sexta-feira, 31 de julho de 2009

O exercício das pequenas coisas

O que me trazia de volta? Não sei ao certo. Mas crescia em mim uma grande satisfação de compartilhar aqueles momentos com aquelas pessoas. Bares, cafés, almoços e jantares. Um colo e uma cama quentinha. Conversas moles sobre assuntos duros. Na imensidão de concreto, é preciso leveza para sustentar o peso do próprio corpo; o peso da própria alma.

Cumplicidades e afeições gratuitas. A sutileza dos grandes encontros. Eu agradecia à Fortuna a sorte de ter ao meu lado pessoas com capacidade de me deixar tão à vontade.

Subíamos a Augusta aos atropelos, pondo em dia as conversas de um ano inteiro. Começava a garoar e nós só queríamos um chocolate. Teria sido mais fácil caso o correr das horas já não estivesse tão adiantado. na esquina da Paulista, por entre a neblina, o relógio marcava 23:54. Meu coração palpitou, meu peito se encheu numa respiração profunda. A cidade não pára. Nunca.

O que me trazia de volta? Não sei ao certo.Mas crescia em mim uma grande satisfação de estar viva. Como se só as imensidões fossem capazes de me fazer sentir assim.

Por entre as torres de concreto, minha idéias criam asas, querendo voar mais alto que os arranha-céus. Querendo atingir o tamanho de Deus.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A little bit of this

Como se de tempos em tempos eu sentisse a necessidade de reabrir meus olhos para o mundo. Uma necessidade de compreendê-lo em suas reais dimensões. Necessidade de entender o que são milhares. Andar na Av. Paulista procurando o céu em meio a tantos edifícios. São Paulo sempre me dá a sensação de volta à realidade.

Caetano Veloso diz que é um menino do interior que foi pra metrópole. Eu sou uma menina da metrópole que foi para o interior. Essas dimensões costumam se confundir. Ando me sentindo tão bem em um lugar quanto no outro. E essa eterna fuga do que possa cheirar a mediocridade.

Eu quero o mundo, mas quero sempre poder voltar pro meu cantinho quando as coisas do mundo me parecerem demais.

"Subíamos a Augusta aos atropelos, pondo em dia as conversas de um ano inteiro. Começava a garoar e nós só queríamos um chocolate. Teria sido mais fácil caso o correr das horas já não estivesse tão adiantado. Na esquina da Paulista, por entre a neblina, o relógio marcava 23:54. Meu coração palpitou, meu peito se encheu numa respiração profunda. A cidade não pára. Nunca."


" O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência..."
(Lenine)

terça-feira, 28 de julho de 2009

Inventando maneiras

Nada que o tempo não cure.





"Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes"
(Caetano Veloso)

domingo, 26 de julho de 2009

Redescobrindo uma música

Senta aqui que hoje eu quero te falar
Não tem mistério, não
É só teu coração
Que não te deixa amar
Você precisa reagir
Não se entregar assim
Como quem nada quer
Não há mulher, irmão, que goste desta vida
Ela não quer viver as coisas por você
Me diz, cadê você ai?
E ai, não há sequer um par pra dividir


Senta aqui, espera que eu não terminei
Pra onde é que você foi
Que eu não te vejo mais?
Não há ninguém capaz
De ser isso que você quer
Vencer a luta vã
E ser o campeão
Pois se é no "não" que se descobre de verdade
O que te sobra além das coisas casuais
Me diz se assim está em paz?
Achando que sofrer é amar demais

terça-feira, 14 de julho de 2009

Das coisas que se cria

Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Sentimentos presos em letras padrão. Sempre ridículos. Sempre carregados de lacunas entre tudo que se pensa, sente e diz.

Lacunas que invadem a rotina, que deixam vago aquele horário do café; que deixam vago um pedaço do coração, guardado a sete chaves num canto da cabeça.

Coração que vem bater na boca cada vez que o celular dá sinal de mensagem. E que se aperta novamente quando não é seu o nome que aparece no visor.

Andei querendo te ver de longe, passando do outro lado da rua sem que me veja. Só pra saber se ainda carrega esse olhar indeciso. Se nesse andar de quem sabe tudo da vida, ainda dá seus passos vacilantes querendo ir, mas temendo um dia se arrepender de não ter ficado.

Andei querendo catar seus suspiros e me agarrar às suas dúvidas. Me alimentar de possibilidades que se mostram cada vez mais próximas do impossível.

Andei procurando em mim um meio de não perder o que se construiu. Um meio de não jogar no vento um sentimento que custou a chegar e que me veio num momento tão oportuno.

Ando agora, por aí, procurando uma forma de não pensar, de não tentar, de não criar qualquer tipo de expectativa.

O caminho se faz caminhando.

"Os primeiros dias são os mais difíceis, mas você vai ficar bem. Você sempre fica".

É Flor...bem que você dizia. Sempre acontece quando a gente menos espera. "Se você não se distrai o amor não chega"

A questão é ele chegar logo na hora que ela resolve ir.

O maior problema das cartas de amor é que elas podem ser rasgadas, queimadas e todas suas linhas ignoradas, sem que o remetente faça a mínima idéia.


"
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você."
(Chico Buarque)

terça-feira, 7 de julho de 2009

Um pouco mais de paciência


Ele andava pelos cantos, pelas beradas. Sempre evitando fazer esforços, sempre evitando o que fosse doer. Normal, quase ninguém gosta de sentir dor. Gostava de se sentir querido - quase todo mundo gosta de se sentir querido; mas quando esse querer parecia demasiado, ia logo se esquivando novamente, se afastando, olhando com desconfiança. Na verdade, não conseguia conceber que alguém o amasse de verdade. Desse amor que não pergunta por quê e nem diz de onde veio. Desse amor que não é paixão, mas que chega aos pouquinhos, em pequenas atitudes cotidianas. Esse tipo de amor que nasce da admiração. Ele não acreditava que alguém pudesse admirá-lo.

Mas aconteceu. Quando menos se espera, essas coisas simplesmente acontecem. Ele já sabia bem de promessas de amor eterno que se perdiam no vazio de olhares que ele não retribuía, sabia bem de paixões que acabavam em uma semana, de cansaço ou de preguiça mesmo - porque ninguém gosta de investir demais em alguém que não dá retorno, que não trás uma flor, um olhar ou um carinho na nuca. E de tanto saber desses amores que vieram e foram embora sem alterar seu humor, é que percebia que dessa vez era diferente.

Ela não parecia querer muito, não pedia nada e se contentava com muito pouco. E era ela quem trazia flores, quem soltava um sorriso espontâneo no meio de uma conversa, quem sabia ler com os olhos quando algo não agradava muito. Ela, sem dizer uma única palavra sobre amor, sem nunca ter declarado seus pensamentos, só parecia querer estar ali.

Não ocupava muito espaço, era uma presença agradável, sabia a hora de calar, o momento ideal de falar. Foi indo, invadindo, tomando conta de cada cantinho, conhecendo todos os amigos, afastando todas as pretendentes, ajudando naquela matéria mais difícil, indicando livros, filmes, peças de teatro.

Ele sabia que se tratava de um grande esforço meticulosamente planejado, sabia que por trás daqueles gestos rotineiros pulsava um coração apaixonado. Ele sabia, e percebeu, e se rendeu e deixou que pela primeira vez alguém pudesse amá-lo.

Ela sabia que esse era o único jeito. E ela soube esperar.