segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sem mais



Encostou no ombro, ajeitou a coluna, os braços. Se entregou aos afagos recheados com o suave aroma adocicado, meio baunilha, meio morango. O aroma que saía por entre aqueles lábios toda vez que a proximidade permitia o encontro das duas respirações. Por vezes ofegante, mas era do cigarro. Ela fumava pouco, mas sempre fumava. Ela falava pouco, mas sempre falava. O silêncio que restava era quase sempre confortante. Quando não, fazia questão de concluir. Em poucas palavras. Economizava palavras para tratar de si. Não tinha problemas em se expressar, mas tem horas que dá uma certa preguiça. Em outras, uma leve sensação de que já se sabe tudo, como que por telepatia. Os olhares se encontram. O que precisava ser dito já foi dito. O que se sente não interessa a mais ninguém. Às vezes, a vida dá voltas sem que tenhamos controle algum sobre o que nos acontece. Ela já quis ter controle. Hoje, observa. Carrega um egocentrismo enraizado, difícil de arrancar, mas que vive sob estado de letargia. É como se agora tivesse quase certeza de que vai chegar. Sem precisar de esforços fenomenais e feitos grandiosos, sem buscar aplausos. Quando entre o ponto A e o ponto B existe um muro é melhor contornar do que tentar escalá-lo. E eram pequenos esforços diários que iam suavemente deixando de ser esforços. Que iam se incorporando ao cotidiano, trazendo a cada dia sua recompensa. Trazendo em cada carinho, cada olhar, uma gotinha de sentimento. Ela tem mania de colecionar gotinhas. Ela tem essa estranha mania de colecionar sentimentos.



"E quem será
Na correnteza do amor que vai saber se guiar
A nave em breve ao vento vaga de leve e trás
Toda a paz que um dia o desejo levou"
(Djavan)

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