terça-feira, 14 de julho de 2009

Das coisas que se cria

Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Sentimentos presos em letras padrão. Sempre ridículos. Sempre carregados de lacunas entre tudo que se pensa, sente e diz.

Lacunas que invadem a rotina, que deixam vago aquele horário do café; que deixam vago um pedaço do coração, guardado a sete chaves num canto da cabeça.

Coração que vem bater na boca cada vez que o celular dá sinal de mensagem. E que se aperta novamente quando não é seu o nome que aparece no visor.

Andei querendo te ver de longe, passando do outro lado da rua sem que me veja. Só pra saber se ainda carrega esse olhar indeciso. Se nesse andar de quem sabe tudo da vida, ainda dá seus passos vacilantes querendo ir, mas temendo um dia se arrepender de não ter ficado.

Andei querendo catar seus suspiros e me agarrar às suas dúvidas. Me alimentar de possibilidades que se mostram cada vez mais próximas do impossível.

Andei procurando em mim um meio de não perder o que se construiu. Um meio de não jogar no vento um sentimento que custou a chegar e que me veio num momento tão oportuno.

Ando agora, por aí, procurando uma forma de não pensar, de não tentar, de não criar qualquer tipo de expectativa.

O caminho se faz caminhando.

"Os primeiros dias são os mais difíceis, mas você vai ficar bem. Você sempre fica".

É Flor...bem que você dizia. Sempre acontece quando a gente menos espera. "Se você não se distrai o amor não chega"

A questão é ele chegar logo na hora que ela resolve ir.

O maior problema das cartas de amor é que elas podem ser rasgadas, queimadas e todas suas linhas ignoradas, sem que o remetente faça a mínima idéia.


"
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você."
(Chico Buarque)

Um comentário:

Unknown disse...

"amor, assim como morrer, não dói."
mas a gente só sabe quando passa por um dos dois.
é o risco, o fardo, a famosa insustentável leveza.