sábado, 27 de março de 2010

Além do que se vê

Sabe o que é? É que tem horas que isso tudo cansa. Cansa só saber dos amigos por mensagens no orkut, só conseguir contar da minha vida esrevendo um post no blog, só ver meu filho no fim de semana, só ouvir a voz da minha namorada a semana inteira. Cansa essa correria de sair mais cedo do trabalho pra não perder o ônibus na ida e deixar ela na cama pra não perder o ônibus na volta. Cansa essa rotina hotel-banco-hotel, de nove às seis. Cansa ver que eu dou satisfação de tudo que eu faço à recepcionista, porque tem dias que é só com ela que eu falo depois que saio do trabalho. Cansa mudar de quarto toda semana e não ter companhia pra um chopp no fim do dia. Alguém que só sente do meu lado e me faça pensar e falar sobre qualquer coisa que não envolva contas PJ, investimentos em CDB e microempreendedores. Alguém com quem eu possa falar o que eu realmente penso de cada uma daquelas pessoas pras quais eu dou bom dia toda manhã. Sem que pareça fofoca, sem que entendam B quando eu digo A, sem que qualquer comentário que eu faça influencie na forma como as pessoas me tratam. E sinto falta de dar um beijo no meu filho e de conversar com a minha mãe na mesa da copa, depois que todo mundo foi dormir. E dá uma vontade louca de montar logo o meu canto, ter enfim uma casa, dormir mais de um dia sguido na MINHA cama. Uma vontade louca de acordar com beijinhos e o sorriso mais lindo, mesmo em dia nublado. E dá até pra pensar que eu vou sentir falta de que arrumem minha cama, lavem minha louça e me façam ovos mexidos que não estão no cardápio e que me paguem um jantar só porque eu não me importo de dormir em um quarto sem ar condicionado. Dá até pra me imaginar sentindo falta do bom dia da Fátima e dos galhos que ela me quebra quando eu esqueço pela terceira vez o carregador do celular em Juiz de Fora. E chega a dar um frio na barriga me ver deitada, olhando pro teto e me vendo sozinha num lugar onde eu não conheço ninguém. Onde o ombro mais próximo está a 96km de mim. E enquanto isso tudo vai correndo na minha cabeça, eu vou vendendo seguros, abrindo contas, aumenando limites de cheque especial, formulando estratégias pra ganhar uma graninha extra na remuneração variável do fim do ano e, quem sabe, uma viagem pro nordeste, com acompanhante e tudo. É... esse banco é uma mãe mesmo. Pena é que me levou pra tão longe da minha.

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