sábado, 29 de novembro de 2008

This is not a Love Song

Um elogio ao caos


Talvez seja uma impressão antiga, dessas que vão se clareando conforme os anos passam e a tal "maturidade" começa a aflorar, mas sempre tive a sensação de viver em meio a uma grande desordem.

Desordem de pensamentos, de atitudes, de morais que se chocam e códigos de ética divergentes. Desordem dos acontecimentos em tempo integral. E essa estranha mania de procurar motivos para tudo.

Se algo dá certo:"Graças a Deus". Se os objetivos não são alcançados: "Deus tem outros planos para você". Se sai tudo errado: "É provação divina".

E nessa história de responsabilizar Deus por tudo, a síndrome de Polyana vai se alastrando, a venda de livros de auto-ajuda se multiplicando e os discursos feministas perdendo completamente seu sentido.

E eu ainda tenho que ouvir por aí que tive sorte. Sorte por não deixar que meus problemas se sobreponham às minhas alegrias, sorte por ainda conseguir sorrir mesmo estando no olho do furacão, sorte por ter tesão no que eu faço.

Talvez o caminho seja exatamente o inverso. Tenho tesão em tudo que faço, porque não consigo fazer nada sem tesão. Não rende, não me empenho e tenho um tanto de perfeccionismo suficiente pra pensar em pular fora de qualquer coisa antes de queimar meu filme.

A sorte de cada um não é dosada na hora que você nasce, é construída pelo caminho. "O caminho se faz caminhando". Livre-arbítrio é poder escolher as companhias e os percursos.

Sorte é perceber, o quanto antes, que tudo que te acontece é resultado das suas próprias escolhas. Não escolher pode ser a mais drástica delas.

A vida é um emaranhado de acasos que insistimos em dizer que não existem, por pura covardia de legitimar o caos.




"Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado"
(Chico Buarque)

domingo, 23 de novembro de 2008

O Pôr-do-sol é de quem vê

Woody Allen é melhor em Barcelona do que em NY


É quase uma unanimidade, pelo menos entre meus amigos mais próximos.

Ah o verão...ainda escrevo uma tese sobre as energias que circulam nas partes do planeta que ficam mais inclinadas ao sol, durante certa época do ano. Alguma coisa deixa os corpos e mentes um pouco mais libertos nessas noites amenas. E quando ele acaba... Já diria meu amigo Chico - "tantos passarão...eu passo".

E Allen conseguiu passar isso muito bem. Bem até demais. No meio das escolhas, dos impulsos, das atitudes racionais e das paixões explosivas. Me senti um tanto Cristina. "Não sei bem o que eu quero, mas quase sempre sei o que não quero". Um tanto Maria Helena. Porque tem relações que não se resolvem, mesmo tendo tudo pra dar certo. Um tanto Vicky, com essa mania louca de achar que pode escolher os próximos passos das próximas relações. Só não me senti nada Juan Antonio, até porque, sendo disputado por tantas beldades, onde é que aquele homem tava com a cabeça???

Ando precisando de fins de semana em Oviedo. Apesar do último ter sido quase perfeito.

Dias intermináveis, tardes longas, shows excelentes, tempo para todos os tipos de amigos, para curtir casa, praia, lapa, botafogo, música, circo, teatro, cinema e terminar com almoço em família e longas conversas ao telefone.

Se essa tal perfeição existisse, era bem capaz de ser algo próximo ao fim de semana prolongado. Tirando tintas erradas e choros ao telefone.

JF só ia me ver no Natal, mas não consigo resistir a um apelo do pequeno. Ainda mais sendo o primeiro, em tantos meses.

Pode fazer bem. Para a cabeça e para o espírito. Já disseram por aí que é melhor ser a pessoa errada na hora certa. Confesso nunca ter tido muito inclinação a ser certinha.

"Você sabe o mal que se esconde no coração dos homens? O Sombra sabe!"

Essas conversas de família rendem várias piadinhas.

"Qual foi a última vez que você viu o seu pai?"

Cineastas por todo o mundo andam bem inspirados.

Ainda tem uns cinco filmes em cartaz que eu quero ver.



"
A maioria das pessoas passa de oito a doze horas por dia
fazendo coisas que não fazem sentido na vida delas
PERMITA-SE! PERMITA-SE!"
(O Teatro Mágico)

sábado, 8 de novembro de 2008

A primeira vez a gente nunca esquece

Tardou, mas não falhou


Tem coisas que são praticamente inevitáveis na vida, mesmo não sendo muito agradáveis. Quando se trata de relações afetivas então, é tudo muito clichê.

Você vai se apaixonar, você vai achar que não vai conseguir viver sem alguém, um belo dia esse alguém vai embora (por um motivo qualquer) e você vai ter que aprender, na marra, que relações não são eternas. E como já disse Arnaldo Jabour, não é porque acabou, que não deu certo. Relações, como tudo na vida, têm um prazo de validade. A diferença é que o do leite vem na caixa, mas ninguém desfila por aí com números na testa.


No meio de tantas coisas comuns a tanta gente diferente, "tomar um pé na bunda" é só mais uma dessas situações clichês. Normal, acontece com todo mundo. Aos quinze, vinte ou quarenta anos. Se você nunca tomou um, aguarde: ele pode tardar, mas não falha. Só que as pessoas têm o péssimo costume de acreditar que certas coisas não vão lhe acontecer, principalmente se você passa por tantas fases da vida imune a elas.

No auge dos meus vinte e quatro aninhos, acho que, ingenuamente, não acreditava que fosse passar por tal situação. Confesso que já aprontei um bocado, já me apaixonei loucamente, já traí e já fui traída, já namorei por um mês, por um ano, por quase dois (porque além disso ainda tá muito longe da minha realidade). Já tive rolos, casos, acasos, aventuras, encontros e inúmeros desencontros. Já me magoaram e já magoei quem não queria. E mesmo com tantos acontecimentos nessa vida louca, eu passei anos imune ao tal "pé na bunda". De tanto que ele demorou, eu não me preocupei em me preparar psicologicamente para quando viesse. E ele tardou, mas não falhou.

Dói. Dói o cotovelo, a cabeça. Dói a queda por terra das reles expectativas de bons dias ao lado de alguém. Dói pensar que não se pode ter tudo nunca. Que essa coisa de querer construir uma relação não existe, porque uma relação são sempre duas. Não adianta achar que está tudo muito bom se na tal outra relação, que corre paralela, nem tudo são flores.

E é uma dor estranha, que, a princípio, não se sabe muito bem de onde vem. Não sei se dói por mim, por você ou por tudo o mais que poderia ter sido e não foi. Mas nada que uma boa cachaça no balcão não ajude a curar. Colo de amigos são sempre bem-vindos nesses momentos também. No meu caso, como nada pode acontecer numa "normalidade", mesmo quando apareço no meio da noite com a cara mais triste dos últimos tempos, a história vira piada.
"Tomei um pé na bunda."
"Ah normal, acontece."

"Eu sei, mas fico triste mesmo assim, né?"
"Peraí, isso aconteceu hoje?!"
"É...agora. Coisa de quinze minutos"
(Risadas generalizadas)

Ao menos não se perde o bom-humor.

Dor curada, o que sobra é lamento e brigadeiros com granulado verde.

Crianças continuam sendo uma excelente terapia. Dá um baita orgulho saber que influencio no desenvolvimento de um serzinho que se torna cada vez mais um belo rapaz.

"O que você quer de presente, Arthur?"

"Ah, pode ser um livro... ou um jogo..."



"Minha cara, minha Carolina
A saudade ainda vai bater no teto
Até um canalha precisa de afeto
Dor não cura com penicilina"
(Zeca Baleiro)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Notícias da Capital Imperial

"Aqui desembarcou a Família Real"


Paineiras, Largo da Batalha, Garganta, Santa Rosa, Centro, Barcas - "O transporte mais rápido e seguro para chegar ao outro lado da ponte" - Praça XV, Rua da Assembléia, Centro, Flamengo, Botafogo, Copacabana, Ipanema, Leblon, Lagoa, Gávea, Rocinha, São Conrado, Barra da Tijuca. (E voltar isso tudo depois) R$16,00 no seu RioCard.

Passar na orla as dez da manhã e ver a praia cheia, enquanto você está de casaco pra aguentar o frio que faz dentro do ônibus com o ar condicionado mais potente do planeta, não tem preço.

Duas horas e meia de ida e duas horas e meia de volta. É o tempo que eu gasto todos os dias pra ir até o trabalho. Sem trânsito ruim ou acidentes. Ler, comer, dormir, trabalhar, ouvir música, assistir TV. Dá pra fazer de tudo no caminho.

Como diz a Srta. Peron, eu ando reclamando muito do trânsito. Não que eu seja alguém que anda por aí reclamando de tudo, e até escolho o lado do ônibus que dá para a praia, pra ir aproveitando a vista. Mas viver nesse caminho um mês seguido deve matar. Se não de sono, de cansaço. Conto as horas de descanso diários somando os minutos que tiro aquele ronco com a cabeça encostada na janela ou caída pra trás no encosto do banco.

Mas, mais uma vez, o povo andou com tudo no tempo certo. A vida virou 180° em duas semanas e os planos, que já estavam sendo arquivados pro próximo ano, deixaram de ser meras expectativas.

Vou aprendendo cada vez mais a arte da paciência e os segredos do Tempo. Essa sensação de meta alcançada, de encontros "casuais" em momentos cruciais, tem um quê de plenitude, de se sentir parte de uma mega energia que nos rodeia. E isso não tem preço.

Confiança, gratidão, paciênca, calma. Exercícios constates de racionalidade para uma pessoa tão impulsiva, ansiosa e agitada quanto eu. Mas um dia eu chego lá.

Dia nove tem parabéns. O reizinho está crescendo.

Tenho me sentido tão velha pra tão pouca idade. Affe.



"Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo"
(Caetano Veloso)