Era a bola rolando, o estádio lotando, a torcida cantando e a vida levando. Pra diante. Distante a cada dia e perto, cada vez mais perto daquela ideia distante e vaga de paraíso. E tem restaurantes e bares e grupos de teatro. E tem fruta brotando no quintal e os bichos soltos pela grama. Tem o galo do vizinho e as cinquenta maritacas que dão boa tarde todos os dias. E tem até parque pra caminhar e ver a lua cheia iluminar o lago como tocha enquanto as capivaras pastam logo ali. -É a família inteira, o pai, a mãe e os filhinhos. - E aquela média ali do lado? Deve ser a sogra. - E o som dos passos nos paralelepípedos e som da viola nos fundos, no domingo. E tem até shopping center perto do paraíso com grandes livrarias e cinemas e teatros e boates e restaurantes e hamburguerias e sorveterias e docerias e móveis e roupas e tudo mais que se queira e se pode comprar num shopping. É a rede rangendo, a comida cheirando, o cachorro latindo, os livros se amontoando. A vitrola rodando, os dedos teclando, o incenso queimando. É a vida seguindo, cada vez mais perto, cada vez mais dentro, cada vez mais calmo, cada vez menos angústias e ansiedades, ou ao menos, todas andando em outro ritmo. É esvaziar-se porque tem muita coisa melhor abrindo espaço pra entrar. Minha casa no campo, onde eu possa guardar meus amigos, meus discos e livros e nada mais.
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