sexta-feira, 20 de março de 2009

Entre livros e cartas de amor

Os namoros da minha avó eram muito melhores que os meus

Pendotiba, calor com brisa, beija-flor na varanda, cachorro no quintal do vizinho, mil e trezentos livros num quarto e mais alguns que passeiam pela casa.

Curso de Quiromancia via internet banda larga.

- Vó, deixa eu ler sua mão.
- Acho que minha mão já tem linhas demais. A gente vai ficando velha e as marcas não param de aparecer.
- Vamos só ver se isso aqui funciona. Afinal, se já está na sua mão desde que você nasceu, dá pra confirmar coisas que já aconteceram.


Dedos, unhas, marcas, traços, linhas, cruzes, pontos, grades e quadrados.

- É, vó... você já namorou bastante.
- Graças a Deus!

E olha que namoro, na época da minha avó, não era nada disso com que estamos acostumados.

Não tinha essa de ir pra night de mini saia ou calça jeans grudada, em cima de um salto agulha, com chapinha no cabelo escolhendo de longe os pretendentes e saindo dali direto pro motel.

Tinha que ir pro baile com o irmão mais velho, os primos e os amigos da rua. Ia e voltava a pé, com sapatos baixos e bem confortáveis de preferência (imagina se equilibrar sobre paralelepípedos num salto agulha?).

O baile era um bom motivo pra arrumar um namorado, claro, mas a primeira idéia era dançar e se divertir com os amigos. Olhares daqui, olhares de lá, chegar perto pra conversar, segurar a mão, tirar pra dançar...usavam todo esse ritual que prolonga o processo por alguns bons dias.

Tinha que ver no baile, tirar pra dançar, ir buscar na escola na semana seguinte, pedir permissao pro irmao, levar no próximo baile.

Falando assim parece uma baita perda de tempo. Se a gente pode resolver tudo aqui e agora, não é?

Tá afim? Também tô? Vambora!

No fundo, o que há de melhor hoje em dia é que podemos ter sexo sem precisar casar. Do mais, não consigo pensar em outras vantagens.

Pode parecer careta, antiquado demais pra minha idade, coisa de mãe que começa a ver o filho crescer, mas ao menos entre meus amigos é unânime a idéia de que o melhor momento de uma relação é o princípio. Quando tudo ainda é motivo pra você se apaixonar, quando um olhar pode mudar o seu dia e o seu humor. Quando um beijo deixa nossas pernas tremendo, o coração disparado e não sabemos onde pôr as mãos.

Esse momento do flerte (não consigo encontrar uma palavra mais atual) ainda é o momento que mais nos agrada e o que cada vez mais pulamos, passamos correndo, aceleramos o passo. Começo a me perguntar: "Pra quê?"

- Mas tem quanto tempo que você tá solteira?
- Ah, vó, um ano e meio, por aí...
- Eu não ficava nem seis meses.


Não sei não, mas começo a desconfiar que os namoros da época da minha avó eram muito mais gostosos também.



"Quem de dentro de si
Não sai!
Vai morrer sem amar
Ninguém!
O dinheiro de quem
Não dá
É o trabalho de quem
Não tem!
Capoeira que é bom
Não cai!
E se um dia ele cai
Cai bem!..."
(Vinícius de Morais)

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