segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Veja bem, meu bem

De repente, não mais que de repente, num sopro que finaliza um suspiro de quem desiste, o frágil castelinho de cartas desaba. A relação construída tão meticulosamente acaba em 3 minutos de palavras ríspidas, acaba num suspiro, não mais que num suspiro.

Não há o que discutir ou argumentar. Sem briga, sem choro, sem traição. Uma simples constatação de que, às vezes, remédio nenhum adianta. (Não há remédio pra duas vidas incompatíveis). Tem coisas que não se pode cobrar de ninguém. Não há culpados.

O que sobra?

Um cartão, um par de brincos e um bonequinho pra abraçar na hora de dormir; algumas poucas lembranças de bons momentos, de cheiros e gostos que se apagam com o tempo. Sobra aprender que paciência é um dom que precisa ser exercitado. Sobra saber que, por mais que eu me afobe, existem valores e pessoas dos quais eu não abro mão. Sobra um baita orgulho de saber quem eu sou. Com todos os meus defeitos e qualidades, com as minhas chatices e implicâncias, com os meus momentos galanteadora e conselheira. Sobra saber que eu não sou um personagem, que eu não preciso ser. Que os meus sentimentos estampados na cara me fazem pagar um preço alto muitas vezes, mas em tantas outras me valem as melhores companhias, das risadas mais gostosas, do melhor aconchego, do melhor carinho e preocupação. Meus amigos são os melhores do mundo, Dona Graça é mesmo um amor de pessoa e acordar ouvindo um pequeno cantando no meu ouvido é impagável.

Eu tenho 24 anos, um filho de sete, trabalho de madrugada e faço muita questão de ter os meus amigos por perto. Como já diria minha companheira de balcão: "Quem disse que é fácil acompanhar o nosso ritmo?"

Presentes da Fortuna

Nunca gostei de acreditar em pré-destinação. O caos que o acaso me remete sempre me pareceu mais real e plausível. Pré-destinação me cheira a desculpa de acomodado com a vida, de gente que prefere assistir tudo passar a tomar certas atitudes e responder, com responsabilidade, por elas posteriormente. Pré-destinação me parece o oposto do livre-abítrio. Se alguém (ou alguma coisa), de algum lugar do mundo (ou de outros mundos), define tudo de importante que vai me acontecer, o que cabe a mim decidir? Seremos todos marionetes se embolando nos próprios fios?

Mas, algumas coisas acontecem de tal maneira, que só uma intervenção divina ou espiritual podem explicar. Tem dias que parece que o mundo conspira a nosso favor e a Fortuna nos distribui presentes inigualáveis.

E se antes eu me perguntava o que seria de uma vida que passa sem doer, agora me pergunto: o que é passar pela vida sem se doar? Doar carinho, aconchego, amor. Doar o tempo, a paciência, o ombro. Doar sem esperar receber de volta. Amar porque me faz bem ; um bem maior ou igual ao que espero fazer a quem eu amo.

Eu não acredito em pré-destinação, mas acredito em encontros. E me sinto extremamente feliz com a possibilidade que tive de encontrar tantas pessoas bacanas (e até as nem tão bacanas assim) nesse quase um quarto de século. É bom saber que pude compartilhar de momentos importantes da vida delas; sejam eles bons ou ruins.

Não dormi essa noite. Coração batendo acelerado e um baita orgulho de saber que eu amo pessoas que merecem o meu amor.

Porque tem gente que eu nem tenho tanto contato assim, mas que sinto um enorme carinho de graça.

"Amigos a gente não faz, reconhece."

"Mas sempre compreendemos tarde demais os seres que mais próximo estão de nós, e quando começamos a aprender esse ofício de viver já temos que morrer, e sobretudo já morreram aqueles nos quais teria sido mais importante aplicar nossa sabedoria."
(Ernesto Sábato, Sobre heróis e tumbas)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Tudo que a gente não faz por medo

Tantas vezes escrevo e tantas outras torno a escrever certas passagens. A página em branco se opõe às idéias que não param de borbulhar em minha cabeça madrugada a dentro. Por que as melhores idéias, por que os acessos de fome literária, por que essa angústia que cresce a cada segundo me batem mais forte quando todos se calam?

No silêncio da madrugada, no escuro de um quarto fechado, mil e uma idéias perfeitas aparecem. Eu quase posse vê-las, tocá-las. As cenas se passam diante dos meus olhos aflitos por reproduzir as imagens que se criam, desencadeadas ao acaso no meu inconsciente.

E se me faltar o talento? E se me faltar o prazer? E se me faltar a sorte de um dia ter essas letras lidas por alguém que aceite publicá-las? E se me faltar a coragem de mostrá-las a mais alguém?

A insegurança me consome e o medo de falhar, de não conseguir atingir minhas próprias expectativas, me maltrata o estômago.

Talvez seja mais fácil escrever auto-ajuda. Ou textos de folhetins semanais, disfarçados de literatura, mas que beiram a auto-ajuda mais pobre, auto-ajuda de programa da tarde, de conversa de manicure, de novela das oito com propósito social.

Talvez seja mais fácil escrever novela. Ir ditando o roteiro conforme os expectadores esperam que ele se desenrole.

Talvez seja mais fácil continuar garçonete. Guardar na gaveta o diploma que o próprio STJ acha dispensável. Afinal, que mais se precisa além de saber ler e escrever para ser jornalista?

Garçonete de pub do interior, fada sininho embreagando o mundo com absinto, escritora de legenda de foto para guia gastronômico. Produtora de coisa alguma, recém-adulta perdida no labirinto infinito da solidão.

De tanto ler, quis escrever. Não escreve coisa alguma.

Tudo que a gente não faz por medo.

Literatura vira brinquedo, fuga, válvula de escape quando a ansiedade beira a crise de pânico, quando pensar em tomar ansiolíticos faz temer a perda das aptidões. A dor inspira. O que é uma vida que passa sem doer?

Enquanto ela passa, leio e releio palavras soltas, escritas esporádicas, textos que ninguém mais viu. O tempo escorre nas pontas dos dedos, o futuro chegou. Cadê você José? Cadê você aí? Que aí não há sequer um par pra dividir.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

História de um menino com um coração do tamanho do mundo

De quem vive pregando os olhos em um microscópio a quem não larga uma luneta, da existência do átomo à de galáxias distantes: o mundo sempre é do tamanho que você vê.

Tem gente que vive num mundo de 10 mil habitantes, enquanto outros vivem contando os bilhões. O mundo dele era do tamanho que ele fazia e isso sempre variava de um dia pro outro. Porque tem dias que o mundo cabe num abraço e em outros a solidão abre um buraco maior do que boca de tubarão branco e tudo parece nos engolir.

Ele conquistou o mundo com um coração. O mundo que criou e recriou todos os dias. Um mundo infinito para um coração infinito.

E como se deu essa conquista? Não se sabe ao certo, mas provavelmente sem muitos esforços. Tem coisas que nascem em nós quando se abre os olhos pela primeira vez e tem pessoas que simplesmente reconhecemos, sem saber direito de onde vieram nem para onde irão. É como se alguns de nós tivéssemos vindo do mesmo lugar. Quem sabe? O mundo é o que a gente faz. Ele conquistou um mundo de gente (e a mim, no meu mundo). A nós, cabe admirar e aproveitar essa ilustre presença em nossas vidas.


Mãe, tem uma coisa que eu não entendo: quando eu crescer, eu vou continuar sendo a mesma pessoa?”

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Resumos

Eu tô bem sim. Acho até que tenho entrado naquele momento de mulherzinha, que começa a procurar alguma coisa de errado porque "não é possível que esteja TUDO certo". Mas tirando umas dívidas que não me pagam (o que, consequentemente, não me permite pagar algumas das minhas), tudo anda muito bem.

É, eu continuo garçonete, mas apareceu uma oportunidade de investir em outras coisas e uns freelas que têm chegado nos melhores momentos. Vou receber minha primeira remuneração por algo que eu escrevi, olha que lindo!

Tá bom, pode rir. É um guia gastronômico. Mas ao menos eu provei as maiores delícias da cidade.

Sabe, nem é mais só um sonho essa coisa de escrever, é uma meta. E pode tardar, mas um dia chega. Te assino um livro, tá?

Família tá bem. Vovó deu um susto na galera esse mês, mas já passou. Tá ótima novamente, programando a próxima viagem e dizendo que vem aqui semana que vem.

Ah...eu programo uma porção de coisas, né? Acho que um pouco sabendo que nunca tenho a possibilidade de executar todas elas. Vou pelo volume: quanto mais planos, mais possibilidades de fazer algo que me deixe satisfeita.

O próximo? O próximo é uma tatoo. Dando tudo certo, semana que vem ela tá completinha em mim.

Coração vai bem.

Sim. Tem uma menina. No início eu queria um tanto mais, depois de um tempo passei a querer um tanto menos. Acho que agora as coisas se equilibraram. Me disseram essa semana que o importante é crescer junto. É isso que eu tô tentando.

Ela é linda. Tem uma porção de coisas que me agradam, mas ainda não deu muito tempo.

Tempo pra saber de certas coisas. Dessas coisas que só a pessoa pode te deixar saber. E sempre demora um pouco pra criar a intimidade e a confiança suficientes. Mas eu tenho paciência.

É. Aposto que você nunca imaginou escutar isso, mas Camilinha se tornou uma pessoa paciente com algumas coisas. Só com algumas, porque com todas só nascendo novamente.

Aqui, chega desse papo de nostalgia. Cansei de dizer que sinto saudades dos outros. Cinema na terça custa dois reais e tem um restaurante novo de comida mexicana bem do lado que é uma delícia.

Fechado então. Toda terça, sessão das 19h30. Começa hoje?

Te vejo mais tarde.

domingo, 9 de agosto de 2009

As cartas que eu não mando

Ei Flor,

também sinto saudades. Saudades das nossas conversas, dos sonhos deixados de lado pra que o papo rendesse um pouco mais. Do carinho e do cuidado entregues de graça mutuamente. Já sinto saudades das manias teimosas e dos comentários ranzinzas que costumavam me deixar pensativa e dos quais hoje sei sorrir e esperar que eles passem. Das implicâncias pequenas por coisas pequenas que no fim nos faziam trocar olhares com um sorriso debochado no canto da boca e simplesmente ríamos. De nós mesmas. De nada.

Sinto saudades da calmaria e da compreensão. Das demonstrações de afeto que olhares maliciosos tentavam desvirtuar, porque sob os nossos olhares é só a pura expressão do nosso amor. O melhor que se pode ter de um amor. Nosso amor tanto mais ágape que eros. Certas coisas só a gente entende e porque não cabe a mais ninguém entender.

Eu volto. Em breve. Quando o tempo for propício. Te levo um doce e uma cachaça, praqueles momentos de esticar as pernas.

Mande lembranças aos nossos. Diga ao pequeno que tenha paciência e um foco que logo logo as coisas andam. Para os Filhos do Vento, os caminhos estarão sempre abertos.

Dê notícias, mas não sempre, para que nunca se esgote de nós a vontade de pôr a conversa em dia.

Sigo ansiosa pelas próximas cenas dessa vida que eu tento controlar o caminho, mas que sempre me escapa. ("minha vida me ultrapassa em qualquer rota que eu faça"). Vou semeando entre os meus os grãos gêmeos da nossa relação. Plantando as sementinhas do amor, para que em toda época ele brote ao meu redor, embreagando-me com seu perfume.



"É o bonde do dom que me leva
Os anjos que me carregam
Os automóveis que me cercam
Os santos que me projetam
Nas asas do bem desse mundo
Carregam um quintal lá no fundo
A água do mar me bebe
A sede de ti prossegue
A sede de ti..."
(Arnaldo Antunes/ Marisa Monte/ Carlinhos Brown)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ah, o Chico....

Jorge Maravilha

E nada como um tempo após um contratempo
Pro meu coração
E não vale a pena ficar, apenas ficar
Chorando, resmungando, até quando, não, não, não
E como já dizia Jorge Maravilha
Prenhe de razão
Mais vale uma filha na mão
Do que dois pais voando
Você não gosta de mim, mas sua filha gosta
Você não gosta de mim, mas sua filha gosta
Ela gosta do tango, do dengo, do mengo, domingo e de cócega
Ela pega e me pisca, belisca, petisca, me arrisca e me enrosca
Você não gosta de mim, mas sua filha gosta
E nada como um dia após o outro dia
Pro meu coração
E não vale a pena ficar, apenas ficar
Chorando, resmungando até quando, não, não, não
E como já dizia Jorge Maravilha
Prenhe de razão
Mais vale uma filha na mão do que dois pais sobrevoando

(Chico Buarque)



Porque a gente perde o amigo, a namorada, o emprego...mas não perde a piada jamais.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Outros Bárbaros

Será que ainda temos o que fazer na cidade
Em nossos corações ainda resta um quê de ansiedade
Apesar de ter sido um grande prazer para todos
Resta saber se ainda queremos seguir
Querendo-nos, mútuo prazer
Outros bárbaros tão doces tão cruéis
Seguem vindo
Vivendo seus papéis de mocinhos e
De bandidos
Será que ainda temos o que fazer na cidade
Em nosso corações já reside um quê de saudade
De saudade

(Gilberto Gil)



Fim de semana mais leve dos últimos tempos. Nem parece que dormi tão pouco.