Ah, doutor, o que é isso?
Muito diagnostico e pouca eficácia.
A objetividade me cegou.
Não ouço mais vozes.
Não digo mais nada.
Não há o que dizer.
As palavras são
A dramaturga calou-se.
Acordei e era uma noite hip hop.
Gritavam comigo
“Qual é a dessa fala?”
E falavam de mim
“Qual é a dessa porra dessa fala?”
E em minha defesa, a ausência
É o jeito que eu falo?
São as minhas palavras
ou o meu ritmo?
“Qual é a dessa fala?”
Acordei e eram os dois, o casal
me olhando da parede
me encarando à distância de quem
vive em países frios
me encarando à distância de quem
vive durante guerras
Qual é a dessa fala?
A dramaturga ficou sem palavras
Eu poderia sentar aqui e escrever
sete páginas
sete páginas de coisas bonitas e
profundas
sete páginas de sete blogs sobre
sete formas de manifestações da potência
Eu poderia sentar aqui e escrever
pra vocês sete vezes o que eu já escrevi na vida
Mas não.
A dramaturga ficou sem palavras
O quanto é potência um soco bem
dado no auge da raiva
O quanto é potência um grito
desesperado na hora do medo
O quanto potência um monte de
palavras empilhadas
O quanto potência
O quanto eu
Mas não
A dramaturga ficou sem
Acabo de acordar e é a cara dele
sem graça
A cara dele querendo um soco no
auge da raiva
A cara dele fugindo do meu olhar
Acabo de acordar e talvez, mais
uma vez
talvez eu me importe mais do que
deveria
Eu poderia sentar agora e escrever
sete páginas
Mas são duas
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