segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Que ironia a nossa, hein?

Mas é sempre bom com você. Tudo. O ar, o vento, a água, o sol se pondo por detrás das árvores. É sempre bom com você o almoço, a cerveja e a conversa. É sempre bom o carinho, o colo, a mão, os lábios, os pés. É sempre bom seu calor, seu sorriso, sua voz, seus suspiros. E me faz um bem, me trás um bem, que eu não conhecia. E me deixa assim, quando eu penso que só vou ter isso a cada quinze dias. E dói. E eu choro. E dói ainda mais quando quem chora é você. Mas eu me sinto bem estando aqui. E aproveito enquanto meu ombro estiver do seu lado, pra te deixar chorar quando der vontade. Porque eu sempre choro quando me dá vontade também. Um choro que não é de tristeza, nem de alegria. Um choro de pesar por saber que a vida é sempre assim, cheia de ironias. E que ironia a nossa, hein?

E vamos tentando nos apegar a tudo que essa mudança pode nos trazer de bom. A qualquer detalhe que a distância possa melhorar. E vamos tentando imaginar como serão esses dias e tentando fazer planos pra que tudo doa menos, maltrate menos, pese menos. Porque não ir por você é um peso muito grande pra gente. Ir e te deixar aqui pode ser um peso muito grande pra mim. E de tudo que pode ser menos ou mais, de tudo que pode doer mais ou menos lá na frente, a gente vai escolhendo o caminho do meio. A gente sempre escolheu o caminho do meio, e eu descobri que essa calma, essa tranquilidade, essa voz baixinha, são resultado de muito pensar e pesar o que vale a pena. O que eu sei agora é que você me vale a pena. Muito. Cada dia mais.

E eu vou guardando esse cheiro, esse sorriso, esse olhar, como fotografias na minha cabeça. Pra poder sempre me lembrar deles, quando sua presença não for possível.

Quando eu tinha onze anos e li pela primeira vez o manifesto comunista, comecei a pensar como que uma vida com maior desapego ao dinheiro poderia ser uma vida mais tranquila, mais paz e amor e menos trapaças. Ingenuidades de criança que me voltam a cabeça quando eu penso que pode parecer muita utopia, muito discurso furado, mas que eu preferia não precisar de nada disso. Esse negócio de crescer dá muito trabalho.

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