segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O melhor purê do mundo

Quem disse que não se aprende sozinho?


Existem coisas que se tornam cotidianas para muita gente e que acabam por serem feitas como obrigações, perdendo-se gradativamente o prazer de realizá-las.

Tenho três irmãos e por toda a minha vida, minha casa tinha no mínimo seis pessoas sentadas à mesa em cada refeição. Eramos quatro filhos, pai e mãe (fora amigos e agregados que apareciam de vez em quando) e quando o casamento acabou, eu logo fiz o favor de recompôr a família com mais um membro.

Nascido Arthur, voltamos a ser seis em torno da mesa. Agora, mãe, filhos e o netinho único, que aproveitava para provar os tantos sabores desconhecidos de seu paladar.

Nesses quase trinta anos de matriarca da família, minha mãe passou por vários períodos em que se queixava do sabor de sua própria comida. E aí, era hora de mudar os temperos, descobrir novas ervas, pozinhos, cubinhos e molhos, tudo para deixar os alimentos com novos sabores e mais uma vez agradar a todos ao redor da mesa.

Quando nosso querido bebê pôde compartilhar da mesma refeição de todos, os gostos tiveram que mudar outra vez. Uma cardiopatia fez com que Arthur tivesse que se acostumar com pouco sal desde as primeiras papinhas de legumes e, assim, toda a família se adaptou ao novo sabor dos alimentos.

Foram surgindo alternativas, mais cores, mais saladas, menos gordura e menos sal. A a Mãe, mais uma vez se reinventava a frente das panelas. Algumas vezes nos aventurávamos em ajudá-la com um frango ou um molho diferente para a salada, mas nem sempre as ajudas foram muito benéficas.

Nesses meus últimos meses em Niterói, na casa de uma vovó que não gosta de chegar perto das panelas, aprendi a me aventurar mais na culinária, até porque, tenho que fazer minhas prórpias refeições quase todos os dias.

E esse momento de pensar no que se quer comer, preparar a comida e finalmente saboreá-la, nem sempre acontece com o glamour todo do programa da Ana Maria Braga.

Dá preguiça, dá muita preguiça descascar tudo, socar o alho, acertar no sal, nos temperos, pôr água pra ferver....é tudo um longo processo pra algo tão corriqueiro. Porém, comer é talvez o movimento cultural mais enraizado em nós. E para mim é um dos maiores prazeres da vida.

E foi em um desses dias que eu acordei com menos preguiça, que resolvi fazer um purê de abóbora. Como disse minha avó, eu já estava "tarada pela abóbora" há alguns dias. Paquerava ela na geladeira, esperando o momento em que resolveria comê-la.

Não tive muitos problemas com ela, já que minha querida vovó que não gosta de cozinhar, faz o favor de comprar legumes descascados, cortados, lavados e embalados à vácuo (molezinha). Lavei os pedaços de abóbora, pus na água para cozinhar e fui pensar nos temperos. Amassei o alho e escolhi a dedo os ingrediantes e a quantidade de cada um para temperar o purê.

Mistério nenhum: amassa a abóbora cozida e joga na panela com aquele refogado de temperos e azeite. Pronto!

Mesa posta, comida na mesa, fui finalmente provar o tão cheiroso purê. (Aposto que todos os vizinhos sentiram o cheiro daquele alho frito) E me senti tão orgulhosa quanto quando defendi um pênalti no handbol na escola, numa disputa entre a quinta b e a quinta c, quando eu tinha 13 anos. O purê era O Melhor purê de abóbora que eu já comi na vida!

Mesmo uma matriarca de família numerosa não acerta sempre a mão no tempero da comida, mas naquela terça-feira eu acertei.

E foi assim que só eu tive a oportunidade de provar o melhor purê de abóbora do mundo.


"É na clareza da mente
Que explode a procura do novo processo
E o que é meu direito eu exijo e não peço
Com a intensidade de quem quer viver
E optar: ir ou não por ali
A nossa primeira antena é a palavra
Que amplia a verdade que assusta
E a gente repete que quer mais não busca
E de um modo abstrato se ilude que fez"
(Oswaldo Montenegro)

3 comentários:

Unknown disse...

resolveu guardar os pensamentos, damasceno ?!

Anônimo disse...

adoro uma aventura gastrômica, acho prazeroso e gosto da textura e cheiro das coisas e purê de abóbora, ai, ai, delicinha demais!

Anônimo disse...

minha mae nunca foi fã de cozinha, vida corrida de mais em SP. EU cozinho bem , sem quere, sai naturalemnte, mas eu quero algo mais "anamaria" pra minha vida, sabe colocar as coisas sujas embaixo do balcão e elas desaparecerem, como eu tb joguei hand posso dizer que minha lasanha é como ganhar o capeonato com a minha sala na 5ºB, (altas lembranças isso me trouxe)rs