segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Galinha que acompanha pato morre afogada

A proximidade do mar tem me dado uma destreza.....

Não me pergunta muita coisa, porque boa parte das coisas que eu faço não tem mesmo explicação.

(Parafraseando Thalita Peron: acho q certas coisas ficam mais bonitas sem explicação).


Se tudo estivesse acontecendo em outros tempos, a cabeça tava dando um nó, mas com a calma que me acomete nesses dias chuvosos e a paz que eu sinto quando o sol resolve amanhecer entrando pela minha janela, tá tudo fluindo lentamente.


E assim até parece ser mais gostoso. Dá tempo para aproveitar cada detalhe.


Família vai bem, cada vez mais moderna. Encontros com as amigas de vovó também têm sido proveitosos.


Festival de Cinema tá começando e promete tornar o decorrer das próximas semanas mais suave. Já estou até me planejando para acordar de frente pro Pão de Açúcar mais uma vez. (Estende a rede que eu tô chegando).


Eleições se aproximando, vou aproveitar pra ver o filhote e os amigos, além de exercer minha cidadania na esperança que meus candidatos possam fazer um pouco mais por nós. Mas uma cidade que elege Bejani, Tarcísio e Custódio Matos sucessivamente não me deixa criar muitas expectativas.


Quem sabe essa ida à Jotaéfe não me trás boas novidades?


Existem tantas coisas lindas por fora e deliciosas por dentro....


Enquanto isso, o Raul vai tocando insessantemente no meu mp3.




"Nunca se vence uma guerra lutando sozinho
Cê sabe que a gente precisa entrar em contato
Com toda essa força contida e que vive guardada
O eco de suas palavras não repercutem em nada"(Raul Seixas)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Quando acabar o maluco sou eu

"Tente me ensinar das tuas coisas que a vida é séria e a guerra é dura, mas se não puder, cale essa boca, Pedro e deixa eu viver minha loucura" (R.Seixas)


"Nada tinha mudado na cidade; a única mudança era que as menininhas tinham crescido. Mas elas viviam em um mundo tão complicado de pequenas alianças já definidas e pequenos desentendimentos que Krebs não sentia disposição nem coragem para entrar nesse mundo. Mas gostava de olhar as moças. Havia tantas criaturinhas bonitas. (...) Krebs gostava de olhá-las da varanda da frente quando passavam na rua. Gostava de olhá-las caminhando à sombra das árvores. Gostava dos colarinhos largos e pontudos por cima do suéter. Gostava das meias de seda e dos sapatos de salto baixo. Gostava dos cabelos amarrados atrás e da maneira de andar delas.
Quando ele saía de casa, não se sentia muito atraído pelas moças. Não gostava delas quando as via na sorveteria. Não queria mesmo nenhuma delas. Eram muito complicadas. E tinha mais. Ele queria vagamente uma moça, mas não queria se esforçar para conquistá-la. gostaria de ter namorada, mas não queria gastar tempo para consegui-la. Não queria entrar no mundo dos cochichos e dos mexericos. Não queria cortejar. (...)
Não queria conseqüências, nunca mais. Queria levar a vida sem conseqüências. Aliás, não queria mesmo uma namorada. Aprendera isso no exército. Pode-se fazer de conta que se tem namorada. Quase todo mundo faz de conta. Mas não é verdade. Ninguém precisa de namorada. É engraçado. Primeiro o camarada diz com ar altivo que as mulheres nada significam para ele, que nunca pensa nelas, que elas não conseguem pegá-lo. Depois, outro camarada diz que não pode viver sem mulheres, que precisa delas o tempo todo, que não pode dormir sem elas.
É tudo mentira. É mentira nos dois sentidos. Quem não precisa de mulheres não pensa nelas. Krebs aprendera isso no exército. Mas um dia se arranja uma. Quando se está amadurecido para mulher, sempre se consegue uma. Não é preciso ficar pensando nela. mais cedo ou mais tarde ela aparece. Aprendera isso no exército.
Agora ele até que aceitaria uma garota se ela viesse a ele e não quisesse conversar. Mas naquelas circunstâncias era complicado. sentia que não podia passar por tudo de novo. Não valia a pena."

(E. Hemingway, A Volta do Soldado)


"Se você acha o que eu digo fascista
Mista, simplista ou anti-socialista
Eu admito, você tá na pista
Eu sou ego, eu sou ista
Eu sou ego, eu sou ista
Eu sou egoista, eu sou egoista
Por que não?Por que não?"(Raul Seixas)

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Diálogos em tempos de forçada paz

Enquanto o mundo entra em crise a gente sorri


- Calma, pensa que essa pode ser a melhor fase das nossas vidas. Pensa que quando tudo isso passar, quando as coisas entrarem no lugar, quando as rotinas se reestabelecerem, vamos passar anos cultivando a lembrança nostalgica do tempo em que tínhamos liberdade. Essa mesma liberdade que temos agora, e só agora, de ir para onde o vento soprar. Sem raízes, com bons amigos em muitos lugares, com a tranquilidade de que faremos novos, caso a gente caia em um canto desconhecido. Às vezes tenho medo de perder a chance de aproveitar esse momento, porque sei que ele nunca vai voltar.

- Eu fico ansioso. Tenho medo das coisas demorarem muito para dar certo. E ainda tem essa sensação de que tantos anos de estudo não serviram para quase nada.

- Ansiedade é complicado de lidar, realmente. Ainda estou exercitando a relação com a minha. Tem épocas que ela me corrói o estômago, que me causa alergias e crises de humor. Mas tenho aprendido a me manter mais calma, a sentir o movimento e a velocidade das coisas.

- É importante conseguir aproveitar esse momento mesmo. Vou tentar relaxar mais.

- Mas eu tenho tido essa mesma sensação que você, de que tantos anos não serviram para quase nada. Acho que o governo precisa criar ações de inserção de recém-formados no mercado de trabalho.

- Mas como fazer isso sem perder a qualidade dos profissionais que já estão atuando? Que tipo de incentivos?

- Não sei, algo como a cota para deficientes físicos. O Estado gasta milhões para a nossa formação. Não é possível que eu fique cinco anos estudando por conta do governo e tenha que continuar sendo garçonete.

- A nossa geração é uma das primeiras a sentir esse problema, porque não faz tanto tempo que se tem tanta gente com ensino superior no país.

- Quem sabe quando eu for Secretária de Educação ou trabalhar no Ministério....vou fazer essa proposta, desenvolver um programa, como esses de primeiro emprego para jovens de baixa renda.

- Um dia a gente chega lá. Viver de escrever e elaborar projetos.

- Não perco essa esperança jamais. Meu laptop no colo, minha rede na sombra, meu mate gelado, a brisa vindo me visitar, meus filhos correndo na praia e todos os meus afetos acumulados vindo inundar meu coração.




"Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada,
Ou quase nada
Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada,
não deu em nada"
(Tom Jobim)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O melhor purê do mundo

Quem disse que não se aprende sozinho?


Existem coisas que se tornam cotidianas para muita gente e que acabam por serem feitas como obrigações, perdendo-se gradativamente o prazer de realizá-las.

Tenho três irmãos e por toda a minha vida, minha casa tinha no mínimo seis pessoas sentadas à mesa em cada refeição. Eramos quatro filhos, pai e mãe (fora amigos e agregados que apareciam de vez em quando) e quando o casamento acabou, eu logo fiz o favor de recompôr a família com mais um membro.

Nascido Arthur, voltamos a ser seis em torno da mesa. Agora, mãe, filhos e o netinho único, que aproveitava para provar os tantos sabores desconhecidos de seu paladar.

Nesses quase trinta anos de matriarca da família, minha mãe passou por vários períodos em que se queixava do sabor de sua própria comida. E aí, era hora de mudar os temperos, descobrir novas ervas, pozinhos, cubinhos e molhos, tudo para deixar os alimentos com novos sabores e mais uma vez agradar a todos ao redor da mesa.

Quando nosso querido bebê pôde compartilhar da mesma refeição de todos, os gostos tiveram que mudar outra vez. Uma cardiopatia fez com que Arthur tivesse que se acostumar com pouco sal desde as primeiras papinhas de legumes e, assim, toda a família se adaptou ao novo sabor dos alimentos.

Foram surgindo alternativas, mais cores, mais saladas, menos gordura e menos sal. A a Mãe, mais uma vez se reinventava a frente das panelas. Algumas vezes nos aventurávamos em ajudá-la com um frango ou um molho diferente para a salada, mas nem sempre as ajudas foram muito benéficas.

Nesses meus últimos meses em Niterói, na casa de uma vovó que não gosta de chegar perto das panelas, aprendi a me aventurar mais na culinária, até porque, tenho que fazer minhas prórpias refeições quase todos os dias.

E esse momento de pensar no que se quer comer, preparar a comida e finalmente saboreá-la, nem sempre acontece com o glamour todo do programa da Ana Maria Braga.

Dá preguiça, dá muita preguiça descascar tudo, socar o alho, acertar no sal, nos temperos, pôr água pra ferver....é tudo um longo processo pra algo tão corriqueiro. Porém, comer é talvez o movimento cultural mais enraizado em nós. E para mim é um dos maiores prazeres da vida.

E foi em um desses dias que eu acordei com menos preguiça, que resolvi fazer um purê de abóbora. Como disse minha avó, eu já estava "tarada pela abóbora" há alguns dias. Paquerava ela na geladeira, esperando o momento em que resolveria comê-la.

Não tive muitos problemas com ela, já que minha querida vovó que não gosta de cozinhar, faz o favor de comprar legumes descascados, cortados, lavados e embalados à vácuo (molezinha). Lavei os pedaços de abóbora, pus na água para cozinhar e fui pensar nos temperos. Amassei o alho e escolhi a dedo os ingrediantes e a quantidade de cada um para temperar o purê.

Mistério nenhum: amassa a abóbora cozida e joga na panela com aquele refogado de temperos e azeite. Pronto!

Mesa posta, comida na mesa, fui finalmente provar o tão cheiroso purê. (Aposto que todos os vizinhos sentiram o cheiro daquele alho frito) E me senti tão orgulhosa quanto quando defendi um pênalti no handbol na escola, numa disputa entre a quinta b e a quinta c, quando eu tinha 13 anos. O purê era O Melhor purê de abóbora que eu já comi na vida!

Mesmo uma matriarca de família numerosa não acerta sempre a mão no tempero da comida, mas naquela terça-feira eu acertei.

E foi assim que só eu tive a oportunidade de provar o melhor purê de abóbora do mundo.


"É na clareza da mente
Que explode a procura do novo processo
E o que é meu direito eu exijo e não peço
Com a intensidade de quem quer viver
E optar: ir ou não por ali
A nossa primeira antena é a palavra
Que amplia a verdade que assusta
E a gente repete que quer mais não busca
E de um modo abstrato se ilude que fez"
(Oswaldo Montenegro)