terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

trechos de mim em mim mesma

“Leve e úmida amanheceu. A chuva transformara em lama espessa a cinza fina que caíra na noite anterior. As malas já estavam prontas, o trem partiria em cerca de duas horas. A idéia de estar a caminho de casa trazia conforto. As lembranças dos cabelos negros ralos sobre a testa, que ventavam enquanto ele corria, movendo-se em suaves movimentos, faziam a imagem do menino ressoar em seus pensamentos. Bateram na porta. “Tudo pronto? Saímos em quarenta minutos.” Juntou os papéis que estavam na cabeceira, abriu os armários e olhou nas prateleiras para se certificar de que não estaria se esquecendo de nada. Naqueles dias em que acordava sozinha na cama, não gostava de se olhar no espelho pela manhã. Não gostava de se olhar no espelho quase nunca, como não gostava de ser fotografada. Guardava dentro de si, como pequenos filmes mudos, os sorrisos, os movimentos, as expressões de qualquer um que chamasse sua atenção, mas não sabia lidar com essa discrepância da imagem que fazia de si com a que era possível observar no próprio reflexo”.
(Camila Damasceno)

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