Coisas que se ouve, se vê, se lê e se fala.
- Por que você me escolheu?
- Porque você parece carregar uma angústia, assim como eu.
- Quando aprendeu esses passos?
- Nunca.
- É a primeira vez que dança isso?
- É.
- O que a inquieta hoje, o que a atemoriza?
- Descobrir que não há paraíso possível, que não existe um lugar onde eu possa evitar a queda.
- É bom saber que você ainda é a pessoa que eu sempre achei que fosse.
- Como assim?
- Te amo, viu?
- E aí, vai voltar?
- Não sei. Talvez. Não sei muito das coisas que estão para me acontecer.
- Suas lembranças são sempre imagens.
- Por isso escrevo.
- E quanto a mim?
- À senhora caberá lembrar-se de tudo.
- Não me olhe assim.
- É assim que sinto.
- Está aqui por livre vontade.
- Sim, mas só por causa do que você disse. E você bem sabe.
- Eu quero morrer sentindo dor.
- Por quê?
- Pra que eu faça alguma diferença.
- Não se sentia sozinha?
- Muito, mas eu gostava da sensação. Ainda gosto.
- Por quê?
- Porque combina com a realidade. Odeio as sensações fictícias.
- A gente veio aqui levar você.
- Eu já estou morto. E posso afirmar-lhes que a morte não é tão má como se pensa.
- Que se há de fazer - murmurou - o tempo passa.
- É verdade - disse Úrsula - mas não tanto.
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