terça-feira, 7 de julho de 2009

Um pouco mais de paciência


Ele andava pelos cantos, pelas beradas. Sempre evitando fazer esforços, sempre evitando o que fosse doer. Normal, quase ninguém gosta de sentir dor. Gostava de se sentir querido - quase todo mundo gosta de se sentir querido; mas quando esse querer parecia demasiado, ia logo se esquivando novamente, se afastando, olhando com desconfiança. Na verdade, não conseguia conceber que alguém o amasse de verdade. Desse amor que não pergunta por quê e nem diz de onde veio. Desse amor que não é paixão, mas que chega aos pouquinhos, em pequenas atitudes cotidianas. Esse tipo de amor que nasce da admiração. Ele não acreditava que alguém pudesse admirá-lo.

Mas aconteceu. Quando menos se espera, essas coisas simplesmente acontecem. Ele já sabia bem de promessas de amor eterno que se perdiam no vazio de olhares que ele não retribuía, sabia bem de paixões que acabavam em uma semana, de cansaço ou de preguiça mesmo - porque ninguém gosta de investir demais em alguém que não dá retorno, que não trás uma flor, um olhar ou um carinho na nuca. E de tanto saber desses amores que vieram e foram embora sem alterar seu humor, é que percebia que dessa vez era diferente.

Ela não parecia querer muito, não pedia nada e se contentava com muito pouco. E era ela quem trazia flores, quem soltava um sorriso espontâneo no meio de uma conversa, quem sabia ler com os olhos quando algo não agradava muito. Ela, sem dizer uma única palavra sobre amor, sem nunca ter declarado seus pensamentos, só parecia querer estar ali.

Não ocupava muito espaço, era uma presença agradável, sabia a hora de calar, o momento ideal de falar. Foi indo, invadindo, tomando conta de cada cantinho, conhecendo todos os amigos, afastando todas as pretendentes, ajudando naquela matéria mais difícil, indicando livros, filmes, peças de teatro.

Ele sabia que se tratava de um grande esforço meticulosamente planejado, sabia que por trás daqueles gestos rotineiros pulsava um coração apaixonado. Ele sabia, e percebeu, e se rendeu e deixou que pela primeira vez alguém pudesse amá-lo.

Ela sabia que esse era o único jeito. E ela soube esperar.

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