sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Oposição

Parece que a oposição está aprendendo a ser oposição (da maneira mais absurda). Mas que andam jogando o xadrez com jogadas de mestre, andam. Derrubando um por um cada ministro. Nesse ritmo, teremos o governo enfraquecido em menos de um ano. Dilma que se cuide.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Milésima Ode à Salvador Dali

O grito surdo agora faz sentido. De sentir de outra maneira, de sentir pelos olhos do outro a dor alheia. Sentidos. Qual não faria? O que eu não faria? 

Compartilhando da mesma inquietude e desassossego. Do mesmo egoísmo e modéstia. O gosto pelos elogios. Esse elástico, solta e puxa, de crescer e não querer crescer mais. Onde foi? De onde veio? Por onde passa a construção do gênio?

É que às vezes eu me pego dividindo sentimentos e sensações, como uma adolescente ouvindo música pop. Seria isso? Uma adolescência tardia? Ou essa insegurança/incerteza é só aquele frio na barriga antes da cortina se abrir?

As palavras se embaralham diante dos meus olhos e eu só vejo o branco do fundo da tela. Brilhando. Letras de areia. Onde?

Talvez na persistência e na certeza. Aquela certeza que eu te confessei um dia, depois de algumas cervejas, no meio da multidão.

Quando? Quando é tempo? Quando ainda dá tempo?

Chega de queixas.





quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Azedinha

Ah esse mar, essa água esverdeada, essa brisa, o cheiro de maresia... O calor do Brás me faz sentir ainda mais vontade de ir dar uns bordejos por essas bandas fluminenses.

Iemanjá me chama!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Nascer

"Dadinha, sentada num tamborete com as pernas escarrapachadas e sacudindo o corpo de riso, disse que deviam ter dado miolo de boto a ele para ter ficado maluco assim, já velho e ainda sem nenhum juízo. Mas ele não ligou, deu dois saltos e caiu com um joelho no chão diante da menina, que estava quieta e enrolada em cima de uma esteira.
- Naê-ê! - gritou. - Rainhazinha de Aiocá! E o sinal!
- E dizendo bobagem - reclamou Dadinha.
Mas ele de novo não ligou e, como se houvesse muito mais música ali do que o som de seus calcanhares batendo no chão, das palmas que repenicavam em mil compassos e do que lhe saía da boca em estalidos de língua e beiços e melodias de garganta assemelhadas a solos graves de flauta, esticou os músculos, agora retinindo de tensão e suor, e dançou. Muitos ali dançavam e eram admirados quando, nas festas em que podiam fazer música, reviravam os olhos e saltavam loucamente pelo barro batido, flutuavam no ar, faziam com que seus corpos fossem muitas coisas ao mesmo tempo, traziam fogo aos corações dos outros e, nessas horas, eram divindades. Mas nunca se viu tal dança como a de Turíbio Cafubá celebrando sua filha, pois ele ficou transparente e logo muito preto e logo estava em toda parte, às vezes parando e vibrando como uma asa de cigarra, às vezes se dissolvendo em tantas formas que as pessoas não sabiam em que acreditar, e então todos os ritmos que brotavam em sua figura eram ritmos de alguma coisa acontecendo dentro de cada um, sangue pulsando, dedo se abrindo, fôlegos tomados, tudo o que pode ocorrer no corpo, tudo ao que o espírito se entrega. (...) dançou em homenagem à filha como os guerreiros mais orgulhosos de que se tinha notícia, esse orgulho espelhado em todo gesto, toda martelada de pé, todo olhar levantado, todo ombro erguido, todo passo à frente, todo agitar de braços e mãos, tudo com que se pode exibir altivez." 

João Ubaldo Ribeiro - Viva o Povo Brasileiro

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Ele mais uma vez

- Mãe, quero te perguntar uma coisa.
- Fala.
- Espera.
- Pode falar, Arthur.
- Tá bom.
- Fala.
- Lembra aquela conversa sobre legalização da maconha?
- Uhum.
- O quê você me respondeu quando eu perguntei se você é a favor?
- Eu disse que era. Dependendo de como isso vá ser feito. Mas a gente conversou sobre dar dinheiro pra traficante, essas coisas, lembra?
- Uhum.
- ...
- Mas mãe, se fosse liberado, você usaria?


E eu rezei pra alguém pisar numa casca de banana, ali, no meio da Sé, e caír na nossa frente. Porque alguma coisa tinha que me tirar dessa situação.

Papo de surdo e mudo (é sempre mais do mesmo)

Lembra o questionamento sobre ser aventureira? Então, consegui responder. Hoje. De verdade. É, demorou três meses, mas tá ótimo. Tem coisas que eu carrego há anos e ainda não consegui responder. Pois então. Descobri. Mas não é aventureiro mesmo. Como eu já desconfiava, porque esse termo me incomodou muito no dia. Incomodou sim. Vocês fazem de propósito. Eu sei. E na hora até me saí bem. Passei no teste. Claro que passei. Tô aqui, não tô? Então... é assim... Eu gosto do que me incomoda. Essa é a resposta. Me agrada o que me faz pensar. Eu só crio quando eu penso. Eu só sou quando eu penso, entende? O que faz diferença, o que não deixa que ninguém seja igual e toda essa balela de ser único no mundo é o que você pensa. É único porque ninguém mais pensa exatamente igual a você em relação a tudo. Sei lá. Tem coisa que se pensa e que pode muito bem não se encontrar mais ninguém que perdeu tempo com aquilo. Dá pra entender? Porque isso explica tudo. Essa é a resposta pro "aventureiro?". Não é aventura, é movimento. Enquanto me movimenta, me faz pensar, me adiciona, eu vou. E se parar, se eu me sinto sem sair do lugar, eu literalmente saio. Talvez por isso tantos lugares, tantas pessoas, tantas coisinhas.  Talvez por isso aquele papo da eterna busca por sossego. O sossego de mim. É o que eu não espero encontrar aqui. E por isso também, que aqui não é pra sempre. É um estímulo, um pedaço do caminho, que eu acho importante passar. Adiciona. Adiciona muito. E aí, eu chego aqui, e tá rolando, tá sendo legal, mas algumas coisas ainda não cabem. E fica inevitável uma certa frustração mesmo. Porque não adianta querer falar. Você sabe disso. E foi quando eu consegui ver assim, que entendi o que ela quis dizer. O que ela disse. E eu lá, discutindo. Idiota. O que ela disse foi isso: "Olha, não adianta você querer falar disso sozinha". Teatro não é um só. Enquanto os outros não comprarem o que você está querendo dizer, não vai. Não sai do papel. É o tal do pacto. E aí, eu acordei no meio da noite e isso ficou na minha cabeça. Martelando, sufocando. Até eu levantar e vir aqui te dizer essas coisas. Porque eu sempre soube que não se faz sozinho. Nem eu sem eles, nem eles sem mim. "É um exercício de escuta constante". Acho que foi o Zé que disse isso. E daí eu comprei cotonetes. Eu limpei os ouvidos. Eu abri tudo pra deixar entrar as idéias, os questionamentos deles todos. Bebi tudo isso durante semanas e trouxe de volta o que me tocou. Só que eles estão surdos.   

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ela

Mas que hora é essa? Quando a gente sabe que chegou? Ela chega? Alguma hora? Chega? A que horas? Eu não sei onde ela está, como ela está, quando ela está, onde ela se esconde. Eu não sei. Eu acredito nisso. Eu sempre acreditei. E eu sei que ela chega, uma hora. Essa hora em que um presságio, uma alucinação, um sei lá o que acontece. Vem como quem não quer nada, aparece de uma coisa boçal, dessas que você está acostumado a esbarra todos os dias. Ela não é genial. Ninguém acha genial, não assim, não de início e é ela. É ela que chega desse jeito aí que a gente não sabe bem como é. Eu não sei bem como é. Ela chega. Esse não sei o que que chega não sei de onde. E ela muda. Muda tudo. Muda a vida. Dá um outro sentido. Cadê? Eu preciso que ela chegue, você entende? Porque essa ansiedade de esperar ela chegar e me atentar a qualquer coisinhas que possa ser um sinal, um sinal de que ela está se aproximando, essa ideia fixa de estar sempre atento porque ela pode aparecer a qualquer momento, isso me mata. Me mata aos poucos. Me mata mais ainda porque eu sei que ela só chega se eu me distrair. Se eu não vir que ela está chegando. Mas aí, eu fico assim, nessa ansiedade, nesse movimento de vulcão prestes a explodir de felicidade quando perceber que ela está bem aqui, chegando, dentro, fundo, alcançando aquele lugar onde ela deve ficar para dar certo. E eu espero. Eu espero esse dia, esse momento, esse homem mascando chicletes. Eu espero isso há tanto tempo... Desde que eu me lembro que eu penso, eu espero. Espero. Sabendo que tenho que esperar distraído, sabendo que tenho que estar olhando para o outro lado, para que ela não se sinta acuada, para que ela fique a vontade para se aproximar. Ela vem, eu imagino ela vindo. Num sopro, leve, na brisa, na beira do mar ou no meio do mar de gente na fila do metrô na Sé, às seis horas da tarde. Eu sei que ela vem. Eu sei, eu tenho certeza, que um dia ela vai chegar e mudar tudo. E mudar a minha vida. Eu sei disso, como uma certeza infantil. Eu me lembro de esperar por ela desde a infância. Ela, ela chega, um dia, um dia ela chega. Mas é isso que me mata. Saber, com essa certeza toda que ela vai chegar e que eu não consigo me acalmar para esperar, para estar distraído o suficiente para que ela se sinta a vontade. Então, é como se eu soubesse que ela está ali, na próxima esquina, esperando ouvir o meu assobio, para me tomar de mim. Mas é aí, nesse ponto, saber que ela está logo ali, na próxima esquina, me esperando, que me deixa tão ansioso que me faz ficar atento. E ela vai embora. Espera um outro momento. E eu faço charme e finjo que não estava nem aí, nem te vi, nem tô esperando você, nem nada, nem ninguém. Mas não adianta. Ela sente meu cheiro de animal angustiado, ansioso, a adrenalina correndo no meu sangue. Ela ouve de longe o pulsar das minhas veias. E vai. Para onde? Para onde você foi ideia genial?!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Essa tal Medusa: a Teoria ou Essa tal Teoria: uma Medusa

A forma, uma fôrma. Uma frase, uma gota. Palavras e sussurros, que antes saiam como que escorrendo das mãos para o papel, agora estão secas. Areia e pedra. A forma, a fôrma. Se sobrepondo ao conteúdo, à intuição, ao entusiasmo e necessidade (quase que fisiológica) de exprimir, de alguma maneira, as dores, angústias, aflições. Hobby, quando vira ofício, muda o gosto e a aparência.  A “vida” ganha aspas. Os sentidos semi-domados, enjaulados em pensamentos distantes. O que antes era só sentir, hoje é só pensar. Como é difícil o caminho do meio! Encontrar junto à forma, que é fôrma, que deforma, os caminhos para os sentidos. Brecht não tinha um professor. Ou terá tido? Escrever se aprende, ou já se nasce sabendo?

"A corrente impetuosa é chamada de violenta
Mas o leito do rio que a contém
Ninguém chama de violento"
Bertold Brecht

terça-feira, 2 de agosto de 2011

"despejar-se" ou "para meio entendedor"

Como uma fênix. Renascendo das cinzas. Ela se olhou no reflexo da janela. Minha fé é meu jogo de cintura. São escolhas e como se lida com elas. De todas as vezes que a rotina e o cansaço a fizeram refém. Que pensar em desistir e esquecer-se do caminho estiveram tão perto. E tão longe ao mesmo tempo. Desistir nunca fez parte do plano. O plano nunca foi outro. Confundiu-se algumas vezes. Talvez por não saber como seria o caminho, por nunca ter tentado planos para o 'como chegar'. Por ter somente traçado a meta, a chegada, o ponto final. O ponto final da fênix é sempre um recomeço. 


A euforia toma conta dos dedos, dos lábios, das pernas inquietas, do ouvido ávido por novos sons em antigas cantigas. A euforia de perceber que o ponto final já passou. Que de agora em diante, é recomeço. É começo de tudo novo. É ela novamente. É euforia, é ansiedade, é não cansar-se nunca. É confiança nas escolhas, nos caminhos. É a certeza da fé. O jogo de cintura. A confiança, a certeza, a certeza que explode no peito, que escorre nos olhos. É lembrar-se daquela noite, do céu estrelado, do doce na boca, de engolir o desejo, o pedido com fé. Os cheiros, os sons, as energias flutuantes. É certeza, certeza, certeza sempre! Caminhos abertos aos Filhos do Vento!


Somos força, esperança, certeza, caminho, processo, deleite. Somos Filhos do Vento, caminhamos sob tempestades, somos os primeiros a ver os raios do sol, somos guiados pela lua. Somos caminho, verdade, vida. Somos os ciganos do caminho. Ninguém vai, sem por nós passar. Somos Filhos do Vento! Força, liberdade, luta, trabalho, caminho, verdade, vida! 

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Votos

Ela tem os olhos castanhos e na boca o sorriso mais lindo que eu já vi. Um cabelo enroladinho, que faz um V na testa e forma um redemoinho de cachinhos que eu adoro enrolar nos dedos. Ela tem a pele morena que vira quase negra quando se queima no sol. Uma pele lisa e cheirosa a qualquer hora do dia, mas com um cheiro especial quando sai do banho. Cheiro de maçã com canela. Ela tem os braços fortes e os músculos aparecem delineando as sombras quando ela está no banho e lava os cabelos. As pernas são longas, mas grossas. A voz é grave, mas suave e baixa. E calma na maior parte do tempo. O olhar é intenso e profundo, mas nem sempre está ali, onde ela está olhando. O hálito tem um cheirinho de anis e o ar que sai de suas narinas me inebria. No rosto, umas pintinhas que lembram sardas e outras mais fortes, no canto direito, acompanhando o desenho da orelha ao queixo. O queixo é alto, a cabeça sempre erguida, chegando a ser confundida com um certo ar de seriedade, que ela não tem, mas parece ter. Um certo ar de superioridade, que ela não sente, mas às vezes deveria sentir. (Porque é preciso saber de nossas qualidades tanto quanto sabemos de nossos defeitos). No coração, um mundo inteiro caberia sem ter que se apertar.
Ela usa óculos, mas quer fazer cirurgia. Eu acho os óculos um charme e prefiro que ela use lentes quando não for propício usá-los. Ela calça 38, mas veste 36, com uma cintura de dar inveja em todas as menininhas que passam na praia encolhendo as barrigas. E que me enche de orgulho (quase como a um homem tarado e machista, pensando: “Minha mulher é muito gostosa mesmo”). Ela faz o amor mais gosto que eu já tive e me ama de um jeito que me faz sentir o calor saindo dela e chegando em mim, cada vez que ela me olha e pára. E eu amo tanto de volta, que tenho medo dela não sentir assim, na mesma intensidade. Ágape e Eros numa luta constante, se misturando e alternando a cada instante. Ela não sabia que é tão especial assim, mas eu fiz o favor de contar. E lembro, sempre que ela precisa, que o meu amor só cresce porque nela eu vejo a pessoa mais linda que já encontrei. E eu amo por isso tudo e por tantas outras coisas mais. Amo por ela entender que nós não somos necessárias na vida uma da outra, que nós não precisamos uma da outra para sermos felizes. E caso para ela dividir comigo o caminho. Para acordar de manhã e pensar que foi ela quem eu escolhi, é ela que eu escolho todos os dias e por todos os próximos dias. E que a energia dos Orixás esteja sempre conosco para que esse amor nunca acabe. Axé!          


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Renovados todos os dias. 

terça-feira, 5 de julho de 2011

O primeiro mate

Eu tinha uns cinco ou seis anos. O bairro devia ser botafogo ou Jardim Botânico. Era uma tarde sépia, dessas que o sol baixa devagar, deixando tudo amarelado. A sala também me parecia sépia. Talvez por móveis antigos, estampas de sofás. Eram umas seis ou sete senhoras, provavelmente todas professoras. Eu estava com a minha avó naquela tarde e não consigo me lembrar porque era a única neta a acompanhá-la. Era um grupo de estudos. Na capa do livro que todas tinham nas mãos, um nome: Platão. No fim do encontro, uma mesa de lanche. Nesse dia, tomei meu primeiro copo de mate. Criança estranha, como podia gostar desse tipo de passeio?

sábado, 2 de julho de 2011

Eles crescem

- Pastelzinho de queijo ou de carne, Arthur?
- Queijo. E uma soda.
- Eu quero queijo também e uma Brahma.
- Mãe... e esse negócio aí de liberação da maconha? Você é a favor ou contra?
- (aquela engolida seca) Por quê, Arthur?
- Eu vi uma entrevista do Lobão falando disso.
- Filho, as pessoas só não querem mais ficar dando dinheiro pra bandido. Se legaliza, vira uma mercadoria, com impostos, locais onde você pode comprar, o governo vai saber exatamente quem compra e quem vende. Essas coisas.
- Então você é a favor?
- Arthur, existem outras drogas que são legalizadas e não há nenhum controle sobre elas. Bebidas alcoólicas, cigarro... E fazem muito mal. As pessoas morrem por causa delas todos os dias. Não acho que deveria vender maconha na padaria, por exemplo, como acho que não deveria vender cigarro também, entende? E acho que os impostos deveriam ser tão ou mais pesados, para que não seja barato comprar, para que o dinheiro recolhido pelo governo vá para gastos com saúde, educação, segurança pública, essas coisas.
- É mãe, o importante é para onde vai esse dinheiro, né? Porque é errado ficar dando dinheiro pra bandido.
- É errado e ninguém quer.
- Mas se os bandidos não venderem a maconha eles vão vender o quê?
- Eles vão arrumar alguma coisa errada pra fazer, mas provavelmente vai diminuir muito a quantidade de dinheiro que eles ganham. Com menos dinheiro, eles compram menos armas, ficam menos fortes e por aí vai. 
- Aí fica mais fácil da polícia prender eles, né?
- Supostamente sim. 
- É... o importante é para onde vai esse dinheiro.

Nossas conversas têm evoluído a passos largos. E ele só tem nove anos ainda.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Murchar-se

Há sempre um ocupar-se que compense a ansiedade dos tempos todos vagos de agora.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Tanta coisa e tudo cabe

Faz muito frio e chove. Queria você do meu lado na cama agora. É muita coisa ao mesmo tempo. E eu costumava dizer que nunca havia sido diferente. E talvez nunca tenha sido. Nunca foi devagar, nunca foi aos poucos. Desde sempre foi em grandes goladas. Em textos de palavras comidas, saltadas. Em sentimentos e sensações engavetadas. Você tentou me ensinar a desacelerar. Você me mostrou que é muito mais gostoso quando vai acontecendo aos pouquinhos. Foi assim no início. Mas de tempos em tempos eu te puxo, eu acelero. E acabei descobrindo aí dentro um alguém tão ansioso quanto, tão inquieto, tão angustiado quanto eu com tanta coisa. Você não é normal, meu amor. Você não cabe nessas regras. Tanto que está aqui. 

É muita coisa, eu sei. Para mim também. E tem sido lindo mesmo assim. E tem sido lindo mais assim. E me enche o peito e os olhos quando eu sinto e vejo e ouço que até hoje foi só você que chegou aqui, tão dentro. Só você respeitou e respeita tanto, que eu seja assim. De um jeito que nem eu sei às vezes (na maioria das vezes). Essa angústia que a gente carrega, esse café no meio da tarde chuvosa, esse olho cheio de lágrimas diante de um momento feliz: somos nós. Essa pressa de aprender a ser devagar, completa. Ou melhor, suplementa. É o que faz ser cada vez mais amor. 

domingo, 5 de junho de 2011

Photoshop CS5


Primeiras brincadeiras.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Enquanto isso, na Sala de Justiça

INT. GABINETE EM BSB - DIA

O vilão Bolsonaro prepara panfletos e piadinhas infames de ataque a homossexuais.

                             BOLSONARO
            Agora eles não me escapam, com essas fotos e 
            frases de efeito todos terão vontade de atacar um 
            gay. Eles só representam 10% da população. 
            Não terão como resistir. Hahahahaha!!!!

INT. GABINETE 2 - DIA

Ministro está sentado pensativo. Assessores andam de um lado para outro ao telefone, enviando mensagens via smartfones e postando frases no twitter.

                            ASSESSOR
           Senhor ministro, temos que fazer alguma coisa.
           A imprensa só fala nisso, os movimentos das mino-
           rias não param de fazer reivindicações e os evangé-
           licos estão em palvorosas. 

                            ASSESSOR 2
           O que vamos fazer com todo esse material. Não é
           justo que ele não chegue até as escolas. E os nossos
           eleitores? E a representação dos homossexuais na
           bancada? E os nossos aliados? Como vamos sair dessa?

Ministro permanece pensativo.

                            MINISTRO (over)
           Bando de bicha enrustida! Esses caras devem ter medo
           de alguém ver eles de mini saia na paulista em dia de pa-
           rada gay. Que diferença faz na vida deles? Que diabos de
           "família brasileira" é essa que não tem um gay se quer? 

INT. SALA DE JUSTIÇA - NOITE

Ministro faz pronunciamento enquanto seus colegas ouvem atentos.

                             MINISTRO
           Por dez votos a zero, declaro que está aceito o reconheci-
           mento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, nos
           mesmos parâmetros que está estabelecida para relaciona-
           mentos entre homens e mulheres. Dou esta sessão como en-
           cerrada.

Bolsonaro surge por detrás de cortinas pretas.

                             BOLSONARO
          Nããããããoooooo!!!!! Deus irá castigar todos vocês!
          Vão arder no fundo do inferno!

Uma luz prateada entra pela janela. Quatro super heróis vestidos com capas roxas e sungas por cima da calça entram voando na Sala de Justiça carregando, embaixo do braço, livros pretos de onde escorre sangue.

                            LÍDER DOS SUPER HERÓIS
         Acalma-se irmão! Nós viemos nos juntar a você para
         defender a moral e os bons costumes!

                            BOLSONARO
(Assustado e com certa inveja da entrada majestosa dos heróis) 
         Mas quem são vocês?

                            LÍDER DOS SUPER HERÓIS
        Nós somos a LFHB. A Liga da Família Hipócrita Brasileira.
        Incansáveis defensores da moral sobre a vida do vizinho e 
        levianos defensores das palavras bíblicas interpretadas a luz 
        de nosso machismo. Junte-se a nós e ninguém poderá nos destruir!!!
        Hahauahuahuahauhaua!!!!



Aguardem a cenas dos próximos capítulos.



quinta-feira, 19 de maio de 2011

Mastigar

da cama, eu vejo são paulo. enquanto mastigo a última semana, devagar, mordida por mordida, passou. saltos e bolsas voariam pelas janelas, mas elas estão fechadas. faz frio na capital. fez um frio enorme aqui dentro. e agora passa. as bolsas e os saltos indo pro fundo do armário e eu voltando a ser eu mesma. a cada dia, a me construir.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Seu maior talento é...

Camila Damasceno Silva

Seu Maior Talento: Aprendiz

Este Talento adora aprender. Quase todos os assuntos o interessam. O que mais lhe agrada neste processo é conhecer o novo em profundidade. É emocionante cada descoberta feita não importa o resultado final nem o que vai fazer com ele. Sua energização vai crescendo na medida em que trilha o caminho que o conduz da ignorância à competência. Sua curiosidade o leva a engajar-se nos mais variados tipos de aprendizados que para outros não fazem o menor sentido. Da arte ao técnico tudo o fascina. Esta postura de aprendiz coloca leveza na sua vida porque tira a exigência da perfeição para quem está em processo. Necessariamente ele não precisa se tornar um profissional no assunto nem tão pouco é a titularidade que o motiva. É esta excitação que torna mais significante o próprio processo do aprendizado que lhe faz dedicar-se até chegar na reta final cheio de prazer.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Os três patetas

M: Será que vão me mandar embora porque eu não bati a meta?

C: Sabe o que acontece, eu já sou ansiosa por natureza e esse emprego só piora tudo. Nunca sei onde vou estar daqui há uma semana...

F: Ai... e por que aquele homem foi me chamar para entrevista se ele nem tem uma vaga?

M: Alguém liga pra Roseli. Diz pra ela que está todo mundo louco, chorando no carro.

F: Alô, Rô? Tá todo mundo enlouquecendo aqui... a gente não quer ir embora...

Roseli: Pequeno, relaxa que vai dar tudo certo. Vocês tem que agradecer a Deus todo dia que vocês tem tudo, porque tem muita gente aí, que em dia frio que nem hoje, faria tudo por um copo de leite quente, sabia? Deus não dá nada que a gente não possa carregar. Vai dar tudo certo. E amanhã eu não quero saber de ninguém com essa cara triste. Quero ver todo mundo feliz amanhã!

F: Tá bom, beijo, tchau!

C: Ai gente, vou deitar aqui atrás...

M: ...

F: ...

F: Vou abrir esse vidro pra dar uma paquerada, sabe? AH!!!! É O FÁBIO ASSUNÇÃO!!!!

C: É ele mesmo!

M: Onde???!!!

F:  Aqui do lado!

C: Não ultrapassa ele! 

M: Onde ele tá?

C: Gente, que homem lindo!

F:  Ah...só eu mesmo... vou paquerar e dou de cara com o Fábio Assunção!

M (Soltando o volante para dar um tchauzinho): Alguém liga pra Roseli e diz que eu não preciso mais desse emprego! Eu arrumei um marido!!! Onde ele tá?

C: Segue ele!

F: Ali atrás!

C: Muda de pista!

M: Vamos bater no caro dele! Assim ele para pra falar com a gente...

F: Olha o carro dele!

M: Ai meu deus!!! Ele buzinou pra mim!!!

F: Vai atrás dele!!!

M: Gente, esse homem deve pegar muita mulher!

F: Ih, nem sei. Ele é maior loucão... nem sei se aguenta...

C: Vai que ele tá louco agora e acha que a gente tá perseguindo ele.

M: Diz pra ele que a gente não é tiete!

F: Ah não... que isso... bobagem...

C: Não vou nem descer na Paulista!

F: Alguém liga pra Roseli e diz que a gente já está feliz de novo... 

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Segurando a primavera nos dentes

Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa a contra mola que resiste
Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade, decepado
Entre os dentes segura a primavera
(Secos e Molhados)

terça-feira, 5 de abril de 2011

é

Sabe a distância entre ser o que se é e o que deseja ser? Essa imagem que eu vejo refletida nos vidros do metrô não se parece em nada com aquela que me ocorre em sonhos, nas raras vezes em que consigo me ver de fora do corpo. Talvez um olhar ou gesto com as mãos. Talvez a forma de mexer nos cabelos ainda seja a mesma da tal menina. Talvez os sonhos...talvez. É uma imagem confusa, que não sei dizer se vem de dentro ou de fora. Se é um mosaico de cores, formas e atitudes que, como uma criança se mirando em exemplos, eu vim construindo e modificando. Ou se um reflexo, uma expressão de opiniões e desejos contidos, guardados. Não sei se uma musa, um estereótipo ou um eu em mim, escondido, contido, sufocado atrás de pastas e papéis, sapatos de salto e maquiagem. Um eu louco para gritar, estufar o peito e se orgulhar de ser assim, simplesmente o que é. Viver de arte e de amor.

Aquela, que se mira nos vidros do metrô, não sou eu. Nem eu essa, que se deixa levar louca, nos caminhos confusos de quem não sabe bem o que quer. 

É meu amigo... nós somos mesmo uns covardes, sucumbindo ao cotidiano burocrático em nome de uma responsabilidade que nos abate os sonhos.       

sábado, 2 de abril de 2011

divagar ções

É o ego versus a vontade de fazer diferente. fazer diferença. Tudo vai bem, tudo vai de bom a melhor. Até que  assiste a um filme, até que ouve uma música. volta aquilo que nunca se expressou, aquilo que ficou contido nos corredores de encontros do movimento estudantil. volta o impulso de ação, sabe-se lá contra o quê, sabe-se lá contra quem.

Andam todos com preguiça.as pessoas mal revolucionam-se a si mesmas.  

sábado, 5 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Solidariedade

É uma sensação estranha, uma angústia. Quase impossível de descrever sem utilizar os velhos clichês. É a sensação de poder fazer tão pouco e mesmo assim se sentir no dever de fazer.

São muitas histórias, muitas vidas, muita coisa para reconstruir, muitas pessoas para alimentar. E não cabe tudo dentro.



Postos de doações para as vítimas da chuva no Rio de Janeiro:


1- Supermercados da Rede Pão de Açucar
2- Agências do Banco Itau
3- Praças de pedágio da Concer na BR 040
4- Estações do Metrô do Rio
5- Postos da Polícia Rodoviária Federal
6- Batalhões da Polícia Militar do Rio


Maiores necessidades:


1- água
2- fraldas e mamadeiras
3- higiene pessoal
4- toalhas e cobertores
5- comida
6- roupas


DOE SANGUE

Várias pessoas doando pouco ajudam muitas pessoas que precisam de tudo.

Por favor, ajudem!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Petrópolis, madrugada de quarta-feira.


E quando chove uma madrugada inteira? E quando eu não durmo uma madrugada inteira? E quando a vida abre novamente uma fresta, uma meia porta aberta, uma claridade saindo por poros que eu ainda não consigo ver. A tv que ligo e desligo a cada meia hora. O livro aberto em cima da cama, que não consigo ler mais que uma página. O texto chamando, gritando, saindo da minha cabeça, mesmo quando não encontra as linhas ou a tela do computador. É a ansiedade que retorna, que abre caminho, deixando de lado as angústias por quase nada do ano que passou. As angústias por tão pouco, por ter demorado tanto para perceber que era só deixar ser sem se esquecer. Deixar o desenrolar dos fatos sem se esquecer de quem se é. Não é a pressa para que passe logo. É conseguir ser inteiro mesmo aqui, mesmo assim.


Eu deveria ter pendurado a rede na varanda, deveria ter instalado o interfone, deveria ter deixado o meu gato sair de casa há mais tempo. Não deixei. Agora falta pouco, mesmo parecendo faltar tanto. Cada dia, cada passo, cada hora a menos ou a mais. Cada vez que abro o site a procura da vaga que ainda não chegou.


De cada detalhe que poderia ter sido e não foi, fica a certeza do tempo deixado passar. Das horas contadas no relógio e dos dias contados uma a um no calendário, na rotina insatisfeita casa - trabalho - casa. Estou me redescobrindo, me permitindo outros olhares, outras possibilidades, novos caminhos. E me sinto mais perto de saber o que me agrada, o que me faz ver sentido em trabalhar, em produzir. Ainda não sei ao certo o que eu gosto de fazer. Talvez nunca saiba. Mas já estou certa do que não gosto. Deve ser um primeiro passo. 

Era isso que eu estava fazendo e pensando ontem a noite. "E quando chove a madrugada inteira?". O mundo acabando lá fora e eu aqui dentro preocupada com as minhas angústias. E o "lá fora" não é figurativo. Era ali, na minha esquina. Água chegando no joelho, lama arrastando tudo que encontrava pelo caminho. O rio quase transbordando e passando furioso aqui atrás, enquanto eu curtia minha insônia e escrevia. Pessoas perdendo tudo. Pessoas se perdendo em meio a chuva, a lama e o rio. Colegas de trabalho, clientes, conhecidos e o Seu Pedro, que fazia meu arroz com feijão e farofa. 
Acordei ainda sem saber do que acontecia e conforme as notícias iam chegando, eu ia me preocupando um pouco mais. Passei a ligar para clientes que moravam próximo aos locais mais afetados para saber se estava tudo bem. Não consegui falar com o Jefferson ainda.
É difícil dizer o que se sente. É estranho. E eu nunca tinha vivido tão de perto.