguém pode fazer por mim.



"Haverá paradeiro
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de um vício?"
(Arnaldo Antunes e Marisa Monte)

domingo, 5 de abril de 2009

Duas garrafas de água e a conta

O lugar certo pode não ser o lugar ideal


- Eu sou do tipo que sofre. Sabe aquele que, quando chega pra contar pros amigos, só recebe esporro?

- Sei bem.

- Pois é. Só escuto assim: "Você é muito bobo", "Pára de sofrer por isso", "Você acreditou nele?" Mas fazer o que se eu me apaixono?

- Eu também já me acostumei a levar esporro, mas porque acho que essa mania de seduzir acaba com a nossa reputação. Ninguém acredita quando eu realmente estou apaixonada.

- É, te confessar que já vi você se apaixonar por três na mesma semana.

- Mas aí não era exatamente paixão...era fogo..e fogo por pessoas que seriam interessantes de se apaixonar.

-Mas ser interessante de se apaixonar são assegura nada.

- Pois é...se nem amando assegurou...imagina querendo amar?

- Vocês de escorpião...sempre nos extremos...ou muito sentimental ou muito racional.

- Conheci pessoas pelas quais eu realmente gostaria de ter me apaixonado. Mas isso de sentir a gente não escolhe, né?

- Pois é...e eu me apaixonei por pessoas que eu fiz de tudo pra não me apaixonar.

- Por quê?

- Porque tem gente que não presta, que você sabe que não presta...ou porque eram umas pessoas um pouco parecidas com você, dessas que a gente sabe que prestam, mas só quando querem. E é arriscado demais servir de cobaia.

- Nossa. Já ouvi muita coisa sobre escorpianas e muita coisa sobre mim, especificamente....mas nunca assim. Nunca parei pra pensar desse jeito. Mas eu não uso as pessoas...pelo menos não sem o consentimento delas...rsrsrsrsrs

- Você não presta!

- Você também não acredita, né?

- Acreditar no quê?

- Que eu goste dela. Também acha que é só fogo.

- Olha, eu me surpreenderia se fosse só fogo. Porque faz tempo que você fala essas coisas sobre ela. Mas isso de ser um desafio, de você nunca saber muito bem o que rola...acho que é um ótimo combustível.

- Me chamaram de covarde. Publicamente. Não me senti bem, por mais que saiba ser um tanto covarde muitas vezes.

- Não acho covardia. Conheço ela, até bem antes de te conhecer. Sei como é. Um dia ela relaxa, a ficha cai melhor, ela se livra das coisas que ainda fazem ela pensar que não vale a pena viver isso. Aí é bem capaz dela te procurar, pra pôr isso a limpo.

- Pensei em ligar. Eu sempre penso em ligar. Às vezes mando mensagens, quase nunca ela responde.

- É difícil mesmo. Ninguém te disse que seria fácil, não é? E foi você mesma que se dispôs a isso. Que sempre esteve à disposição pra conversar, pra consolar, pra curar carência. Não dá pra ter pressa.

- E isso não seria covardia?

- Talvez fosse, se o seu medo não tivesse fundamento. Com ela ou com qualquer outra é super normal você ainda sentir esse mínimo de receio de se relacionar. Sendo com ela então...calma.

- É...a maldita pressa da juventude.

- Quando é que você vai voltar a beber?



"Meu coração
Tem mania de amor

Amor não é fácil de achar

A marca dos meus desenganos

Ficou, ficou"

(Paulinho da Viola)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Nem choro, nem vela, nem fita amarela

Das coisas que se escreve


"Quis tocar-lhe os braços num gesto de afeto que não lhe cabia. Recuou com as mãos até os próprios braços enlaçando-se em suas confusões. Era linda, estava estática, com os olhos cheios de lágrimas que não rolavam. Quis novamente abraçá-la, pegá-la no colo, levá-la para casa, mas não conseguia se movimentar além do espaço que o próprio corpo ocupa no mundo. Conteve os gestos, tentou algumas palavras. Descobriu que às vezes o silêncio diminui o desconforto".



"Você se aproxima de mim
Com esses modos estranhos e eu digo que sim
Mas teus olhos castanhos
Me metem mais medo que um dia de sol"
(Tom Jobim)