E vamos tentando nos apegar a tudo que essa mudança pode nos trazer de bom. A qualquer detalhe que a distância possa melhorar. E vamos tentando imaginar como serão esses dias e tentando fazer planos pra que tudo doa menos, maltrate menos, pese menos. Porque não ir por você é um peso muito grande pra gente. Ir e te deixar aqui pode ser um peso muito grande pra mim. E de tudo que pode ser menos ou mais, de tudo que pode doer mais ou menos lá na frente, a gente vai escolhendo o caminho do meio. A gente sempre escolheu o caminho do meio, e eu descobri que essa calma, essa tranquilidade, essa voz baixinha, são resultado de muito pensar e pesar o que vale a pena. O que eu sei agora é que você me vale a pena. Muito. Cada dia mais.
E eu vou guardando esse cheiro, esse sorriso, esse olhar, como fotografias na minha cabeça. Pra poder sempre me lembrar deles, quando sua presença não for possível.
Quando eu tinha onze anos e li pela primeira vez o manifesto comunista, comecei a pensar como que uma vida com maior desapego ao dinheiro poderia ser uma vida mais tranquila, mais paz e amor e menos trapaças. Ingenuidades de criança que me voltam a cabeça quando eu penso que pode parecer muita utopia, muito discurso furado, mas que eu preferia não precisar de nada disso. Esse negócio de crescer dá muito trabalho.