terça-feira, 12 de novembro de 2013

o que ard(/t)e

E qual é esse caminho?
Vai saber.
Imersão em tanta informação e tão pouco espaço pra refletir e tão pouco senso pra questionar e tanto de tudo o tempo todo. Mudar pro sertão. Sair do mundo. E viver. A frustração de não segurar a onda do radicalismo. Chegar ao extremo. Se libertar de todas as coisas. Pra onde?
Vai saber.
E a gente faz tanta coisa que não está afim de fazer o tempo inteiro.
Meu gato me encara e deita. Cabeça virada ao contrário.
Se pôr de ponta cabeça. Correr em grandes espaços abertos.
Ir. Manter firme a caminhada.
Opor-se.
Não existe arte à favor.
Não existe.
Existir. O olhar do outro que me cega e me impõe trilhos.
Andar fora da estrada. E ir.
Manter firme a caminhada.
Um tema. Um dia de pensamentos.
Sem Deus nem nada.
Reflexões. Construção do seu entendimento. E ir.
Manter firme a caminhada.
Pra onde vai a minha energia?
De que forma eu me recarrego?
Com qual frequência?
Manter firme a caminhada. E ir.
Pra onde?


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

quase trinta (2)

Hahahahahaha.... quem diria, Camilinha?

E eu me lembro do Joey, clamando: Deus! Nós tínhamos um trato!!!!

Quase trinta. Trezentos e sessenta e cinco dias para os trinta.
Eu hoje bebi sozinha. E comemorei. Eu, o Chico e duas latas de Brahma. Ao som do Emicida.
Tem sido bom. Tudo até aqui tem sido muito bom.

Quase lá. Estou quase lá.
Se lá é alguma coisa aos trinta e três (como eu costumava pensar).
Quase lá porque falta ganhar uma grana melhor com esse negócio de escrever.
Quase lá porque falta ter o Arthur aqui pelos anos que ainda teremos ele por perto. (ou por mais perto)
E só.

Quem diria, Camilinha????

Um belo amor, uma bela profissão, um punhado de belos amigos, belos e bons bichos ao redor, uma bela e boa paisagem no caminho de casa, belas e boas lembranças do que já foi. Belas e boas esperanças do que virá a ser.

Quem diria?

Sabe Deus, se você existe em algum lugar, se você reúne em si toda essa energia cósmica que se manifesta no universo, se é tudo e sendo tudo eu sou em você também... Valeu!

Por tudo.


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

quase trinta

Mania de falar no tempo passado. Gosto pela nostalgia. Era/é como perdoar um irmão. Ele não precisa pedir desculpas. Você vai estar sempre esperando. Mas o perdão já foi. Já não faz muita diferença se de fato não abalou muita coisa. Eu não soube pedir desculpas a pessoas que magoei. E esperei ser perdoada como se perdoa a um irmão. Não sei se fui. Andei concentrada em outros propósitos. Andei tomando conta demais de mim. Era preciso. Agora bem. Agora tudo em ordem. Mas distante o suficiente para não saber mais. É como perdoar a um irmão, mas eu não sei se o laço de fraternidade ainda existe.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Um trecho para Pê















Sentiu de novo aquele cheiro. O vento frio cortando o rosto. A luz invadia os olhos e cegavam. Ela enxergava melhor na penumbra. Ou era assim que costumava ser. Como naqueles dias em que recebia a luminosidade aos poucos. E aos poucos observava a luz clareando os ambientes.  O dia nasce devagar. A luz e a escuridão passam horas em contato. E enquanto uma recua exausta, a outra espalha-se na imensidão. Como naqueles dias. Dias em que ela apurava o olhar. Dias em que uma garota, com cara de mais garota ainda, invadia os redutos masculinos na escuridão, iluminada por placas de neon, e se sentava a mesa com eles. Como um deles. A fragilidade exposta nos olhos e a segurança mascarada nos ombros. Nos dias em que ela habitava o mundo dos mortos. “O inferno é isso aqui”, bradou uma vez, irritada com um papo chato de crente em mesa de botequim. Ali era sempre o último bar aberto no que restava da madrugada, que podia acabar ao meio dia, comendo pastel, tomando cerveja e conversando com as prostitutas na feira no centro da cidade.

Ela sentiu de novo aquele cheiro. O vento frio cortando o rosto. E as caras amassadas de dormir, misturadas às aparências cansadas de quem acorda quando ainda é noite, já circulavam pelas calçadas. Não longe dali, uma criança dormia um sono profundo, envolta em ursinhos de pelúcia. Aquele cheiro e aqueles sons. O mundo dos homens sendo desbravado pelo rosto juvenil de menina. O peito estufado. A segurança nos ombros. Bebia uma cerveja encostada no balcão. Falava qualquer coisa com o garçom. Ria. Ouvia. Cheirava. Qualquer coisa dessas que a gente vê na noite todos os dias. Qualquer coisa sobre bêbados brigando na calçada, crianças cheirando cola e pedindo esmolas, transações sexuais discutidas em mesa de bar. Qualquer coisa sobre o sentido da vida ou as teorias sobre vida após a morte e a existência de demônios rondando por aí. “Os demônios são pessoas como essas, que não percebem que morreram e continuam sugando os outros em busca de álcool, drogas e sexo” - arrematava em tom de ironia com os parceiros mais frequentes. E eles eram sempre os funcionários do bar. Do gerente ao segurança.

Ela sentiu de novo aquele cheiro quando, naquele dia, ele a puxou com força pra dentro e a mandou ficar ali. Os movimentos anteriores foram uma gargalhada forçada de uma travesti, um nordestino comprando mais uma ficha para cantar sertanejo no karaokê, alguém discutindo a conta no balcão e um motoqueiro com o capacete levantado, arrancando com a moto por cima da calçada. Quando acreditou que ela estivesse segura, ele se voltou novamente para fora do bar e ela pode ver a arma presa à cintura. “Ele foi gogoboy. Dançava na boate de vez em quando” – e ela sabia que era verdade. Tanto quanto sabia que aquele barulho não era de cano de descarga. Estufou o peito. Ele voltou e a mandou ir embora. A madrugada acabou mais cedo aquele dia. E pra ela não tinha durado nem duas horas.  



sexta-feira, 1 de março de 2013

Não vim ao mundo pra ser passiva


As narrativas faliram, porque não há como narrar o ponto em que chegamos. Foi mais ou menos isso que pensou o Benjamin quando o mundo se viu estupefato com as barbaridades cometidas durante a Segunda Guerra. Hoje, é fichinha. Holocausto é fichinha. Bomba atômica é fichinha. Nos embrutecemos. Enganou-se aquele que acreditava que o auge da barbárie traria uma nova consciência, um novo respeito, uma nova ideia de amor ao próximo. Enganou-se quem acreditou na redenção humana pelas próprias mãos. Pioramos. E vamos piorando a cada dia. Embrutecidos, anestesiados.  Tá fácil assistir à violência nossa de cada dia. Não precisa ir ao cinema, não precisa assistir telejornais. Ela está por todos os lados, nos olhares, nas reprimendas públicas das atitudes alheias. E é nesse contexto que renasce um movimento cristão, reúne adeptos de todas as classes, prega as palavras bíblicas em troca de uns bons trocados isentos de imposto de renda. E vai, aos pouquinhos, de pregação em pregação, alastrando nos peitos doídos e passivos dos desesperados, os sentimentos de ódio, de intolerância, de desrespeito ao outro. Outro nesse sentido mais preciso da palavra: aquele que não sou eu, aquele que em nada se assemelha comigo, aquele que faz suas escolhas pautadas em outros valores que não os disseminados na minha igreja. Minha igreja. É como os novos cristãos evangélicos falam. Os católicos creditam À Igreja, assim, com letras maiúsculas, a única salvação possível. Os evangélicos tem cada um a sua. E vão de casa em casa, na padaria, na esquina, na fila do banco, no meio da rua, no congresso nacional, sem pudor ou respeito às opiniões alheias, convocando cada vez mais adeptos a se unirem nessa causa divina. Como se a quantidade de pessoas encaminhadas à igreja fosse alargando as portas do céu pra ele ou ela. Vai garantindo seu espacinho ao lado de Deus, depois do dia que a barbárie o pegar de jeito, ou quando a morte, naturalmente, se alastrar em seu sangue, em seu corpo e deixar vazia de alma essa carcaça que carregamos. Todos iguais. Por dentro, somos todos iguais, com coração, pulmões, estômago e intestinos funcionando de forma igual (respeitadas as devidas singularidades. Singularidades que a natureza propõe, experimenta, como forma de povoar esse planeta com uma diversidade enorme de seres vivos, diferentes em cor, tamanho, tipo de alimentação e etc). Como nos canta Rita Lee, muito sabiamente, um dia depois, tudo vira bosta.

Não são possíveis mais narrativas porque a experiência humana às transborda. Uma narrativa não dá conta de toda barbárie que somos capazes de produzir. Acho que foi isso que o Benjamin quis dizer. E o nosso cotidiano anda tão saturado de eventos bárbaros, que nos anestesia. Mas eu não vim no mundo pra ser passiva, pensei cá com meus botões. E resolvi que escrevendo conseguiria transpor pro papel, pro ator, pro público, essa angústia que me invade todos os dias, todos os dias, quando no meio da rua ou dentro do ônibus ou na fila do metrô, quando todos os dias eu me deparo com a intolerância estampada na cara das pessoas, na fala das pessoas, nos gestos das pessoas. Mas não. O papel nunca é suficiente. O que eu escrevo nunca é suficiente pra expurgar a dor de ver (inclusive em pessoas que eu amo) esse ódio ao outro. Esse não suportar que o outro seja como ele quer ser, como ele escolhe ser, com seus defeitos e qualidades. E aí, me vem essa notícia sensacional: um senhor, pastor evangélico, declaradamente homofóbico e racista, irá assumir a presidência da comissão de direitos humanos. Vai ser agora responsável por propor medidas em relação às minorias e, antes mesmo de assumir seu lugar, anuncia que irá acabar com os privilégios conquistados pelos homossexuais nos últimos anos. (PRIVILÉGIOS???!!!) E o que pra muita gente é uma notícia corriqueira no facebook, me pega em cheio, me tira a fome, me joga na cama e remexe meu estômago e intestino. E aqui já nem me cabem mais as palavras para expor a esse cidadão e aos que compartilham de sua opinião, que homossexuais não tem quaisquer privilégio em nossa sociedade, pois nos faltam os direitos civis básicos. Ou, para falar a língua que os senhores preferem, nos falta o direito primeiro, primordial, nos falta o direito divino à vida. O seu preconceito e a sua intolerância mata mais do que o exército de Israel. O Brasil, que já não é mais o primeiro do mundo no futebol faz tempo, também faz tempo que não sai do primeiro lugar do mundo em extermínio de homossexuais. Extermínio sim. Porque são assassinatos direcionados. São tocais armadas, ciladas planejadas. Vocês, senhoras e senhores evangélicos intolerantes, estão exterminando seus filhos, sobrinhos, netos. Vocês, senhoras e senhores evangélicos intolerantes, estão incentivando o extermínio de meninos e meninas adolescentes, muitos antes mesmo de chegarem aos vinte anos. Não é bullyng, não é piadinha, não é hipocrisia, é ASSASSINATO. Essas pessoas tem pai, mãe, irmãos, filhos, sobrinhos. Essas pessoas nascem de vocês e o que elas carregam não é uma falha de caráter, não é uma má formação genética, é o seu sangue, é amar e esperar que em um país dito democrático, existam leis que assegurem a elas o direito de viver. Não precisamos esperar um outro holocausto ou a explosão de uma bomba atômica para que as narrativas não deem conta da nossa experiência. Ela já não dá. A minha narrativa não dá conta dos meus colegas mortos e violentados por serem quem eles são. A minha narrativa não dá conta do meu medo de ser a próxima vítima.

Camila Damasceno
Campinas, 01/03/13

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Guará

Era a bola rolando, o estádio lotando, a torcida cantando e a vida levando. Pra diante. Distante a cada dia e perto, cada vez mais perto daquela ideia distante e vaga de paraíso. E tem restaurantes e bares e grupos de teatro. E tem fruta brotando no quintal e os bichos soltos pela grama. Tem o galo do vizinho e as cinquenta maritacas que dão boa tarde todos os dias. E tem até parque pra caminhar e ver a lua cheia iluminar o lago como tocha enquanto as capivaras pastam logo ali. -É a família inteira, o pai, a mãe e os filhinhos. - E aquela média ali do lado? Deve ser a sogra. - E o som dos passos nos paralelepípedos e som da viola nos fundos, no domingo. E tem até shopping center perto do paraíso  com grandes livrarias e cinemas e teatros e boates e restaurantes e hamburguerias e sorveterias e docerias e móveis e roupas e tudo mais que se queira e se pode comprar num shopping. É a rede rangendo, a comida cheirando, o cachorro latindo, os livros se amontoando. A vitrola rodando, os dedos teclando, o incenso queimando. É a vida seguindo, cada vez mais perto, cada vez mais dentro,  cada vez mais calmo, cada vez menos angústias e ansiedades, ou ao menos, todas andando em outro ritmo. É esvaziar-se porque tem muita coisa melhor abrindo espaço pra entrar. Minha casa no campo, onde eu possa guardar meus amigos, meus discos e livros e nada mais.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Rumo aos 400

Os dez primeiros filmes do ano nos dez primeiros dias. 

Vou postar na sequência que for assistindo, tendo a meta de 400 até dia 31/12.

Com pequenos comentários sobre as sensações imediatas após assistir os filmes.

Segue a lista:

Set do filme PI, do diretor Darren Aronofsky
1-  Deus e o diabo na terra do sol – Super clássico do Glauber Rocha. Assisti em doses homeopáticas, porque precisei parar varias vezes pra fazer outras coisas. Sensacional. Algumas cenas são muito bonitas. Tive vontade de imprimir e emoldurar pelo menos umas três. Não vi tanta graça na cena clássica (a câmera rodando ao redor do casal). Achei que o filme tem outras melhores. Como a sequencia em que o profeta mata a criança.
2- O Hobbit – efeitos especiais legais e o primeiro da série Senhor dos Anéis em que não durmo no meio. – Valeu o ingresso.
3- Snatch - Porcos e Diamantes. – Divertido. E o Brad Pitt está ótimo. Os cruzamentos das histórias são bacanas, mesmo os mais forçados. Benício del Toro também está muito bom. Pena que aparece tão pouco. Valeu os R14,90 que paguei nele.
4- Preciosa - Pegaram pesado na desgraceira. Mas tem uma cena bonitinha da professora com a esposa. Gostei do tratamento com o casal gay. A atuação da Mo'Nique está sensacional.
5- Rashomon – Clássico do mestre Akira Kurosawa. Muito bom mesmo. Me disse Marco Antônio: “nunca vi um clássico ruim”. Segui e a dica e não me decepcionei.  
6- Pi – Talvez um dos melhores filmes que já vi. A direção é foda é o roteiro idem. Se fossem meia boca, não passaria de mais um filme com números e uma teoria da conspiração.
7- Questão de Honra – Tom Cruise e a eterna ex do Bruce Willis. Filminho sessão da tarde, cobertor e chocolate. Mais um endeusamento de advogados e suas retóricas.
8- Detona Ralf – Podia ser melhor. Talvez a única coisa mais bacana seja ver os vilões de jogos clássicos se movendo de outras formas e falando. Do mais, vem com uma moral da história fraquinha e forçada demais pros tempos atuais dos norte-americanos (presidente negro, guerras e crises).  
9- Uma família em apuros. – Acima da média pra um filme sessão da tarde. Vi no cinema e valeu o ingresso. Bom pra ver com a família. Ri demais.
10-  Oliver Twist – Mais um que apela nas desgraceiras. Baseado no livro homônimo, apresenta a velha ideia de que o que vem do campo é bom e puro e a cidade perverte o homem. Será? Do mais, as maquiagens e figurinos são muito bem feitos.

Nos próximos dez, espero já estar No, com o Gael Garcia e Django Livre, do Tarantino. Os dois que estou esperando mais pra assistir.