quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Petrópolis, madrugada de quarta-feira.


E quando chove uma madrugada inteira? E quando eu não durmo uma madrugada inteira? E quando a vida abre novamente uma fresta, uma meia porta aberta, uma claridade saindo por poros que eu ainda não consigo ver. A tv que ligo e desligo a cada meia hora. O livro aberto em cima da cama, que não consigo ler mais que uma página. O texto chamando, gritando, saindo da minha cabeça, mesmo quando não encontra as linhas ou a tela do computador. É a ansiedade que retorna, que abre caminho, deixando de lado as angústias por quase nada do ano que passou. As angústias por tão pouco, por ter demorado tanto para perceber que era só deixar ser sem se esquecer. Deixar o desenrolar dos fatos sem se esquecer de quem se é. Não é a pressa para que passe logo. É conseguir ser inteiro mesmo aqui, mesmo assim.


Eu deveria ter pendurado a rede na varanda, deveria ter instalado o interfone, deveria ter deixado o meu gato sair de casa há mais tempo. Não deixei. Agora falta pouco, mesmo parecendo faltar tanto. Cada dia, cada passo, cada hora a menos ou a mais. Cada vez que abro o site a procura da vaga que ainda não chegou.


De cada detalhe que poderia ter sido e não foi, fica a certeza do tempo deixado passar. Das horas contadas no relógio e dos dias contados uma a um no calendário, na rotina insatisfeita casa - trabalho - casa. Estou me redescobrindo, me permitindo outros olhares, outras possibilidades, novos caminhos. E me sinto mais perto de saber o que me agrada, o que me faz ver sentido em trabalhar, em produzir. Ainda não sei ao certo o que eu gosto de fazer. Talvez nunca saiba. Mas já estou certa do que não gosto. Deve ser um primeiro passo. 

Era isso que eu estava fazendo e pensando ontem a noite. "E quando chove a madrugada inteira?". O mundo acabando lá fora e eu aqui dentro preocupada com as minhas angústias. E o "lá fora" não é figurativo. Era ali, na minha esquina. Água chegando no joelho, lama arrastando tudo que encontrava pelo caminho. O rio quase transbordando e passando furioso aqui atrás, enquanto eu curtia minha insônia e escrevia. Pessoas perdendo tudo. Pessoas se perdendo em meio a chuva, a lama e o rio. Colegas de trabalho, clientes, conhecidos e o Seu Pedro, que fazia meu arroz com feijão e farofa. 
Acordei ainda sem saber do que acontecia e conforme as notícias iam chegando, eu ia me preocupando um pouco mais. Passei a ligar para clientes que moravam próximo aos locais mais afetados para saber se estava tudo bem. Não consegui falar com o Jefferson ainda.
É difícil dizer o que se sente. É estranho. E eu nunca tinha vivido tão de perto.    

2 comentários:

Hearing Aids disse...

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Pe disse...

acho q o dificil deve ser lidar com nossa impotencia diante do mundo... :(
força aí...
te cuida...
e qq coisa grita :)
Bjo