terça-feira, 20 de outubro de 2009

Tudo que cabe num silêncio

Uma tarde pra passear sozinha. Uma barca pra lembrar de quando tudo isso era corriqueiro. Um almoço pra partir o dia ao meio. Um sorriso congelado em uma fotografia. Um vôo rasante de uma gaivota. Uma nostalgia de coisa que nem faz tanto tempo assim. Uma vontade de guardar o cheiro. Abrir um pacotinho e botar tudo dentro. O gosto do mate. O cheiro do verde de Santa Teresa. O barulho do bondinho chegando. As cores das marionetes penduradas atrás do balcão. A calma de uma boa conversa. O rastro que fica na Baia de Guanabara quando o Rio vai ficando pra trás e Niterói vai chegando mais perto. O silêncio de uma praça no canto da praia. A conversa com um amigo que me deixa pensando por horas a fio. A sutileza de um olhar, a beleza de um gesto de gentileza. E nessas horas tudo faz mais sentido. "Isso da solidão...é um tema interessante". A solidão que se impõe. A solidão que se conquista. E nessas horas tudo vem de outro jeito. E me vem o seu olhar, o seu sorriso. A covinha que se abre no seu rosto quando você fica sem graça por algum motivo. Vem o cheiro, o gosto, a voz e as palavras. E tudo isso vai se encaixando. Se encaixando no mundinho que eu vou construindo dia a dia. Se encaixando cada vez mais na minha vida. E você vai entrando nela, em momentos que são só meus. Vai entrando devagar em coisas que você ainda nem sabe. E me vem um sorriso bobo no rosto quando eu penso que em tudo isso te cabe muito bem. Que te cabe muito bem na minha vida.

Um comentário:

Ana Paula Linhares disse...

PALAVRAS, quereria eu ter o PODER de escrever dessa maneira, isso, privilégio de poucos. O engraçado é que a maneira que escreve, parece uma fotografia de Bresson, você consegue congelar o segundo, que nunca mais voltará, no momento certo, com a maneira certa, o cotidiano real com os temperos, amores, dores e realidade do mundinho em que vivemos.