terça-feira, 25 de agosto de 2009

Tudo que a gente não faz por medo

Tantas vezes escrevo e tantas outras torno a escrever certas passagens. A página em branco se opõe às idéias que não param de borbulhar em minha cabeça madrugada a dentro. Por que as melhores idéias, por que os acessos de fome literária, por que essa angústia que cresce a cada segundo me batem mais forte quando todos se calam?

No silêncio da madrugada, no escuro de um quarto fechado, mil e uma idéias perfeitas aparecem. Eu quase posse vê-las, tocá-las. As cenas se passam diante dos meus olhos aflitos por reproduzir as imagens que se criam, desencadeadas ao acaso no meu inconsciente.

E se me faltar o talento? E se me faltar o prazer? E se me faltar a sorte de um dia ter essas letras lidas por alguém que aceite publicá-las? E se me faltar a coragem de mostrá-las a mais alguém?

A insegurança me consome e o medo de falhar, de não conseguir atingir minhas próprias expectativas, me maltrata o estômago.

Talvez seja mais fácil escrever auto-ajuda. Ou textos de folhetins semanais, disfarçados de literatura, mas que beiram a auto-ajuda mais pobre, auto-ajuda de programa da tarde, de conversa de manicure, de novela das oito com propósito social.

Talvez seja mais fácil escrever novela. Ir ditando o roteiro conforme os expectadores esperam que ele se desenrole.

Talvez seja mais fácil continuar garçonete. Guardar na gaveta o diploma que o próprio STJ acha dispensável. Afinal, que mais se precisa além de saber ler e escrever para ser jornalista?

Garçonete de pub do interior, fada sininho embreagando o mundo com absinto, escritora de legenda de foto para guia gastronômico. Produtora de coisa alguma, recém-adulta perdida no labirinto infinito da solidão.

De tanto ler, quis escrever. Não escreve coisa alguma.

Tudo que a gente não faz por medo.

Literatura vira brinquedo, fuga, válvula de escape quando a ansiedade beira a crise de pânico, quando pensar em tomar ansiolíticos faz temer a perda das aptidões. A dor inspira. O que é uma vida que passa sem doer?

Enquanto ela passa, leio e releio palavras soltas, escritas esporádicas, textos que ninguém mais viu. O tempo escorre nas pontas dos dedos, o futuro chegou. Cadê você José? Cadê você aí? Que aí não há sequer um par pra dividir.

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