quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Diálogos em tempos de forçada paz

Enquanto o mundo entra em crise a gente sorri


- Calma, pensa que essa pode ser a melhor fase das nossas vidas. Pensa que quando tudo isso passar, quando as coisas entrarem no lugar, quando as rotinas se reestabelecerem, vamos passar anos cultivando a lembrança nostalgica do tempo em que tínhamos liberdade. Essa mesma liberdade que temos agora, e só agora, de ir para onde o vento soprar. Sem raízes, com bons amigos em muitos lugares, com a tranquilidade de que faremos novos, caso a gente caia em um canto desconhecido. Às vezes tenho medo de perder a chance de aproveitar esse momento, porque sei que ele nunca vai voltar.

- Eu fico ansioso. Tenho medo das coisas demorarem muito para dar certo. E ainda tem essa sensação de que tantos anos de estudo não serviram para quase nada.

- Ansiedade é complicado de lidar, realmente. Ainda estou exercitando a relação com a minha. Tem épocas que ela me corrói o estômago, que me causa alergias e crises de humor. Mas tenho aprendido a me manter mais calma, a sentir o movimento e a velocidade das coisas.

- É importante conseguir aproveitar esse momento mesmo. Vou tentar relaxar mais.

- Mas eu tenho tido essa mesma sensação que você, de que tantos anos não serviram para quase nada. Acho que o governo precisa criar ações de inserção de recém-formados no mercado de trabalho.

- Mas como fazer isso sem perder a qualidade dos profissionais que já estão atuando? Que tipo de incentivos?

- Não sei, algo como a cota para deficientes físicos. O Estado gasta milhões para a nossa formação. Não é possível que eu fique cinco anos estudando por conta do governo e tenha que continuar sendo garçonete.

- A nossa geração é uma das primeiras a sentir esse problema, porque não faz tanto tempo que se tem tanta gente com ensino superior no país.

- Quem sabe quando eu for Secretária de Educação ou trabalhar no Ministério....vou fazer essa proposta, desenvolver um programa, como esses de primeiro emprego para jovens de baixa renda.

- Um dia a gente chega lá. Viver de escrever e elaborar projetos.

- Não perco essa esperança jamais. Meu laptop no colo, minha rede na sombra, meu mate gelado, a brisa vindo me visitar, meus filhos correndo na praia e todos os meus afetos acumulados vindo inundar meu coração.




"Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada,
Ou quase nada
Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada,
não deu em nada"
(Tom Jobim)

4 comentários:

Camila Damasceno disse...

"Eu me pinto (...) porque sou o assunto que conheço melhor."(Frida Kahlo)

Digamos que com esta mesma linha de pensamento, eu me escrevo...

Anônimo disse...

quando vão libertar minha liberdade...

eu sempre quis ser garçonete

Unknown disse...

em um hotel de domingo a domingo talvez eu ganhe quase a mesma coisa. fico com o emprego de garçonete.
pior é passar quatro anos estudando coisas que você se pergunta a todo o tempo "pra quê?!"
hoje eu fico com o camelo: deixa o amanhã, e a gente sorri.

d. disse...

me identifiquei com o texto.